quinta-feira, 11 de julho de 2019

Sobre a pelega da vez

Vamo aqui discutir um pouco sobre a Tábata Amaral. Esse é um assunto complicado e que tem gerado MUITA discussão em grupos de esquerda, com foco político-partidário ou não.

Tábata tem origem humilde. Os pais se sacrificaram para que ela pudesse ter uma vida estudantil digna. Ela correspondeu. Credenciou-se em Harvard. Teve uma notável exposição pública em uma bem-humorada discussão sobre astrofísica com Ciro Gomes durante uma palestra do político. Dali em diante ficou meio que implícito que ela seria "pupila" de Ciro.

No ano passado ela foi eleita deputada federal por São Paulo. Aparentemente alinhada com as ideias progressistas e o nacional-desenvolvimentismo de Ciro, ela parecia ser o sintoma - e a esperança - de uma renovação na classe política e uma dialética saudável para a esquerda. E no começo do ano até parecia que seria assim. Tábata deu uma histórica surra no então ministro da Educação (?) Ricardo Vélez Rodriguez, ao questionar sua capacidade de comandar a pasta da qual era líder. E vinha travando bons debates pela educação no congresso antes disso...

Só que... de maio pra cá as coisas tem começado a ficar mais claras sobre o tipo de política que Tábata está fazendo. Confraternizações com políticos de viés totalmente oposto ao que deveria ser o dela (pelo menos até então com o que nos era apresentado por ela), elogios a ela dirigidos pelo MBL e sobretudo a foto com João Dória, governador de São Paulo, indicavam uma aproximação da jovem política com a oposição chapa-branca do congresso, quando não com os interesses do bolsonarismo.

Certa parte da esquerda, que já não ia com a cara de Tábata devido ao alinhamento com Ciro Gomes e com a falta de maior contundência em relação aos desmandos do governo, despirocou de vez com uma declaração muito ambígua da deputada sobre os cortes de Abraham Weintraub na educação. 

"Não estou criticando ele por estar cortando das universidades, estou criticando por estar cortando sem nenhum critério, por razões ideológicas" Aqui, Amaral deixa implícito que, em sua visão, há cortes que poderiam ser feitos na educação, fora da esfera ideológica.

Ali, a esquerda já ficou nas tamancas com a jovem deputada. Mas no Brasil de Bolsonaro, nada é tão ruim que não possa piorar. Esta semana, a reforma da previdência está sendo votada, e muito foi discutido sobre a reforma ao longo desses meses. É consenso entre progressistas (incluindo o próprio Ciro Gomes) e pessoas de esquerda como um todo que a reforma vai prejudicar as pessoas mais pobres, que dependem da previdência para ter uma aposentadoria minimamente digna.

E, claro, um dos pontos de interesse mais importantes da repercussão deste tema no congresso nacional seria o posicionamento de Tábata Amaral nessa história. Ela seria contra ou a favor?

Pois é... Sabem do que mais? 

Ela foi a favor.

Ameaças de expulsão do PDT, às quais se juntaram pedidos de Ciro Gomes de que ela não o fizesse, de nada adiantaram.

Aqui, Tábata oficializou a quebra de qualquer vínculo que pudesse ter com a esquerda ou mesmo o progressismo. E tudo a troco de quê? De "convicção"? De achar que está fazendo o "melhor pelo país"? Votar por essa reforma que prejudica o povo mais pobre e trabalhador porque "ain vai de encontro a tudo o que eu estudei"?

A esquerda fez muito bem em criticá-la e o PDT fará igualmente bem ao expulsá-la se o fizer.

"Ain mas isso não é democracia? Ela agora é traidora porque votou de acordo com suas próprias convicções?"

Democracia é uma delícia mas tem certos custos, já disse um certo político. Democracia também permite a organização de ambientes político-ideológicos nos quais é de bom tom e bom senso manter cumplicidade de pensamento num nível saudável e sem discordâncias pivotais. Isso se aplica, por exemplo, a sua bolha ideológica de redes sociais. Em geral, se você é de esquerda, você não tolera bolsominions fascistoides, certo? E nem precisa. O mesmo vale pra manifestações de rua e, pasmem, partidos políticos.

Ora, o que você acha que acontece se numa manifestação da direita aparece um tio chato que nem o Arthur do Mamãe Falei tumultuando o evento e causando comoção nos presentes? Pois é. Entendeu porque é bom senso manter o mínimo possível de contraditório neste tipo de ambiente? 

Então assim. Ninguém quer manter as coisas acirradas e polarizadas. Mas certos ambientes políticos estabelecem regras de convivência, sejam estas explícitas ou não. No caso de uma manifestação de rua, é um tanto quanto implícito. Com partidos políticos isso já é explícito.

Considerando, pois, o espectro político no qual era presumível que Tábata estivesse - pelas próprias escolhas políticas da deputada antes de ser eleita - o fato é que ela cagou no pau.

É como se um político do PT tivesse feito um puta estelionato eleitoral e... Ops, pera. Que sensação de deja vu.

Então um partido político expulsar uma deputada por não ter respeitado a sua orientação a respeito do voto sobre uma matéria na Câmara não é algo antidemocrático. É apenas coerência com as regras e valores do próprio partido. Aceitem que dói menos. O PDT estará em seu direito se o fizer. Se você não se alinha com as diretrizes políticas do partido no qual se filiou, você está passível de expulsão, e isso faz parte da democracia. O pluripartidarismo está aí pra isso.

Quanto a Tábata... Querida, um conselho: Se é pra se alinhar com as políticas destrutivas deste governo, se antecipe à expulsão e saia do PDT. Abrace-se definitivamente com Doria e o MBL, que te receberão de braços abertos na direita liberal.

A esquerda já te sacou de maneira definitiva.

Beijos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário