domingo, 7 de julho de 2019

Sobre o pior melhor piloto 2 - A vingança de Midas

Na real, eu não pretendia fazer outro "textículo" sobre Fernando Alonso.

Achava que tudo naquele texto era totalmente suficiente para falar das agruras do espanhol.

E nem achei que seria necessário falar sobre a passagem de Fernandinho pelo WEC.

Mas sabe como é a vida não é? Às vezes há coisas que você precisava fazer mas não sabia.

À luz de novas informações, achei que deveria fazer alguns acréscimos ao conteúdo daquele texto.

Como já é de conhecimento de todas e todos, o "samurai" Alonso foi se aventurar em terras distantes da Fórmula 1 nos últimos dois anos.

Já em 2017, quando ainda era piloto da McLaren em tempo integral, decidiu participar das 500 milhas de Indianápolis.

Como a corrida estadunidense acontecia no mesmo dia do GP de Mônaco, alguém tinha que brincar no parquinho no lugar de Fernandinho.

Para tanto, Jenson Button saiu da pescaria e foi mijar na McLaren do espanhol.

Naquele dia, Fernando fez uma corrida inspirada após largar da quinta colocação. Chegou a liderar, disputou roda com roda com os melhores da Indy.

Poderia até ter ganho.

Mas o motor Honda, sempre ele, cansado de guerra, aprontou das suas. A 22 voltas do fim, abriu o bico e deixou Alonsito a pé.  Foi por pouco.

Contudo, foi mais uma pá de cal sobre a relação turbulenta entre o espanhol e a fabricante japonesa.

Alonso já estava de saco cheio da Honda. Nunca fez questão de esconder ou amenizar este sentimento público. Desde 2015 já havia sido assim.

No final daquele ano, McLaren e Honda acabaram prematuramente com o acordo, em grande parte por influência de Fernando.

A Honda foi para a Toro Rosso em 2018 com vistas para a Red Bull em 2019. A McLaren adotou motores Renault - a fabricante francesa ficaria no time das latinhas apenas mais um ano, 2018.

Em troca, a Renault ficou com Carlos Sainz "emprestado" da Toro Rosso até o final daquele ano - Sainz foi para a McLaren em 2019.

Pode parecer meio prolixa essa parte do texto, mas tem uma justificativa...

Já pararam pra pensar no tamanho da reação em cadeia provocada nas equipes de Fórmula 1 apenas porque Alonso não quis mais a Honda na McLaren?

Em última instância, ele movimentou equipes e pilotos que, em tese, eram estranhos (ou talvez devessem ser) ao seu poder de influência.

O objetivo? Mudar de motor e mandar a Honda pr'aquele lugar.

Mas calma... Quando se trata de Fernando Alonso e relações humanas em equipes, nada é tão ruim que não possa piorar.

O ano era 2018. Fernandinho, decidido a conquistar a tríplice coroa do automobilismo, já tinha em sua mira a próxima tentativa: ganhar as 24 horas de Le Mans.

Então, ele assinou contrato com a Toyota para disputar o WEC, no que ficou conhecido como "Super-Temporada", um campeonato de dois anos que teria nada menos que oito corridas.

Entre elas, duas edições da histórica prova no Circuit de la Sarthe.

Até aí, tudo bem. Só que... a Toyota seria a única fabricante no torneio entre os LMP1, ao passo que a Porsche abandonou a brincadeira.

O motivo? Foco nos carros elétricos e um programa na Fórmula E. AMercedes está seguindo os mesmos passos.

Mas beleza... Haveria alguma disputa com os LMP1 na categoria, uma vez que ainda havia os LMP1 privados, certo?

É... Não.

O regulamento da Super Season 2018-19 contava com um bizarro "sistema de penalizações".

Com esse sistema, os LMP1 não-híbridos, das equipes privadas, seriam punidos se tivessem rendimento superior à Toyota, único time com carros híbridos.

A justificativa? Para os organizadores, era virtualmente impossível um LMP1 privado ser mais veloz que a Toyota sem "trapaças".

Não colou. Todos criticaram na época.

Pouco antes do tal sistema de penalizações ser anunciado, Nelsinho Piquet, antigo companheiro de Alonso uma década atrás, havia disparado em entrevista que "a categoria iria fazê-lo ganhar".

E foi essa a impressão que ficou. Que o WEC moldou o regulamento para que o campeonato caísse no colo da Toyota. E fazer a maior estrela do show brilhar.

Quase 1 ano e meio depois, Alonso foi campeão mundial de Endurance. Primeiro título mundial após 13 anos de seca.

E foi bicampeão das 24 horas de Le Mans.

Muito bonito para o álbum de fotos. E belos números para o livrinho de efemérides.

Resultados que contribuem para elevar ainda mais a marca de "lenda" que Alonso tanto deseja deixar na história.

Mas... Sejamos francos. Havia realmente alguma GRANDE chance de que os resultados não fossem EXATAMENTE estes?

Quero dizer... A Toyota correu algum risco de perder este campeonato?

Porque sejamos francos... As chances eram mínimas. Beiravam o 0%.

Alguns poderiam dizer que o imponderável ronda com frequência as corridas de Endurance.

Outros dizem aquelas frases meio apoteóticas como "Le Mans é que escolhe o vencedor".

E em geral podem até estar certos. Em corridas tão longas, coisas estranhas podem acontecer. Uma falta de atenção, um carro que abre o bico, etc.

Ainda mais com a Toyota, que antes de 2018 nunca venceu em Le Mans.

Contudo, prezados... Com a devida vênia, há algumas coisas a dizer sobre isto.

Existe um limite de flerte com o imponderável. Antes desse limite você pode desejar todo o tipo de absurdo em termos de probabilidade.

Depois desse limite, tudo o que resta é aceitar a realidade dos fatos e da lógica.

A Toyota teve o melhor carro o tempo todo. Teve tripulações consistentes nos dois carros, entre eles QUATRO pilotos ex-F1 (Alonso, Kobayashi, Buemi e Nakajima).

Como se não bastasse, um regulamento que literalmente PUNIRIA quem fosse melhor do que eles.

A única chance de melar essa festa seria os dois carros ficarem quebrando o tempo todo.

Quais seriam as chances disso acontecer? Uma para dez milhões?

Isso não é bem uma crítica ao Fernando Alonso, ele que comemore à vontade suas conquistas.

Apesar de tudo, é pura história escrita e independentemente disso, ele já é uma lenda viva do automobilismo.

Contudo, qual o real mérito do espanhol em vencer uma competição onde a única dúvida era, basicamente, qual dos dois carros da MESMA equipe cruzaria em primeiro a linha de chegada?

Não bati palmas quando o campeonato começou. Não bati palmas agora. Não que minha aprovação ou desaprovação seja algo realmente importante.

Se as pessoas realmente gostam de aplaudir teatro de cartas marcadas, elas que o façam a seu bel prazer. Não faço questão de tomar parte nisso.

Mas sabem do que mais?

Nem a relação Alonso-Toyota passou incólume. É sério.

De acordo com o diretor da Toyota no WEC, Rob Leupen, Alonso "causou atritos". A seguir a fala completa do cartola.

A gente viu algumas faíscas se soltando. De qualquer forma, eu sinto que alguém como ele, que não é tão fácil de lidar, sempre vai trazer algum tipo de incômodo. Foram apenas algumas coisas, mas não posso confirmar o que os outros disseram sobre ele no passado. Não os conheço bem. Mesmo assim, nós gostamos de contar com alguém como ele, desse tamanho. Foi bom, a jornada terminou em um bom momento.

Quer dizer... Foi um campeonato LITERALMENTE montado para o cara vencer, e ainda assim ele conseguiu causar problemas dentro da equipe?

Reparem no "a jornada terminou em um bom momento".

Sabem o que ele realmente quis dizer? Que faltou pouco, mas MUITO pouco, pra ele mandar Fernandinho pr'aquele lugar.

E vocês realmente especulam a volta de um sujeito desses para a Fórmula 1?

Apenas imaginem a quantidade de problemas que ele causaria, por exemplo, numa Red Bull, disputando atenções com um Max Verstappen da vida.

No texto anterior, eu disse que Alonso foi o pior melhor piloto que a Fórmula 1 já produziu.

Eu estava redondamente enganado.

Ao ter conseguido causar problemas até mesmo quando não apenas uma equipe, mas também um campeonato INTEIRO giraram ao seu redor...

Fernando Alonso é, provavelmente, o pior melhor piloto da história do automobilismo.

Para o bem e para o mal, é o Rei Midas do esporte a motor.

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