Este foi um filme que provocou certo furor em 2020, quando lançou, e muitas pessoas comentaram sobre ele. Eu demorei para assistir, admito, porque sou aquela pessoa que não sofre com o famoso FOMO - Fear of Missing Out, ou "medo de perder o bonde", para os íntimos.
E ao assistir "I care a Lot" ("Eu me importo", tradução praticamente literal dada pela Netflix no Brasil), acho que eu estava certo ao ignorar este filme, pois quando ele conseguiu minha atenção, quase nada do que me foi mostrado em tela valeu as quase duas horas de experiência fílmica, tamanhas as oportunidades perdidas no afã do diretor Jonathan Blakeson em contar uma história sobre duas "heroínas" badass.
"Heroínas" entre aspas, claro, porque desde o começo da trama, você já é apresentado ao que as "heroínas" fazem: são duas golpistas que se utilizam das brechas no sistema judiciário, corrupção no sistema de saúde e da previdência social para roubar o dinheiro de uns velhinhos, que acabam totalmente tolhidos de seus bens e liberdade, e presos em asilos, ficando sob a tutela da protagonista, a curadora Marla Grayson, personagem interpretada por Rosamund Pike. O problema é que elas se deslumbram com uma idosa riquíssima e tentam colocá-la no esquema, sem saber que ela não é exatamente inofensiva. Aqui temos estabelecido o conflito.
O título do filme é, obviamente, o puro suco do cinismo. Até aí, estaria tudo bem, e isso seria uma ótima oportunidade de contar uma boa história, aproveitar a crítica social foda e levantar a bola de um debate necessário sobre como cuidamos de nossos idosos e sobre o que é, em verdade, o tal do "sonho americano", que, na prática, é só um eufemismo para "farinha pouca, meu pirão primeiro" que o liberalismo ama.
Só que o diretor-roteirista não se interessa por nada disso. Ao invés, procura contar uma trama recheada de bobagens, batidas narrativas lugar comum e conveniências de roteiro favorecendo ou desfavorecendo as protagonistas de maneira nada sutil.
O roteiro é uma merda completa, completamente recheado de conveniências narrativas favorecendo as protagonistas, com direito a antagonistas que são espertos ou burros ao sabor do conveniente também. É inacreditável. A protagonista principal é sempre fodona, esperta, não arrega pra ninguém, não perde a pose nem por um segundo, nem quando obviamente sua vida está em perigo, e consegue escapar até de um acidente de carro onde sua morte seria certa. Seu par romântico, Fran, vivida por Elza Gonzalez, não é menos foda e sobrevive a coisas improváveis como inalação de gás de cozinha por horas. Pois é, o roteiro não é nada sutil ao proteger suas personagens principais. A médica responsável pelos idosos é corrupta, o juiz é tão burro (ou tão conivente) que parece ter sido inspirado no Sergio Moro e o diretor do asilo dos velhinhos é pau-mandado. O esquema das golpistas depende de tantas variáveis frágeis para funcionar quanto seres humanos dependem de água para sobreviver e elas têm acesso a recursos que você olha e se pergunta como que elas conseguiram.
As atuações são OK na maior parte. Apenas Rosamund Pike se sobressai, parece que ela nasceu para este tipo de papel. Marla Grayson é cínica, debochada, afrontosa e nojenta, a atriz sabe disso e faz você odiar a personagem de maneira consciente. Os vilões, como já dito, são completamente emburrecidos pela trama. Peter Dinklage toca o foda-se aqui, está completamente caricato e não faz mais do que o típico chefão do crime, agindo com esperteza ou burrice quando o roteiro pede. Seus capangas não são muito melhores, são burros e obviamente suspeitos nas horas de suspense.
O filme é descrito como "drama cômico", mas não funciona como comédia. Ele na verdade é bem desconfortável o tempo todo, em nenhum momento senti vontade de dar uma única risada. E o filme faria piada com o quê? Com os velhos que perderam tudo? Cairia no extremo mau gosto. Como drama ele se sai ainda pior, pois não consegui me importar em momento algum com nenhum dos personagens, exceto, talvez, os idosos abusados, mas eles somem na metade do filme e a coisa fica só entre mocinhas e bandidos. O filme também poderia ser classificado como suspense, mas o suspense funciona muito pouco, eu teria que me importar com pelo menos alguém para funcionar, o que não é o caso. Todos os personagens são escrotos.
Sinceramente eu estava torcendo é para as golpistas morrerem no final ou algo assim, e é mais ou menos isso que acontece no final.
E na moral, alguém realmente se interessou pelo fato de as duas protagonistas formarem um casal lésbico? Belo casal LGBT que temos aqui, nada menos do que duas golpistas que roubam idosos. É uma caracterização completamente gratuita e que, se não acrescenta nada às personagens, só torna elas mais um ícone de ódio aos LGBT, servindo como um gatilho ao público geral sobre como pessoas LGBT seriam "problemáticas". Se essa for a tal "representatividade" que Hollywood tem disponível para os casais homossexuais, o pessoal tá bem servido... só que não. É uma caracterização completamente gratuita. Era melhor ter ido ver o filme do Pelé.
"I care a lot" foi um desperdício do meu tempo. Felizmente não do meu dinheiro porque assisti pelo torrent. Mas em algum momento no futuro eu vou querer essas duas horas de volta.
Nota: 4,0
Kkkkkkkkk eu acho a Rosamund Pike muito paia.
ResponderExcluir