quinta-feira, 19 de março de 2015

Sobre um choro que parece não ter fim

rbemsaut2002

Gosto muito de Rubens Barrichello. 

Gosto mesmo. Sempre fui fã. Chorei com sua primeira vitória, primeira vez que vi um brasileiro vencer na Fórmula 1 e primeira vez que ouvi o lendário Tema da Vitória, de Eduardo Souto Neto. 

E, naquela época, as corridas de que eu mais gostava eram os GPs de Mônaco, de Hockenheim e de Monza. O primeiro pela chiqueza do lugar. Os dois últimos, pela configuração aerodinâmica dos aerofólios traseiros. Os carros ficavam mais atraentes visualmente. 

Qual não foi minha felicidade, pois, quando vi Rubens vencer justamente em um de meus GPs favoritos, depois de tantos anos pouco rentáveis a nível de resultados para o brasuca na categoria?

Chorei com a segunda vitória do brasileiro, ocorrida num dia 23 de junho de 2002, dia em que fiquei doente de uma infecção intestinal que quase me ceifou a vida. Naquele dia, chorei tanto que agravei meu quadro.

Talvez seja difícil para quem lê este blog acreditar que eu sou fã de Rubens, já que quem me conhece e/ou lê meus textos sabe que, além de ser fã de pilotos alemães, detesto complexo de vira-latas.

Complexo de vira-latas. Fonte da qual Rubinho bebia obsessivamente.

Com o passar dos anos, aprendi muitas coisas sobre a Fórmula 1. Quando era pequeno, eu entendia muitas coisas pontualmente, mas no decorrer do tempo me interessei muito sobre a história da F1 e do automobilismo como um todo.

Mas como a época de Rubinho como piloto de ponta na categoria se confundiu com o final de minha infância e o começo de minha adolescência. Vi Rubinho vencer em uma época dominada por Michael Schumacher e a Ferrari. 

Ferrari da qual o brasileiro também fez parte, de 2000 até 2005.

Para cada vitória de Rubens, Schumacher vencia 5 ou 6.

O que deixa curiosa a última declaração de Barrichello sobre sua "rivalidade" (risos) com Schumacher nos anos 2000.

Em entrevista concedida a Rafinha Bastos no programa Agora É Tarde, da Bandeirantes, que vai ao ar nesta quinta-feira (19) Barrichello teria dito que um dos sete títulos de Schumacher deveria ser seu.

Isso mesmo. Rubens Barrichello, com mais de 30 anos de carreira no automobilismo nas costas - 19 desses na Fórmula 1 - parecia ter aprendido finalmente que deveria esquecer suas rixas com a Ferrari e Schumacher, causadas pela vergonhosa corrida na Áustria em 2002. 

Afinal, o título da Stock Car tinha tudo para por fim à sua imagem de chorão. E, por um tempo, até pôs. Barrichello fez comerciais para a Vivo, tem ido a talk shows com alguma regularidade, sempre esbanjando ótimo humor.

Mas definitivamente não esqueceu sua raiva de Michael Schumacher.


É até compreensível. Para os pilotos das outras equipes, passar 5 anos sendo coadjuvante da maior era de dominação da categoria por um único piloto não deve ser agradável.

Imaginem pra quem era companheiro de equipe desse tal piloto.

Considero Rubens Barrichello um ótimo piloto. Talvez o melhor brasileiro depois de Ayrton Senna a correr na Fórmula 1. Talentosíssimo. Competitivo. Nos treinos classificatórios, era velocíssimo. Não raro o brasileiro chegava a superar o alemão. E quando perdia, era por poucos décimos - quando a diferença não caía para a casa dos milésimos.

Mas a diferença se fazia com detalhes. Schumacher era cirurgicamente preciso, o carro era feito para o estilo de pilotagem dele (e não poderia ser diferente, afinal, ele era, de fato, o melhor piloto), ele conseguia usar de toda a potência que o carro oferecia. Mereceu cada um dos cinco títulos que ganhou pela Ferrari e definitivamente nunca precisou da ajuda de Barrichello para nada.

Inclusive, pelo que me recordo, foi o próprio Barrichello que, em 2002, precisou da ajuda de Schumi para ser vice-campeão. 

Aliás, a "rivalidade" entre os dois, alimentada por Rubens, nunca existiu. Não existe rivalidade quando um piloto se torna pentacampeão e ganha 49 vezes durante 5 anos na mesma equipe em que o outro ganha apenas nove provas no mesmo período. Nunca que os dois brigaram pelas mesmas coisas.

Schumacher sempre lutou pelo pão francês. Barrichello, pelas migalhas.

Se houvesse algum enfrentamento por parte de Barrichello, ele teria saído da Ferrari muito antes do que saiu. E teria buscado casa, comida e roupa lavada em uma equipe que lhe desse reais condições de brigar. 

A Williams estava aí em 2003. 

E ela precisava urgentemente de um piloto que pudesse fazer valer seu equipamento para enfrentar a Ferrari. Rubens poderia ser esse piloto.

Carro para ganhar o campeonato em 2003 a Williams tinha. E venceu com certa regularidade durante o ano com Juan Pablo Montoya e Ralf Schumacher. Avalie se estivesse com Barrichello, bem mais capacitado que os dois.

"Ah, mas Rubinho tinha contrato válido e não-sei-o-que".

Contratos estão aí pra serem rasgados. Vejam a briga entre Giedo van der Garde e a Sauber.

O tempo passou. Mas parece que Rubinho parou no tempo. O brasileiro, entra e sai entrevista, sempre fala dessa rixa com Schumacher. Ou da "rivalidade" que sempre alardeou aos quatro ventos que existia entre ele e o alemão. E essa história da Áustria já tem, pasmem, 13 (TREZE) anos.

Chato. Tedioso. Nem dá para ter pena.

Acho que todos aqui lembram do "Schumacher, viado!". Para quem não lembra, vou explicar. Quando a Ferrari venceu o campeonato de construtores em 2008, organizou uma festa numa boate em São Paulo para comemorar e convidou Barrichello. Durante a festa, brasileiro, provavelmente meio virado numa mistura de whisky com Red Bull (época em que ainda não havia Red Bull no cenário das grandes equipes), chamou um constrangido Felipe Massa e mais alguns amigos e começou a puxar o coro, sem o menor constrangimento: "Schumacher, viado!". Mais vergonhoso, impossível.

Repito: Gosto do Rubinho e de sua rica história no automobilismo, mas ele de fato é e sempre foi um desastre quando abre a boca pra falar. 

Pensei que sua mágoa não resistiria e que as mudanças de habitat, o acidente do alemão no começo do ano passado e o título da Stock Car jogariam providencialmente para o passado essa mágoa, que é onde ela deve ficar.

Mas falhei miseravelmente.

E, pelo jeito, parece que seus prantos não terão um fim tão cedo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário