Essa semana não foi fácil para mim, por um motivo bem complicado. Por esse motivo, vamos voltar um pouco no tempo e pensar um pouco sobre algumas coisas.
Era 2003. Aquele final de semana estava bem a cara daquilo que foi a temporada de Fórmula 1 de 2003. Um campeonato complicado, cheio de alternativas e recheado de emoções variadas, causado principalmente pela drástica mudança de regulamento da categoria, perpetrada para frear o domínio da Ferrari e de Michael Schumacher, que havia atingido seu quinto título mundial no ano anterior, de forma humilhante.
A quarta etapa daquele campeonato foi realizada no Autódromo Enzo e Dino Ferrari, San Marino, lugar tão regado a lágrimas. E com razão. 9 anos antes, lá morreram o austríaco Roland Ratzenberger e o brasileiro tricampeão Ayrton Senna. Imediatamente no ano seguinte, o circuito foi modificado.
Aquele campeonato vinha sendo dificílimo para a dupla campeã do ano anterior. Schumacher, àquela altura, era apenas o sexto colocado, com 8 pontos, 16 tentos distante dos 24 do líder, o finlandês Kimi Raikkonen. Não parecia ser um ano para a Ferrari, que sequer havia estreado seu carro de 2003 - só o faria na etapa seguinte, Barcelona.
A reação de Maranello veio a cavalo, figuradamente. Em Imola, o alemão tirou um coelho da cartola e cravou uma belíssima volta, 1nin22s327, apenas catorze milésimos abaixo do segundo colocado, o irmão Ralf Schumacher, da Williams. O brasileiro Rubens Barrichello ficou na terceira posição, a 0,230s, também um ótimo trabalho. Aquela classificação foi péssima para Raikkonen: Apenas a sexta colocação para o líder finlandês, a 8 décimos do tempo de Michael. Também candidato ao título, o colombiano Juan Pablo Montoya largou na quarta colocação.
Na corrida, Michael chegou a perder a ponta na largada para o irmão, Ralf, e Mark Webber, quinto no grid, largou no melhor estilo Webber e perdeu seis preciosas posições. Os dois irmãos alemães disputaram fortemente na primeira parte da prova, com Ralf em primeiro e Michael em segundo. Mas isso durou somente até a hora das paradas de boxes. Michael, mais pesado - àquela época, o reabastecimento era permitido na F1 - ficou apenas comboiando Ralf. Era uma tática velha conhecida daqueles que conhecem Michael Schumacher.
O trabalho mais eficiente da Ferrari nos boxes e o forte ritmo do alemão vermelho antes de cada parada deram à equipe italiana a primazia daquelas 62 voltas, com o pentacampeão a vencer pela primeira vez na temporada. A McLaren, que havia treinado com muito combustível, parou uma vez menos e ainda contou com a ineficácia de Ralf Schumacher em passar Raikkonen na pista, o que fez com que Barrichello pudesse ultrapassá-lo nas paradas de boxes. O alemão da Williams terminou em quarto. Montoya terminou apenas em sétimo, após uma corrida atribulada e um erro da equipe nos boxes.
O alemão comemorou vigorosamente a primeira vitória em 2003, saltou do carro e foi comemorar com a equipe e deu aquele pulo maravilhoso no pódio, certo?
Errado.
Na verdade, antes da corrida, pairou uma dúvida acachapante no ar: Michael e Ralf Schumacher estariam no grid àquela tarde?
Afinal, a mãe dos irmãos, Elisabeth, havia falecido horas antes, na manhã daquele domingo.
Os dois agiram com uma frieza de dar calafrios. Um venceu e o outro foi o quarto colocado.
Michael ainda juntou as últimas gotas de resiliência que lhe sobraram que naquele terrível fim de semana e completou o protocolo, comparecendo ao pódio para receber seu troféu. Mas não conseguiu ir à coletiva de imprensa. Assim que terminou o pódio, ele e Ralf deixaram Ímola e foram ao encontro da família para velar a mãe. Jean Todt, diretor-esportivo, foi em seu lugar.
Afinal, descobríamos que Michael Schumacher, considerado uma máquina, era um humano como qualquer um de nós.
Imagine se fosse, de fato, um ser humano como todos nós, e não um cerebral piloto de corridas.
Busquei no exemplo dos irmãos Schumacher a força necessária para passar por essa semana.
Meu ex-colega e amigo, André Dantas Verino, saiu desta vida para entrar na história na última quarta-feira (22). Estudei com ele por oito anos e estabeleci com ele uma relação de certa amizade e muito respeito.
Termino estas dolorosas linhas com a certeza de que Elisabeth e André estarão sempre a olhar por nós, onde quer que estejam.
Michael Schumacher e o troféu de vencedor: Amargo reencontro em Imola |
Grande Prêmio de San Marino de 2003
1. M. Schumacher (ALE/Ferrari) 62 voltas em 1h28min12s058
2. Raikkonen (FIN/McLaren-Mercedes) + 1s882
3. Barrichello (BRA/Ferrari) + 2s291
4. R. Schumacher (ALE/Williams-BMW) + 8s803
5. Coulthard (ESC/McLaren-Mercedes) + 9s411
6. Alonso (ESP/Renault) + 43s689
7. Montoya (COL/Williams-BMW) + 45s271
8. Button (ING/BAR-Honda) + 1 volta
9. Panis (FRA/Toyota) + 1 volta
10. Heidfeld (ALE/Sauber-Petronas) + 1 volta
11. Frentzen (ALE/Sauber-Petronas) + 1 volta
12. da Matta (BRA/Toyota) + 1 volta
13. Trulli (ITA/Renault) + 1 volta
14. Pizzonia (BRA/Jaguar-Cosworth) + 2 voltas
15. Fisichella (ITA/Jordan-Ford) + 5 voltas (Motor)*
Abandonos
Webber (AUS/Jaguar-Cosworth) - eixo de transmissão
Firman (IRL/Jordan-Ford) - óleo
Verstappen (HOL/Minardi-Cosworth) - elétrico
Wilson (ING/Minard-Cosworth) - mangueira de combustível
Villeneuve (CAN/BAR-Honda) - motor
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