Como nos tempos da Benetton, Schumacher e Brawn arrebentaram a McLaren em Budapeste. Diferentemente daquela época, quando a vítima era a Williams, tornaram-se heróis. Antes do último domingo, Schumacher era só mais um desesperado, piloto mau-caráter que jogou o carro em cima de Villeneuve no final do ano passado, o mesmo que já fizera com Hill, no final de 1994. O banho de tática, porém, reabilitou o alemão e a própria Ferrari, com direito, inclusive, a visitinha de (Gianni) Agnelli em Monza. Esporte, muitas vezes, não passa de um exercício de hipocrisia.
Heróis são criados, incompetentes são eleitos, ao sabor do conveniente. Não há explicação para isso. Apenas a constatação de que o mundo é assim e de que não haveria de ser o esporte diferente de todo o resto. Schumacher é, desde 1º de Maio de 1994, o melhor piloto em atividade do planeta. Acerta, erra, surpreende e trapaceia como qualquer outro esportista. Basicamente, tendo condições para isso, vai ganhar. E é por isso, por nenhum outro motivo, que está na Ferrari, que precisa ganhar.
Já são duas décadas. O que Schumacher e Brawn fizeram em Budapeste já foi feito muitas vezes na Benetton. Naquele tempo, porém, quando falava nas entrevistas que largava sempre com a opção de duas táticas, era considerado mentiroso - agora, é gênio. Pior, dizia-se, tinha todos os tipos de traquitanas ilegais a seu dispor. Também escrevi à época que tinha. Da mesma forma como creio que, hoje, metade do grid tem eletrônica proibida embarcada.
Como se constata, Schumacher passa de vilão a herói em questão de horas. De herói a vilão em questão de minutos. Dando o título para a Ferrari, talvez, consiga finalmente a complacência dos que o cercam. A mesma complacência que tivemos com Senna, Prost, Piquet e tantos outros mais."
(João Henrique Mariante, sobre a vitória de Michael Schumacher no GP da Hungria de 1998 com estratégia de uma parada a mais que os concorrentes e seu posicionamento a respeito do espírito que tomava conta da Fórmula 1).
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