Grid-girls fora do WEC; Medida vai minar o sexismo? Creio que não |
Tá lá no Grande Prêmio. Matéria aqui pra quem quiser ler.
Gérard Neveu, diretor-executivo do Mundial de Endurance (WEC), vai terminar com a famosa tradição de colocar garotas no grid antes da largada durante as corridas.
As famosas "grid-girls", responsáveis por carregar plaquinhas com nomes dos pilotos no grid e ajudar a promover as provas, não estarão mais na pista durante os eventos das corridas de Endurance do WEC. A decisão foi apoiada por várias figuras da categoria, incluindo Anthony Davidson, campeão pela Toyota em 2014 (e ex-F1), que ainda disse ser um pouco sexista a presença das modelos no grid.
O que eu acho? Que foi uma decisão errada.
Mas vamos lá, explicar isso direitinho pra não passar de "machista" depois.
Qual é a intenção? Minar os comentários sexistas de homens - e até de algumas mulheres? Nisso, Neveu pode ter sido assertivo. O problema é que ali as grid-girls exerciam um papel de promoção não só do evento WEC, mas também estavam promovendo um mercado que atrai muita gente ademais os machinhos - chatinhos - de sempre. Atraem estilistas de moda e até outras mulheres, interessadas em tomar - ou não - o padrão de moda ali exibido como referência para elas mesmas.
Eventos de automobilismo, como os de todo esporte, afinal, servem como ambientes muitos lucrativos para patrocinadores e praticamente todo o tipo de produto ali é exibido. E nem precisamos ir muito longe. Na Fórmula 1 mesmo, a mais prestigiada equipe do circo exibe em seus carros as marcas de um banco espanhol, de um energético brasileiro, de um antivírus, de uma montadora italiana etc. Colocar uma garota bonita pra exibir sua marca, então, é ainda mais chamativo. Além disso, sou da ideia de que poderiam colocar homens nessa jogada também. Grid-boys. Por que não? Poderia atrair o público feminino com a mesma finalidade.
E outra coisa, mais importante ainda: Tirar as grid-girls não vai cessar o machismo presente no automobilismo. Nem diminuí-lo. Os homens que achavam mulheres incapazes de competir este esporte (percebam a restrição, não são todos) continuarão a ter essa opinião. Se outras categorias não seguirem o exemplo do WEC, os comentários sexistas continuarão, e isso será uma constante onde quer que resista essa tradição.
E é por isso que eu acho que Neveu fez, na verdade, uma espécie de fan-service.
Afinal, se isso não reduz o sexismo, o que poderia fazê-lo?
Fácil. A própria FIA, enquanto entidade que rege as leis das corridas de carro, poderia começar a criar incentivos sólidos para a participação das garotas no automobilismo, desde o kart até a Fórmula 1 ou qualquer outro destino que elas queiram seguir.
E além do automobilismo, a FIA também rege os trâmites da transitividade de automóveis no mundo. Iniciar uma campanha para minar os paradigmas presentes no trânsito, de que mulheres são menos capazes que homens ao volante, poderia fazer ainda mais com que as meninas se interessassem não só por dirigir, mas quisessem também, em alguns casos, ares mais altos.
Esse conjunto de iniciativas sim poderia minar, de fato, o sexismo presente não só nas corridas, mas também no trânsito.
Mas a FIA não é conhecida por ir direto ao ponto para resolver os problemas. Ao contrário, a entidade escolhe as atitudes que toma de acordo o que menos poderá lhe afetar.
E o sexismo vai continuar. No WEC e no mundo das corridas de carro do mundo inteiro.
Tanto pela teimosia de setores do automobilismo em investir nas atitudes erradas quanto na inapetência e desinteresse da FIA em resolver os verdadeiros problemas que assolam este esporte.
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