quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Sobre ruindades e desilusões


Nos últimos meses eu estive conversando sobre alguns amigos e prestando atenção em alguns conteúdos.

Em especial, um assunto me interessou muito: A franquia "Cavaleiros do Zodíaco".

Desde pequeno sempre fui muito fã dos Cavaleiros. Tive minha fase de achar o animê/mangá muito bons, divertidos e tudo o mais.

A bem da verdade, ainda acho CDZ divertido em alguns momentos. Vira e mexe re-assisto e bate aquela nostalgia.

Mas a medida que o tempo passa, você vai conhecendo outras coisas. Outros animes e mangás, e até obras do mundo ocidental.

Na verdade, foi tudo o que não faltou nas épocas subsequentes à febre de Saint Seiya, principalmente com o advento da internet. 

A febre do download, dos animês em RMVB, do Real Alternative/Real Player/Não-sei-o-que-player/XP Codec Pack... 

Tudo isso democratizou de forma nunca antes vista o acesso a todo tipo de conteúdo de um modo geral, mas em particular diferentes tipos de animê.

E surgiram muitos. Alguns de qualidade excelente, como o aclamado Full Metal Alchemist, Death Note, Bleach etc.

De modo que é consenso entre alguns amigos a seguinte coisa: É impossível gostar de Cavaleiros do Zodíaco se você começa a assistir depois de velho.

Ou, na pior das hipóteses, improvável.

É difícil ver Cavaleiros do Zodíaco com os mesmos olhos infantes e brilhantes a medida que você cresce. Se você consegue manter o mesmo brilho, provavelmente é pela nostalgia, mesmo.

Como se não bastasse, é consenso entre os fãs de animês e de conteúdos similares que Cavaleiros do Zodíaco perdia fortemente em qualidade para obras como Rurouni Kenshin (Samurai X), YuYu Hakusho, Slam Dunk, Dragon Ball, Gundam, Inuyasha, One Piece, Evangelion, ...

Sem mais delongas, eis aqui o que eu acho. 

Cavaleiros do Zodíaco é ruim. 

O traço do mangá (consequentemente do autor) é ruim.

O que salvou o animê foi a ótima arte de animação de alguns desenhistas da produtora, Toei Animation, pois o design das armaduras em Kurumada era simplesmente patético.

A história é fraca e repetitiva. 

Os diálogos são quase sempre trocas de discursos apaixonados e grandiloquentes, que por vezes chegam a ser entediantes. 

As lutas, salvo raras ocasiões, perdem o ritmo por isso. Isso sem falar no péssimo desenvolvimento da história. 

As doze casas até que empolgam. Asgard, a saga Filler (considerando o propósito de um filler em animês, encher linguíça) pasmem, é uma das melhores junto à primeira. 

Já Poseidon e Hades... Tsc. 

Se você não for tomado pela nostalgia ao ler esse texto, provavelmente é a essa conclusão que irá chegar.

E, nisso, dá pra entender quando se vê gente que diz que assistiu Cavaleiros do Zodíaco depois de velho e não conseguiu gostar. 

Mas nem tudo pode ser só pancada. Masami Kurumada teve lá seus méritos.

O autor teve lá seus méritos na elaboração dos Cavaleiros de Ouro, que foram muito fieis aos seus signos, cada um bem alinhado com sua respectiva personalidade, em acordo com o horóscopo ocidental.

Mas mesmo assim, os aproveitou de maneira lamentavelmente ruim.

Aldebaran de Touro, um dos favoritos dos fãs, tem participações pífias em momentos importantes.

Que o digam os fãs de Máscara da Morte de Câncer e Afrodite de Peixes.

Em compensação às besteiras de Kurumada, alguns autores dignificaram a franquia com ótimos títulos, como o aclamadíssimo Saint Seiya: Lost Canvas, de Shiori Teshirogi e o Episodio G, de Megumu Okada. 

Menção honrosa para o recente Saintia Sho, com lindíssimos traços. 

Humilhação maior para Kurumada, impossível.

O autor, em resposta ao implacável sucesso de Lost Canvas, começou a fazer, de forma esporádica, a continuação da Saga de Hades, reescrevendo por cima da história de Shiori Teshirogi.

Não desceu bem. 

A história continuava ruim, e era uma mistureba de Guerra Santa contra Hades com Batalha das Doze Casas.

E os traços, coitados, foram uma prova que nada é tão ruim que não possa ficar pior.

Enfim, o resto vocês já devem supor só de pensar em algo feito por Kurumada.

Ainda na intenção de pegar carona no sucesso de Lost Canvas como um excelente produto, o autor produziu o novíssimo Soul of Gold neste ano.

E finalmente alguma coisa razoável sobre Cavaleiros do Zodíaco apareceu.

Bom aproveitamento dos personagens, desenrolar interessante, divertidinho.

Mas ficou claro para qualquer um que Kurumada copiou, na maior cara de pau, a essência de The Lost Canvas.

A atuação dos personagens, o enfoque nos Cavaleiros de Ouro, suas personalidades, a importância que cada um tem no desfecho da história, tudo.

Não adianta dizer que Kurumada "não copiou" pelo fato de ele ser o autor original de Saint Seiya. 

Os personagens originais e história, obviamente, são dele, e ninguém mais credenciado - em termos legais - do que o próprio autor original para fazer qualquer tipo de conteúdo relacionado.

Refiro-me à tônica da nova série. Muitíssimo similar à história de Shiori Teshirogi.

O recalque do "Mestre Kurumada" não tem limites.

Falando nisso, lembram do filme "Lenda do Santuário", lançado no ano passado?

Pois é. Investiram rios de dinheiro num filme cheio de CGI, porém horroroso em roteiro. As críticas, obviamente, foram gigantescas. 

Entre os fãs da série clássica, houve até uma fúria desmedida sobre o pobre Hermes Baróli, dublador do Seiya de Pégaso, por este ter dito que o filme era o "melhor produto já lançado sobre Saint Seiya".

Verdade seja dita: foi de fato a mais deslumbrante apresentação de qualquer tipo de conteúdo relacionado a Cavaleiros do Zodíaco. Nisso, Hermes estava certíssimo.

Mas foi uma das mais lamentáveis. O filme foi ruim. Arrecadou pouco dinheiro e foi exibido em apenas 9 ou 10 países ao redor do mundo, salvo engano.

Para que se tenha ideia do prejuízo, uma livre comparação com o mais recente filme de Dragon Ball, "Fukkatsu no F", mostra que o filme da franquia de Akira Toriyama foi muito mais barato e teve maior alcance e bilheteria.

Quem quiser apurar os dados, pode encontrar as bilheterias aqui (LoS) e aqui (FnF).

Enfim, falei em demasia.

Não precisam nem concordar com estas palavras. Pensem no diálogo a seguir e façam o exercício de raciocínio.

- Estou derrotado... Não tenho mais forças para me levantar. Estou perdido. Meu corpo está todo ferido. Esse deus é muito poderoso. Mas eu preciso continuar lutando. Por Atena. Saori está me chamando. SAORIIIIIII! 

- O que?! Como é que ele pode estar se levantando se estava quase morto há pouco?!

- Enquanto meu cosmo estiver aceso, meu corpo continuará a se levantar!

- Seu cosmo ainda não se apagou?!

- Sim, meu cosmo continua aceso! Agora queime cosmo! Só mais uma vez, queime até o infinito! Atinja o sétimo sentido, a força máxima dos cavaleiros!

- O sétimo sentido?! Não pode ser, seu cosmo está aumentando cada vez mais e mais!

- Sim, o sétimo sentido! Agora vou te derrotar com meu golpe mais poderoso!

- O que?! Seu golpe mais poderoso?!

- Sim, este é meu golpe mais poderoso! METEORO DE PÉGASO!!!

...

...

God is dead.

Esse diálogo é hipotético, mas não se afasta muito da tônica grandiloquente dos diálogos de Cavaleiros do Zodíaco.

O que, por si só, já faz com que a ação presente no desenho seja pobre.

Afinal, quem gosta de discursos enormes para um golpe que dura um segundo?

Podem refletir sobre isso à vontade.

Uma coisa, a meu ver, é certa: Saint Seiya é um shounen que não convence enquanto ação. E não convence mais ninguém.

Um comentário:

  1. CDZ do Kurumada:
    http://imgc.allpostersimages.com/images/P-473-488-90/65/6546/MCL4100Z/posters/ecce-homo-botched-restoration.jpg
    CDZ do Lost Canvas:
    https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/b/b7/Elias_Garcia_Martinez_-_Ecce_Homo.jpg/180px-Elias_Garcia_Martinez_-_Ecce_Homo.jpg

    Ou seja, foi o Ecce Homo reverso.

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