sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

Reviewzinha honesta - Desbaratando a seita masoquista do Yu-Gi-Oh do PS1


Tava aqui num dos meus hiperfocos, especificamente acerca de Yu-Gi-Oh, um dos dínamos de produção de dinheiro da Konami desde os anos 2000, que ganhou o mundo e continua sendo altamente rentável até os dias atuais com suas cartinhas altamente marketáveis.

E bem... o começo disso tudo passou por uma época um tanto quanto "obscura" para os apreciadores das cartinhas, especialmente com as regras do card game... ou deveria dizer a ausência delas. Tudo reforçado pela 1ª temporada do anime, distribuída aqui no Ocidente pela 4kids. Praticamente sem regras, você podia invocar o que quisesse sem sacrifícios e tal... bagunçava a cabeça de qualquer um que conhecesse um mínimo da estrutura do TCG e suas regras.

E é aqui que entra o jogo. Forbidden Memories tem regras super similares às do arco do Reino dos Duelistas (tbm conhecida como a saga do Pegasus). Nostalgia do caralho, épico, marcou minha infância, super jogão pra se divertir e passar horas farmando cartinhas pra derrotar os bosses finais e ganhar o jogo, um dos melhores jogos do PS1...

Blá, blá, blá.

Mas pera... "um dos melhores jogos do PS1"? Sério?

É... menos, bem menos.

Bom, quase nada disso é totalmente mentira, mas criou-se uma mística sobre esse jogo, sua "qualidade" e sua dificuldade, mística essa simplesmente inconcebível para quem tem um mínimo de critério sobre o que é uma boa dificuldade.

De fato, qualquer um que experimente Forbidden Memories por 1 ou 2 horas vai descobrir que o jogo é realmente divertido e intuitivo. As inúmeras cartinhas (722 no total) faziam o game ter uma imensa variação de estratégias possíveis, com uma boa variedade de monstros, cartas mágicas, armadilhas e rituais. O sistema de fusões é super legal, fazendo com que você passe um bom tempo aprendendo as fusões mais eficazes e as que podem decidir um duelo (é claro que todo mundo fatalmente acaba tendo que juntar dragões e trovões para formar trezentos e quarenta e seis "Twin-Headed Thunder Dragon" durante os duelos, mas enfim). A trilha sonora era muito boa, apesar de proporcionar uma sensação de repetitividade com o tempo, e a jogabilidade é o que se espera de um jogo de cartinhas, sem nada fora do lugar. Tinha também um sistema de Guardian Stars, que só depois de velho eu fui aprender como funciona, porque o jogo não dá nenhum indicativo de como funciona (mas deveria). Tinha também cenas dos monstros batalhando entre si, e os gráficos dos monstros eram até bonitinhos para os padrões do Playstation.

Forbidden Memories é sim super divertido enquanto você não percebe a encrenca onde está se metendo. Mas depois que você percebe, se depara com um dos jogos mais frustrantes e injustos não apenas do console, mas também da história dos videogames como um todo. O jogo é completamente desbalanceado, com oponentes geralmente muito mais fortes do que você, sacando cartas melhores em boa parte da gameplay e muitas vezes virando o jogo inadvertidamente. Isso até poderia ser divertido se o jogo não tivesse também um sistema de grinding absolutamente frustrante. A cada duelo, você ganha uma carta e ela pode ser muito boa, boa ou medíocre. E tudo isso vai depender de como você duelou. O problema é que muitas vezes pode vir a repetir cartas nesse processo, e isso vem a causar uma repetição que, com o tempo, cansa e frustra o jogador. AO. MESMO. TEMPO.

Perdeu um duelo no modo campanha? Game over e pau no seu cu. É simples assim. E você que se lasque para tentar conseguir cartas novas duelando literalmente MILHARES de vezes no Free Duel. E para conseguir certos tipos de cartas, tais como Spell e Traps, você precisa obter a avaliação S-TEC, que é ainda mais trabalhoso e demanda mais repetição ainda. Detalhe: o drop não é garantido. Algumas cartas são simplesmente impossíveis de conseguir sem GameShark.

O resultado disso tudo é que Forbidden Memories pode até não ser um jogo efetivamente RUIM e completamente esquecível, mas é com certeza um jogo de público extremamente específico. Contudo, como o anime fazia um sucesso estrondoso na época, não era difícil encontrar quem jogasse esse jogo na época (vinte anos atrás). E hoje, não é tão difícil encontrar quem diga que esse jogo provoca uma nostalgia imensa, que era épico e coisas afins - mesmo que não jogue mais. Evidentemente, o nicho de pessoas que realmente joga Yugioh FM até hoje é proporcionalmente reduzido, por dois motivos meio óbvios: primeiro, é um jogo de 20 anos e não era o mais popular do console nem mesmo em sua época; segundo, pela própria natureza excludente do jogo, que expurgava rapidamente qualquer jogador casual. Via de regra, são pessoas que vão defender que o jogo seja assim porque é apenas para jogadores raiz, que não são como os nutellinhas que apelam para Save-State ou GameShark. Defenderão isso com um comportamento quase que de seita.

E é claro que se você é um cara como eu, que faz uma review falando sobre o eterno e épico Yugioh do PS1 explicando os motivos de ele não ser um bom jogo, a seita corre para defender com unhas e dentes. Já prevejo os comentários de "você é um frustrado que nunca zerou o game e por isso fica dando hate" e "alá o cara que não tem peito pra zerar o jogo na raça" vindo de pessoas que parecem ainda acreditar que estão na infância, onde jogar um jogo de videogame era a única coisa que se podia fazer no tempo livre porque criança não tem mais o que fazer. Vão até debochar de mim dizendo que eu tenho tempo livre o suficiente pra escrever esse texto. Não falha.

E isso tudo triplica quando vamos falar dos temidos mods de FM. Projetados para aumentar a vida útil do original - que já era grande, pela própria natureza do jogo - eles modificam as cartas, efeitos, história e até a dificuldade do jogo, eles pegam tudo o que tornava o jogo original excludente para casuais e multiplicam. Isso varia de mod para mod, mas o fato é que muitos deles simplesmente tornam o jogo mais difícil, com oponentes mais fortes desde o começo da campanha, fusões mais complexas e requisitos de QUANTIDADE de vitórias no Free Duel para liberar um Drop Rate de carta, ou seja, você é obrigado a duelar X vezes contra um personagem apenas para liberar a chance de receber uma carta específica após o duelo. Alguns requisitos chegam a centenas, MILHARES de duelos. E como toda dificuldade parece ser endeusada pela seita, é claro que se você reclamar disso, você é Nutellinha que quer moleza. 

Como se o jogo original já não fosse lazarento o suficiente nesse aspecto.

É claro que não são todos. Felizmente há gente sensata que entende os problemas de repetição do jogo e faz mods que ajudam a torná-lo menos cansativo e frustrante, tais como os mods de drops, que fazem você ganhar mais cartas por duelo, aumentando suas chances de conseguir um bom deck em menos tempo. E como a dificuldade pouca é bobagem para a seita, os mods de drop são frequentemente criticados; "tiram a essência e a dificuldade do original", esbraveja a seita.

Não estou dizendo que não gosto de Forbidden Memories. Ele foi, em muitos aspectos, um teste para as ideias de Kazuki Takahashi em relação ao que veio a ser o mangá de Yu-Gi-Oh, especialmente no arco das Memórias do Faraó. E é um jogo divertido para quem resolve aceitar suas imposições injustas e dificuldade absurda e entrar de cabeça.

Mas não, ele não é um bom jogo.

E só pra dar uma provocada: Duelists of the Roses é melhor.