segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Sobre arrogância

Um Hamilton soberbo e de nariz em pé: Imagem comum depois de Austin

Detesto.

Detesto gente arrogante, prepotente e que não consegue ficar feliz com o sucesso do próximo.

Nos últimos anos assumi uma postura ora indiferente, ora respeitosa para com Lewis Hamilton.

Mas ultimamente tem sido difícil manter esse tipo de atitude.

Hamilton está insuportável depois que foi tricampeão.

Tem tido delírios de grandeza, vive se comparando com Ayrton Senna.

No filme de seu tricampeonato, o inglês deita, rola e humilha os outros sem o menor pudor.

Seu companheiro, Nico Rosberg, tem sido a maior vítima.

Na antessala do pódio de Austin, palco do tri, Hamilton jogou o boné de 2º lugar a Rosberg. Cuzão. Eu teria ficado putíssimo, como Rosberg, de fato, ficou.

Autor das últimas seis pole-positions e vencedor das últimas três provas, Rosberg está endiabrado. Terminou o ano em alta e sem dar chances ao fracasso.

Em todas as vitórias de Nico, Hamilton não perdeu a chance de fazer pouco do sucesso do parceiro.

A cada triunfo do alemão, Hamilton necessitava lembrar que o campeonato era dele e que não importava "uma vitória ou outra".

Poxa, não podia simplesmente dizer "parabéns"?

Não.

Não podia.

Esse é Lewis Hamilton. O verdadeiro.

Embora resguarde certa humildade para si, não sendo um Fernando Alonso da vida, o inglês se vê como um legítimo "sucessor de Senna", que estava destinado a igualar o ídolo.

Hamilton cresceu como piloto e pessoa, mas nunca se deu exatamente bem quando teve que dividir a equipe com um piloto forte.

Nem preciso dizer o quanto Alonso era forte. A briga entre os dois fez ambos perderem o título para Kimi Raikkonen.

Rosberg, em 2014, era forte. E Hamilton sofreu para batê-lo.

Neste final de 2015, com Nico ressurgindo, Lewis antevê a possibilidade de ser incomodado pelo companheiro.

Por isso já está se armando. E tenta destruir o psicológico de Rosberg.

Aparentemente inútil, para mim.

A mente do alemão já parece estar no ano que vem.

Nico Rosberg e até Sebastian Vettel, se a Ferrari permitir, virão babando.

Então Hamilton deveria parar com essa atitude de menino que se acha a última bolacha do pacote e abrir o olho.

Ele não é o melhor piloto do grid, ele é um grande piloto com o melhor carro do grid.

E definitivamente não é um novo Senna.

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Sobre a possibilidade de amar

É possível criar uma amizade.

Passar meses cultivando uma amizade.

Diversão, risadas, momentos difíceis, desabafos, sorrisos, confissões.

Ternura.

Gostar de uma pessoa e desenvolver em relação a ela um carinho sublime, uma afeição notável e cuidadora.

Uma vontade de cuidar.

Sim, é possível.

É possível sentir atração por essa pessoa, desejá-la de uma maneira tão intensa e tão carnal que tudo o que você deseja de vez em quando é se deliciar nela.

E desenvolver uma vontade que se coloca acima de qualquer outra neste aspecto: a de dar prazer.

Sim, é possível.

É possível gostar de uma pessoa a ponto de tornar seu sorriso a razão do seu próprio viver?

Ver naquele sorriso uma luz para si próprio?

Amá-la a ponto de fazer da felicidade dela um objetivo para sua própria vida?

Sim, é possível.

Recuperei a vontade de amar, outrora adormecida e esquecida.

A vontade de ser amado e a receptividade ao carinho.

Aqueles momentos deliciosos de bobinho apaixonado.

Momentos cômicos de expressão dos sentimentos de maneiras por vezes inusitadas.

Um amor leve para tornar tudo muito gostoso, de tal forma que o tempo nunca leve.

Um amor forte para ser resiliente em relação às dificuldades inerentes a qualquer relacionamento desta natureza.

Sim, é possível.

A vontade de dar a ela uma coisa que outrora lhe foi negada, não poucas vezes. 

De redimir suas dores, suas agruras, suas tristezas.

Recuperar um pouco o apreço pela vida e pelo amor.

E querer amar e ser amada, de maneira livre, irrestrita, sem dores, sem sacrifícios.

Uma vez li que amar é ceder, mas nunca sacrificar-se.

Porque sim, é possível amar uma pessoa em todas as suas nuances e aspectos.

O amor sem sacrifícios é o norte desse relacionamento.

É a chance de ser feliz sem restrições, apenas curtindo tudo isso tranquilamente.

É possível?

Sim, é possível.

Sobre o triunfo de Rossi e a vergonha espanhola

Não gosto de Jorge Lorenzo. Nunca gostei.

Sempre o achei cuzão e boçal. Um idiota, em sumo.

E é espanhol.

"Ah, seu xenófobo!" alguns dirão.

Não. É que pilotos espanhóis tendem a serem uns cuzões mesmo. Exceção feita apenas para Carlos Sainz Jr., talvez. 

Ou talvez esse ainda não tenha posto suas manguinhas de fora.

Ele é cuzão e boçal? É um idiota, de verdade, na vida pessoal e profissional? Talvez, não.

Mas na minha cabeça e na de muitos fãs da Moto GP, ele certamente o é.

E depois de hoje, essa impressão ficou marcada na cabeça de todos. Disso, tenho certeza.

Os dois chegaram nas duas primeiras posições no pódio, é verdade.

Lorenzo conquistou seu quinto título na Moto-velocidade, sendo 3 na categoria principal, é verdade.

Mas os dois passaram por um fracasso retumbante. 



Tanto ele quanto Marc Márquez foram amplamente derrotados.

Jorge Lorenzo Marc Marquez MotoGP (Foto: Reuters)
Todos acusaram Márquez de ser complacente com Jorge Lorenzo.


O próprio Lorenzo ficou mal-falado por tentar capitalizar em cima do protecionismo do compatriota e não ver nada errado nisso.

E comemorou como se tudo tivesse sido conquistado apenas com seus esforços, ignorando completamente o protecionismo.

Lamentável.

Tecnicamente falando, o espanhol mereceu. Foram sete vitórias no ano.

Mas foi um cuzão e eu não gosto dele, portanto, foda-se.

Márquez reclamou da "falta de respeito". 

Agora deu. Quem mandou ficar atrapalhando o campeonato alheio de propósito por pura picuinha?

Se não sabe brincar, não desce pro play, parça.

Quer ser respeitado? Faça seu trabalho. Faça seu campeonato. E não atrapalhe o dos outros propositalmente.

O piloto da Honda nunca tentou sequer uma ultrapassagem a Lorenzo, o que não foi de todo surpreendente.

Eu imaginava que Marc poderia apenas escoltar o compatriota. E ele jamais faria algo que beneficiasse seu maior desafeto.


Ainda tenho algum apreço por Márquez. Comemorei seus títulos e achei bacana sua rivalidade com Valentino Rossi.

Mas achei ridículo que o espanhol, justamente a maior revelação da Moto GP pós-Rossi, tenha causado esse tipo de briga.

No pódio, ambos foram vaiados. Sim, vaiados.

Dois espanhóis sendo vaiados na Espanha.

Lorenzo só foi comemorado pela organização da prova e alguns gatos pingados na torcida, provavelmente.

O único da turma que conseguiu alguma redenção foi mesmo Dani Pedrosa.

O companheiro de Márquez na Honda tentou partir para cima de Márquez quando este não tentava nada contra Lorenzo. 

E foi prontamente repreendido pelo companheiro, que lhe tomou a posição logo depois, em demonstração clara de que estava aliviando com o compatriota da Yamaha.

O grande vencedor do dia foi mesmo Valentino Rossi.

Depois de uma punição questionável e controversa - havia imagens aéreas que questionavam a tese de que Rossi teria chutado Márquez - o italiano largou em último.

Em último, num grid de 26 motos e no travadíssimo circuito Ricardo Tormo, em Valência.

O italiano não se intimidou. Partiu para cima. 

Em 13 voltas, ultrapassou nada menos que 21 motos. 

Era nono na terceira volta, quinto na 11ª e na 12ª chegou à quarta colocação. 

Mas por lá ficou. 

Os adversários eram justamente Pedrosa e Márquez, da Honda, e seu companheiro e desafeto Lorenzo, da Yamaha, sendo as duas motos praticamente idênticas.

Era quase impossível, de fato, que Rossi conquistasse o título nessas circunstâncias.

Mas foi o maior vencedor de Valência.

Ovacionado por praticamente toda a torcida e boa parte da equipe Yamaha, Rossi mostrou, aos 36 anos, que sua carreira está longe de terminar.

Sua presença é positiva para o esporte e para os fãs.

Um grande piloto, genial, uma lenda viva. Um monstro sagrado de todo o esporte mundial.

E que não tem mais o que provar para ninguém.

Mas talvez tenha precisado provar para si mesmo, durante este ano de 2015, que ainda era competitivo o bastante para continuar.

E não se decepcionou. E não decepcionou os fãs, eu incluso.

Perdeu o título. Mas derrotou, moralmente e de maneira retumbante, o protecionismo espanhol.

 Forza, Vale! Ano que vem você ganha!