segunda-feira, 31 de outubro de 2022

X-MEN 3: O CONFRONTO FINAL (2006) - RESENHA CRÍTICA


Escrevo esta resenha crítica em meio ao dia mais importante da história política recente do país e eufórico após uma vitória política para mim e alguns de meus chegados, o que é no mínimo inusitado. Comemorar enquanto escreve um texto sobre um filme? Bom, cada um tem sua forma de aproveitar um momento e esse talvez seja o meu.

Isso, obviamente, não salvará "X-Men 3" de levar uma boa surra, pois vou adiantar logo, este filme é ruim pra cacete e eu me envergonho de um dia ter dito para alguém que gostava dele. Sim, eu gostava muito pelos idos de 2014. Mas nos últimos anos eu acabei desenvolvendo um olhar um pouquinho mais sofisticado para cinema, capaz de entender textos com mais nuances narrativas.

Mas antes de começar a falar mal desse filme, acho que é justo compartilhar aqui a minha opinião num geral sobre os X-Men como grupo de heróis e a franquia X-Men no cinema até antes desse projeto ser lançado. Eu goto bastante desta super-equipe e de como ela sempre teve um papel de vanguarda no que diz respeito a discussões políticas neste ambiente de cultura pop e quadrinhos, e eu gosto muito mais e me identifico com eles do que, por exemplo, os Vingadores, que se tornaram muito famosos nos últimos dez anos. Não à toa, depois do Homem-Aranha, o meu personagem favorito da Marvel Comics é o Magneto, que é um excelente personagem e que muitas vezes transcende o papel vilanesco atribuído a ele, tanto nos gibis quanto nos filmes.

"X-Men" foi um baita de um filme, que praticamente inaugurou o grande esquema das coisas no que diz respeito a blockbusters de super-heróis, reunindo um elenco de altíssimo peso e consagrando Hugh Jackman como um dos grandes astros do cinema blockbuster desde então. OK, tecnicamente falando, "Blade" (1998) foi o longa que oficialmente começou a parada toda, mas não há como ignorar que o diretor Bryan Singer estabeleceu um parâmetro para o cinema de franquia de super-heróis, que por sua vez foi posteriormente lapidado por gente Kevin Feige no Universo Cinematográfico da Marvel. Feige, aliás, é produtor de praticamente todos os filmes com personagens Marvel desde "Blade". X-Men 2, por sua vez, é uma continuação sólida que não apenas dá continuidade ao primeiro de maneira satisfatória, mas também expande a discussão sobre tolerância e respeito às diferenças de maneiras até bem pertinentes. E é uma boa adaptação do quadrinho "Deus ama, o Homem mata", de Chris Claremont. E posso dizer que o visual do Magneto nessa trilogia é o meu favorito de todas as representações do personagem em qualquer mídia: elegante, poderoso, um verdadeiro lorde nas ações e nos trejeitos do ator, Ian McKellen, que transborda carisma.

Já o filme sobre o qual falaremos... bem, ele tem uma produção complicada. O diretor Bryan Singer se ausentou do projeto para dirigir "Superman - O Retorno" e deixou a batata assando nas mãos de Brett Ratner, um diretor bem questionável, mas que fez um trabalho até decente em filmes como "Red Dragon" de 2002 e a franquia "A Hora do Rush" (até o segundo filme), mas também produziu a BOMBA chamada "Dragon Ball Evolution". E bem, importante mencionar que depois ele foi acusado de assédio sexual por pelo menos duas atrizes. Portanto, é importante frisar que estamos aqui falando de um vagabundo oportunista e criminoso sexual.

A trama é a seguinte: Magneto está à solta após os eventos de X-Men 2 e continua empenhado em criar um exército de mutantes para dar um sacode na humanidade. O governo dos EUA encontra um garoto capaz de anular e suprimir os poderes dos mutantes e o utiliza para criar uma cura, contra a qual Magneto e seu secto busca se opor. Jean Grey reaparece como a entidade da Força Fênix e se torna uma ameaça para mutantes e humanos, e Wolverine enfrenta um dilema emocional entre o amor que sente por Jean e o provável desfecho no qual ela talvez deva morrer. O cientista responsável pela cura é pai de um mutante que acaba se tornando o Anjo (personagem da equipe original dos X-Men de 1963) e os dois possuem uma rusga mal resolvida, na qual o pai quer suprimir seus poderes, mas o filho quer viver sua própria vida abraçando esses poderes (uma alusão nada sutil a gays saindo do armário, o que não é nada ruim no mérito, mas é bem descompensado na forma). 

Logo de cara, importante notar que o filme é ABARROTADO de tramas e subtramas. Trama demais é sintoma de quê? Isso mesmo, roteiro mal escrito. Muita coisa acontece a todo momento e o roteiro corre demais durante todo o tempo da projeção, eliminando completamente a amplitude dramática. Algumas das tramas são praticamente desligadas do grande esquema do roteiro e não fariam falta alguma se fossem retiradas, é o caso do arco do Anjo e o da Vampira, o que é profundamente lamentável. A direção de Ratner é incompetente e não consegue atribuir nenhuma amplitude dramática a nenhuma das tramas que tenta desenvolver. O material desta sequência já não é muito bom e o diretor não ajuda, desperdiçando MUITO o potencial do elenco que tinha à mão, quase como se ele estivesse fazendo o filme nas coxas e sem muita paciência para dirigir atores. A prova disso é que temos personagem descaracterizado, peronagem subaproveitado, personagem jogado para debaixo do tapete sem mais nem menos... Porra, cadê o Noturno? Ele foi uma das melhores adições à franquia em X-Men 2, com cenas de ação excelentes e um arco dramático convincente... por quê? E aí colocaram no lugar um Múltiplo (Eric Dane) que não fede nem cheira e um cosplay mal-feito do Fanático (Vinnie Jones). O "confronto final" que dá nome ao título do filme é completamente insosso e sem emoção alguma.

As atuações são o que tornam esse projeto suportável de assistir até o fim. O elenco faz o que pode com o que tem em mãos. Hugh Jackman e Halle Berry estão bem, James Marsden está OK e Famke Jamsen faz o que pode com o péssimo script de Jean Grey/Fênix que ela recebe para atuar. E claro, o carisma e personalidade de Patrick Stewart (Professor Charles Xavier) e Ian McKellen (Erik Lehnsherr/Magneto), que são dois atores tão fodásticos que conseguem ter uma baita presença. Embora o personagem de Magneto seja completamente descaracterizado nesta sequência em uma cena tão ruim que me deu câncer, onde ele deixa uma aliada (Mística) para trás sem mais nem menos, LITERALMENTE após ela salvar sua vida, apenas porque ela perdeu os poderes mutantes, o que é um completo desserviço ao personagem de McKellen. É simplesmente terrível de tão ruim, e a Mística some completamente do filme, aparecendo depois praticamente apenas como uma nota de rodapé muito safada que o filme usa só para dizer que não a esqueceu. Uma boa adição aqui é a personagem da Kitty Pride (da ótima Ellen Page, que havia feito MeninaMá.com e que hoje é um homem transgênero, tendo mudado o nome para Elliot), que faz um bom papel como a Lince Negra.

Aliás, vale destacar um período específico para a Vampira: é inacreditável o potencial desperdiçado da personagem de Anna Paquin durante toda a franquia, que é uma crítica recorrente entre os fãs e a própria atriz sempre se sentiu incomodada. A personagem nunca teve uma agência muito preponderante nos filmes de Singer, mas parece que Brett Ratner odeia de verdade essa personagem. Ela tem todo um dilema pessoal com a questão da cura mutante e o filme pinta isso como algo relevante, mas ela DESAPARECE do filme no terceiro ato e aparece depois de tudo resolvido, apenas como nota de rodapé, ao mesmo estilo da Mística. Eu lamento profundamente que esse tenha sido praticamente a última vez de Vampira no cinema. Paquin fez uma participação em X-Men: Dias de um Futuro Esquecido, que foi cortada da versão que foi para o cinema).

Não tenho mais nada pra dizer, esse filme é uma zona de tão ruim e só não é o pior da franquia original porque "X-Men Origens: Wolverine" existe. 

Nota: 3,0