domingo, 27 de setembro de 2015

Sobre destemperos


O destempero de Fernando Alonso no Grande Prêmio do Japão foi visível (e principalmente audível) para todos que viram a prova.

O espanhol estava possesso. Endiabrado. Angustiado. Puto da cara, mesmo.

Alonso havia até largado bem. Era o nono após a partida e se aproveitou dos vacilos costumeiros a uma largada.

Mas seu carro simplesmente não rendia no velocíssimo circuito de Suzuka. Alonso era uma chicane ambulante, tamanha sua lentidão.

Pelo rádio, as pérolas foram incontáveis. "É embaraçoso", disse o espanhol pelo rádio. Também reclamou da aderência, dizendo que parecia estar "guiando no gelo".

Patético.

Além de lento, o carro ainda é difícil de guiar.

O problema da McLaren não se limitava ao motor, afinal de contas.

A medida em que o espanhol sofria com o desempenho pífio de sua McLaren-Honda e era ultrapassado, eu previa sua fúria caso fosse ultrapassado, por exemplo, por um pivete sem cabelos no saco Max Verstappen.

E assim foi. Na volta 26, o asturiano tomou um passão de Verstappinho.

Por fora.

Era demais para o pretenso espanhol. Rei dos céus e do inferno, tamanha humilhação era inaceitável.

Enfurecido, Alonso disse pelo rádio: "GP2 engine. GP2. Aaaargh!"

A fúria do espanhol provocou estupor em alguns. Choque em outros. Fúria na cúpula da Honda? Com certeza. Pensei até que Alonso queria mesmo era ser demitido.

A mim? Divertidíssimo.

As inúmeras pérolas provocaram-me risadas fartas.

Não é segredo para ninguém que não gosto de Alonso.

Ri mesmo. Digo sem a menor reserva ou ressalva.

A paciência do asturiano esgotou. O clima na McLaren-Honda é cada vez mais detonador, destrutivo. E os japoneses não vão tolerar a humilhação que sofreram em seu próprio circuito, em sua casa.

Alguns dizem que um piloto como Alonso não merece passar por situação tão constrangedora.

Eu digo que ele merece, sim. E exatamente por ser este tipo de piloto.

Um mau jogador de equipe, arrogante, prepotente, irredutível, tremendamente cheio de si.

E, acima de tudo, um cara com péssima perspectiva profissional.

Não me entendam mal. Acho Alonso um dos mais habilidosos da atualidade na arte de conduzir um carro de corrida. Preciso. Cirúrgico.

Mas o espanhol é o único e total culpado de todas as desgraças que lhe acometeram neste ano de 2015.

Eu disse no começo do ano que o espanhol não iria aguentar essa situação por muito tempo.

Queimei a língua, ele aguentou até mais do que eu esperava. Mas ainda assim pouco, em vista da extensão do contrato que hoje o prende à McLaren.

De qualquer forma, tenho certeza que hoje, o que mais Alonso quer é se livrar da McLaren e ir ser feliz no WEC ou onde quer que seja.

Não estranharia se ele pagasse uma multa astronômica só para desistir do contrato.

Idade para chorar pitangas no pelotão da merda da Fórmula 1, Alonso não tem mais.

Aos 34 anos e completados 10 anos de seu empoeirado primeiro título mundial, é até justo que a paciência acabe.

É velho para os padrões da Fórmula 1, mas uma criança com um mundo a ganhar, se desenvolver fora dela a paciência e astúcia que lhe faltam.

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