quarta-feira, 11 de março de 2015

Sobre tapetões e devagardes - Parte 2

Sim, esse post vai ter uma segunda parte.

Porque, no final das contas, dois dias depois do primeiro texto, ele já parece tão incompleto quanto injusto em relação à conjuntura global dos fatos que envolve o imbróglio Giedo van der Garde vs Sauber F1 Team.

Depois de ler várias coisas a respeito - inclusive ótimos e esclarecedores textos do excelente Joe Saward, acabei sendo impelido a escrever mais algumas linhas, a fim não só de esclarecer as coisas de forma mais clara para meus leitores, mas para organizar melhor minhas ideias sobre este problema, a fim de não enlouquecer, como é costumeiro nos fóruns de discussão das redes sociais.

E sim, minha opinião adquiriu um tom diferente da anterior. É sempre bom quando suas opiniões podem ser revistas e melhoradas.

Vamos por partes, como diria Jack the Ripper.

Giedo van der Garde tem o direito de correr? Sim, pelo que a corte australiana decidiu. Ele entrou nesta contenda muito bem armado, com os papéis em dia para reivindicar a vaga.

O piloto holandês reivindicou a vaga uma semana antes do GP da Austrália, para impelir a corte de Victoria (da qual Melbourne, palco do GP, é capital) a uma decisão urgente.

A Sauber, por sua vez, foi ao julgamento com seus representantes, além dos atuais pilotos titulares, mas apresentou uma defesa pífia: apelou para um suposto risco à vida de Van der Garde caso ele corresse, pois não era familiarizado com o C34, preparado para Felipe Nasr e Marcus Ericsson.

O argumento, obviamente, não se sustentou, visto que, apesar de não conhecer o carro, o holandês não havia desaprendido a pilotar um F1, tendo sido reserva da equipe em 2014 e tendo feito uma preparação física extraordinária nos últimos meses.

Tudo isso levou a crer que o piloto, de fato, tinha em mãos um contrato, assinado pelas duas partes, que lhe garantia a vaga, mediante a entrega de um aporte financeiro que ele, de fato, trouxe. A Sauber nega, mas não apresenta uma prova em contrário. Miga, assim fica difícil te defender.

Diante disso tudo, a Corte de Victoria não teve outra escolha a não ser dar ganho de causa a Giedo van der Garde, que terá que receber um carro da equipe helvética para correr neste ano.

Não importa muito quem sairá para dar lugar a ele, se é o brasileiro Nasr ou o sueco Ericsson. Nem mesmo para o holandês van der Garde isso importa. "Não é problema meu", disse, provavelmente com toda a arrogância que pôde reunir.

O holandês ganhou, mas não vai poder pilotar neste final de semana, por não ter a super-licença para correr. Se ficar fora do GP da Austrália, pode muito bem arranjar o documento antes do GP da Malásia, segunda etapa do campeonato (o processo para obtenção da carteira dura duas semanas, pelo que li por aí), a menos que a FIA resolva bater o pé em represália aos constrangimentos públicos tão evidentes envolvendo um time da Fórmula 1.

O fato é que a Sauber se meteu numa enrascada, que pode deixar seu futuro na Fórmula 1 num perigo mortal. Van der Garde dentro, sairá um dos dois pilotos titulares atuais. Tanto Felipe Nasr quanto Marcus Ericsson depositaram uma quantia de aproximadamente R$ 40 milhões de reais (sendo que Nasr trouxe o patrocínio do Banco do Brasil consigo). E um dos dois sairá bastante insatisfeito. Se for o brasileiro, pior ainda. Fará bem mais barulho que o sueco, muito provavelmente.

ATUALIZAÇÃO (23h34): Segundo informações do jornalista Luís Fernando Ramos, a Sauber teria apresentado um argumento que pode minar o ganho de causa de Giedo van der Garde. Segundo o advogado da escuderia helvética, havia de fato um contrato entre as duas partes, mas foi rasgado pela Sauber por quebra de confidencialidade. O piloto holandês teria dado uma entrevista em fevereiro, revelando o entrave com o time suíço.

Uma coisa é certa: A história não terminará NADA bem para o time de Hinwill. Fizeram merda e sabem disso. Qualquer coisa que vier terminará mal para eles. Dispensar Nasr ou Ericsson acarretará em nova disputa judicial.

Tudo isso pode acabar com a sobrevida de uma das poucas equipes garagistas remanescentes na Fórmula 1.

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