domingo, 22 de maio de 2022

"De volta ao baile" (2022) - RESENHA CRÍTICA


Este que vos escreve deve ter sido acometido por alguma anomalia mortal para estar escrevendo sobre a segunda comédia romântica assistida em menos de um mês. Mas como a digníssima decidiu meio que de supetão e eu consegui me envolver parcialmente com o projeto, acabei decidindo assistir até o fim e escrever alguma coisa aqui. Como já dito anteriormente, comédia romântica obviamente não é meu estilo favorito, mas acho que se vale uma experiência diferente junto com a cremosa, por que não? Até porque já a fiz ver Matrix e Harry Potter inteiros, então tudo certo.

"De volta ao baile" foi lançado recentemente no serviço de streaming da Netflix e estrela Rebel Wilson, Sam Richardson, Zoe Chao e mais uma ruma de serumaninhos de quem eu nunca ouvi falar antes e provavelmente nunca ouvirei de novo (Alicia Silverstone faz uma ponta aqui, porém). Aqui temos um daqueles casos clássicos de filmes que a crítica especializada tem detonado, mas que encontrou muito calor afetuoso entre o público, especialmente a geração millenial, através de um forte teor nostálgico. Na trama, Rebel Wilson interpreta Stephanie Conway, uma garota colegial de 17 anos que quer muito ser popular na escola a todo custo, se envolver com o pessoal descolado, conquistar o cara mais gostoso do pedaço e desbancar a rival. Porém, a garota sofre um terrível acidente durante uma apresentação de torcida, fica em coma por vinte anos e, ao acordar, se depara com um mundo bem diferente dos anos 2000, no qual ela terá de lutar para se ajustar, tendo a mente de 17 anos em um corpo de 37.

Tendo a concordar com a crítica em alguns aspectos, mas não achei este filme horrível. Tem um valor de produção aceitável para o padrões de um original Netflix e alguns momentos inspirados na fotografia e na trilha sonora. O humor funciona bem em alguns momentos, com gags bem divertidas, principalmente para quem manja das referências dos anos 90 e 2000. Também tem um pouco de "American Pie" durante quase toda a duração, com gags sexuais nada tímidas. Mas não é tão bem atuado e com certeza sua narrativa é extremamente derivativa, seja pela premissa, pela crítica social foda embutida ou o enredo no estilo "garota luta para ser popular" que, vamos combinar, já é mais velho do que a posição de cagar. Isso já foi bem melhor explorado em outras produções do mesmo gênero. Ainda assim, acho que o roteiro conseguiu me fazer simpatizar com o drama da protagonista ao menos o suficiente para eu me importar e continuar assistindo até o fim, graças ao teor dramático inevitável em volta do acidente. Nesse sentido, o começo o filme me passou uma vibe meio "Austin Powers", devido ao choque geracional e cultural que a personagem inicialmente sentiu, mas isso não durou muito tempo: antes da metade ela já estava totalmente integrada ao ambiente online. O problema é que o projeto exige muito da sua suspensão da descrença ao mostrar essa mulher com quase quarenta anos voltando ao ensino médio e isso acontece sem muita contestação. Parece forçado, como boa parte das coisas que vão acontecendo a partir disso também, o filme vai só acumulando absurdos, cabendo ao espectador só calar a boca e ir aceitando as coisas uma atrás da outra.

Acho que o maior problema para mim foi a forma como o projeto trata as gerações mais recentes em contraponto ao ideário noventista representado pela protagonista. Nada aqui parece muito sincero, o longa simplesmente pegou paródias e estereótipos do que seriam minorias sociais falando sobre problematizações, politicamente correto e afins e saiu jogando um atrás do outro na sua fuça como se fossem uma síntese do que teria virado a sociedade atual (na cabeça dos realizadores, pelo menos). O problema ululantemente óbvio nisso é que só parece algo que não entende realmente as gerações atuais, seus aspectos, necessidades e afins e só jogou dessa forma para fazer toda a crítica social foda sobre como as pessoas ficaram bitoladas em redes sociais, seguidores, fama e falsas interações sociais enquanto desprezam as pessoas que realmente se preocupam com elas... e por algum motivo essa premissa ainda é utilizada nos filmes por aí. Quem escreveu esse roteiro definitivamente não sabe como os jovens realmente funcionam. É o segundo filme este ano que vejo com essa trama de fundo, o primeiro foi o longa tupiniquim "Carnaval" (também lançado este ano, e de qualidade bem duvidosa, se você quiser a minha opinião).

E é isso, "De volta ao baile" passa longe de ser um desastre e definitivamente sabe qual o público a quem quer agradar, conseguindo muito êxito ao explorar a nostalgia, sendo um ótimo "Sessão da Tarde". Nada muito além. Se estiver procurando um passatempo nostálgico, a diversão é garantida.

Nota: 5,5



sábado, 21 de maio de 2022

"ILHA DOS HOMENS PEIXE" é realmente um dos piores arcos de One Piece

Sou fã de One Piece há praticamente dez anos. Não sou o consumidor mais ativo da franquia e nem o mais fiel, mas gosto bastante, tenho uns bonecos, comprei alguns mangás (dei a maior parte mas fiquei com o volume 1) e tive uma época onde maratonei o desenho e o quadrinho até mais ou menos o arco de Marineford e a reunião dos piratas após o Time-Skip. Depois disso, me cansei e fui procurar consumir outras coisas. A história estava ficando cada vez melhor e de fato ela evoluiu muito desde então, elevando a escala dos acontecimentos sempre mais, se aproveitando de uma ótima construção de mundo e um roteiro, na maior parte do tempo, muito bem estruturado, que permite que o autor, Eiichiro Oda, consiga criar novos elementos e reaproveitar personagens antigos de uma forma que quase nunca pareça forçada. Há problemáticas envolvidas na fórmula empregada pelo quadrinista nipônico, sendo a mais recorrente o fato de quase nenhum personagem ser morto fora de flashbacks (mesmo quando em alguns contextos a morte seria a consequência mais lógica possível como desdobramento para um acontecimento dramático) mas, em geral, Oda se sai muito bem no desenvolvimento de sua história.

Daí, neste ano, resolvi que iria voltar a ver o desenho de onde parei. Fiz uma pequena recapitulação ao assistir resumos das primeiras sagas, pois havia esquecido muitas coisas, e assisti ao arco de Impel Down e Marineford para me contextualizar. Passei pelo flashback familiar de Luffy, Ace e Sabo (que é divertido e prepara terreno para o futuro ao mesmo tempo em que contextualiza o passado dos irmãos) e a reunião dos piratas em Sabaody, que é morna, mas tem sua cota de diversão pela piada do Luffy falso. Finalmente eu estava pronto para continuar a viagem ao Novo Mundo que tanto foi antecipada.

Aí veio o arco da Ilha dos Homens-Peixe (também conhecido como "Ilha dos Tritões"... e tudo foi por água abaixo. Mas antes de começar a cagar na cabeça dessa história, cabe um contexto. Muitas sagas de One Piece são pura e simples encheção de linguiça, eu consigo digerir isso muito bem. Mas é incrível como esta aqui consegue reunir o que há de pior em narrativa. A premissa era excelente, o tema do racismo estava lá o tempo todo, com a quase sempre estremecida relação entre humanos e tritões. Esta claramente tinha potencial para ser um excelente saga.

O que encontramos aqui, porém, é um comercial de brinquedos que dura aproximadamente quarenta e poucos episódios. Eu não estou brincando, tem episódios em que, no meio de uma guerra contra cem mil pessoas (num dos exercícios de exposição mais safados que já vi, não tinha 100 mil pessoas ali nem fodendo), eles literalmente param o ritmo para mostrar Franky apresentando as novas armas do navio dos chapéus de palha, Thousand Sunny. É ver para crer. É divertido de ver, você até tem, momentaneamente, vontade de gritar empolgado com os personagens sobre como aquilo é foda, mas não tem uma função narrativa que não seja mostrar os novos brinquedos da coleção da Bandai.

Não há evolução dramática para os protagonistas, eles não enfrentam grandes dificuldades e o roteiro dá a entender o tempo todo que eles poderiam derrotar os inimigos a qualquer momento se quisessem, sendo boa parte dos episódios uma propaganda gigante para mostrar os novos visuais dos personagens e a evolução de seus poderes, que é de fato impressionante se comparada ao pré-timeskip. Um exemplo disso é que o tempo todo é estabelecido, através de diálogos e acontecimentos, que humanos são muito inferiores aos tritões em um combate na água. O que acontece aqui? Zoro luta contra Hody Jones na água e vence, deixando o tritão com um baita de um corte no peito, um ferimento que o incomoda em alguns momentos durante a sequência. E estamos falando de Zoro, aquele que, até então, é o segundo no comando dos Chapéus de Palha, colocando em dificuldades o vilão que seria o grande pivô do arco e que seria o obstáculo principal do próprio Luffy.

Para contornar isso, o roteiro simplesmente vai criando obstáculos artificiais e que não se sustentam por seus próprios méritos, ou fazendo os personagens tomarem decisões absurdamente idiotas que deixam os vilões em vantagem. Querem um exemplo? Luffy indo para a água para confrontar Jones na hora em que a arca gigante Noah está para atingir a ilha. Jinbe estava ali DO LADO, disposto a lutar contra a trupe de Hody, sendo a escolha óbvia para lidar com aquela situação, por ser o mais poderoso tritão em combate. Mas por que Luffy foi? Porque é o protagonista e porque o desenho precisa vender bonecos do personagem dando golpes especiais novos aprendidos no treinamento. É impressionante como essea história  vende um climax falso e uma tensão não conquistada. 

É difícil levar a sério como antagonista um vilão que claramente não tem a menor condição de impor grandes riscos aos protagonistas, e portanto não há muito pelo qual se temer, tornando a história incapaz de capturar a tensão do espectador/leitor. Se a periculosidade de Hody Jones já não é das maiores, como personagem ele não é muito melhor: apenas um pastiche do que já foi feito melhor antes (no caso, Arlong). Ele não tem ideais próprios, não tem nenhuma característica redimível e todo o desenvolvimento dele gira em torno de uma mentira. E o uso das tais drogas energéticas não tem consequência nenhuma, servindo apenas como Power-Up gratuito safado para fazer o vilão parecer mais difícil de derrotar do que parece.

Acham que acabou? Tolinhos... eu tô só começando.

Não sei ainda como estão os outros arcos neste aspecto, mas a Ilha dos Homens-Peixe pega a sexualização das personagens femininas e leva a um outro nível, produzindo quase sempre alguma piada envolvendo a tensão sexual. Temos aqui decotes enormes sempre em evidência e mostrados em planos fechados até mesmo em situações que são projetadas para serem tensas, o que quebra todo o ritmo. Há até um miniarco dramático envolvendo a perversão sexual de Sanji, que chega a quase morrer devido ao sangramento nasal (que é o substituto da ereção nos desenhos japoneses) e isso demanda uma transfusão de sangue desnecessariamente complicada, o que até serve para tocar superficialmente no ponto do preconceito existente entre tritões e humanos, mas não vai muito além. 

Temos também aquela que talvez seja a personagem mais problemática de One Piece: a Princesa Shirahoshi. Também conhecida como uma das personagens mais chatas do desenho. Se essa menina existisse, ela resolveria todos os problemas hídricos do Ceará, encheria todos os açudes e acabaria com os problemas de seca que o estado enfrenta durante as estiagens de fim de ano. Quase tudo o que acontece faz essa garota chorar feito um bebezão. Felizmente, Oda parece saber disso e logo faz de Luffy a expressão mais sincera e franca do próprio público, fazendo o capitão dos Chapéus de Palha falar na lata: "você é grande, mas é covarde e uma bebê chorona, eu não gosto de você". Ao mesmo tempo, o roteiro tenta redimir a personagem durante os momentos difíceis, fazendo ela ter alguma agência no clímax, e ela se prova menos medrosa e chorona no final, mas até ali você já tem raiva estabelecida em relação a personagem, e uma raiva bem justificável, por sinal. 

E como se não fosse suficiente, a personagem tem uma codificação estética audiovisual cheia de pedofilia embutida (eu sei que vozes agudas em mulheres são uma constante nos desenhos japoneses, mas a de Shirahoshi abusa) e parte do arco dramático dela se desenvolve devido às ameaças do vilão secundário do arco, Vander Decken. Esse personagem é completamente imbecil e estraga completamente o que seria o capitão do lendário Holandês Voador, no que talvez seja uma da maiores oportunidades perdidas na história. E para completar essa montanha de merda com uma cereja de bosta, um dos flashbacks deixa muito, muito claro que a relação não correspondida entre Decken e Shirahoshi se dá em meio a uma conotação cheia de pedofilia, com o vilão se "apaixonando" pela princesa quando esta ainda era uma criança e a perseguindo violentamente até a idade adulta, o que fez com que ela fosse trancada em uma torre por dez anos. É uma das piores coisas que eu já li, tira de Shirahoshi qualquer possibilidade de agência própria e só faz com que ela seja a donzela em perigo durante a maior parte da saga. Shirahoshi é uma péssima personagem e está perigosamente perto de ser um material de regozijo para pedófilos, seja pelo seu visual e maneirismos ou pela forma como é assediada desde criança. Ao menos o quadrinista não dá a Decken nenhuma característica redimível, é um personagem nojento a quem devemos odiar e ponto. Felizmente isso o roteiro consegue com louvor.

A única coisa que eu poderia chamar de positiva neste arco é o flashback com Fisher Tiger e a Rainha Otohime, que são objetivamente bons personagens que delineiam dois arquétipos: a heroína virtuosa que acredita no bem das pessoas até o fim, e o herói trágico, porém bem intencionado, que é durão, mas possui honra e determinação implacáveis. O arco também mostra um jovem Arlong antes dos eventos da saga Arlong Park, nos quais ele oprime completamente a Vila Cocoyasi, terra natal de Nami, além de bons desenvolvimentos de personagens como Jinbe e Hachi, aparições de personagens conhecidos e a introdução de outros que veremos no futuro.

No fim, Ilha dos Homens-Peixe é uma bosta. Não tem meias palavras, é ruim, bizarro, mal escrito, desnecessariamente longo, atua como comercial de brinquedos em boa parte do tempo e só atrasa a ida dos Chapéus de Palha ao Novo Mundo. Não tem consistência narrativa, não consegue aproveitar direito a boa premissa que cria e ainda tem elementos problemáticos incômodos pra caralho.

Felizmente já me alertaram que alguns arcos posteriores são bem melhores. Que sejam.

domingo, 8 de maio de 2022

LEGALMENTE LOIRA (2001) - RESENHA CRÍTICA



Não sou o maior fã de comédias românticas. Acho que o gênero teve seu auge nos anos 1990, mas desde os anos 2000 é um tipo de filme cansado e previsível, com tramas manjadas, batidas de roteiro muito fáceis de antecipar e estereótipos já super conhecidos do público que geralmente assiste estes filmes, então não é muito difícil imaginar o motivo de este gênero ter entrado em uma espécie de geladeira em Hollywood, com cada vez menos produções financeiramente bem-sucedidas: o olhar do público já não tem sido mais o mesmo desde então. Naturalmente, há outros fatores que podem explicar muito bem esse declínio: conflito geracional, ascensão de outros gêneros (notoriamente, o mais avassalador foi o de super-heróis) e, como já citado no começo, o esgotamento da fórmula. 

E nesse cenário, não acho que se possa dizer que "Legalmente Loira" tenha quebrado tanto a risca da comédia romântica, e em muitos aspectos ele continua sendo um reflexo de seu tempo. Não sei se seria o tipo de longa que eu tomaria espontaneamente a decisão de ver, mas não posso me dizer arrependido por isso. Embora ele não possa exatamente se encaixar no conceito de crítica social foda, acredito que este projeto é um pouquinho mais esperto do que parece à primeira vista. Lançado em 2001 e dirigido por Robert Luketic (que estava em seu segundo trabalho, mas este acabou sendo seu maior sucesso de bilheteria) e estrela Reese Witherspoon, Luke Wilson, Selma Blair, Matthew Davis e Victor Garber. Tem também algumas participações especiais, como Ali Larter (de "Resident Evil" e "Premonição"), Jennifer Coolidge (a Mãe do Stifler em "American Pie") e Linda Cardeline (a Velma de "Scooby Doo"). 

Por que eu asssiti a esse filme, então, vocês me perguntam? Porque minha namorada pediu, e na nossa relação, sou eu quem dá a última palavra: "sim, senhora".

A trama é a seguinte: Witherspoon é Elle Woods, a típica patricinha bonita, loira e rica de quem não se espera mais do que o batido estereótipo da gostosa burra, e que tem um namorado rico e bonito, de quem ela espera um pedido de casamento. Só que logo descobrimos que ele é um tremendo babaca: ele a larga no dia em que ela esperava o pedido e isso a deixa totalmente frustrada. Porém, motivada a reconquistá-lo (bem na vibe "A Pequena Sereia"), a loira decide entrar na Universidade de Direito de Harvard, onde o rapaz vai estudar, para impressioná-lo. O projeto começa bem nessa vibe de comédia de patricinha fútil, o que é uma preparação que não deixa de ser curiosa, considerando o desenvolvimento da trama, no qual vamos descobrindo que nem tudo é o que parece e que os estereótipos podem ser enganosos.

A direção de Luketic aqui é funcional, ele não é conhecido exatamente pela autoralidade, mas funciona. Ele consegue fazer a trama funcionar e tem alguns enquadramentos até criativos. Tem uma certa cena que eu achei muito interessante, na qual a protagonista entra no ambiente da faculdade e o diretor usa um plano holandês para indicar meio que vertigem e desorientação. Ela é uma estranha no ninho e o filme está bem ciente disso. A todo o tempo somos lembrados de que ela é como um peixe fora d'água e que aquele lugar inicialmente está pronto para regurgitá-la a qualquer momento, e isso é traduzido tanto nos diálogos quanto nos visuais, com ela quase sempre destoando muito do ambiente.

O roteiro, porém, não é muito mais do que previsível. Você sabe tudo o que vai acontecer desde o começo, o filme não faz questão de furar a bolha da comédia romântica e... tá tudo bem. Não é como se o público-alvo comum desse projeto se interessasse por filmes-conceitão, então, aposta-se no seguro: com poucos minutos somos apresentados à protagonista, suas amigas e ao conflito que vai nortear o desenvolvimento da trama, o que não deixa de ser algo bem ágil, então podemos dar pontos ao roteiro por ser honesto o suficiente. O humor, porém, funciona: temos piadas com bom timing cômico.

As atuações são OK, ninguém aqui está atrás de Oscar. A que mais se destaca é evidentemente Reese Witherspoon, com todo o seu charme e carisma. É uma atriz que inclusive ganhou estatueta do carecão pelado alguns anos depois, e aqui ela entrega uma personagem que, se parece boba à primeira vista, acaba apresentando outras dimensões com o passar da trama. Não é particularmente bem escrita, mas funciona bem. O arco dramático dela está todo desenvolvido em torno da famosa quebra do estereótipo da loira burra e isso o filme faz muito bem, Witherspoon consegue convencer como a "loira burra" que de burra não tem nada. E no clímax do terceiro ato, ela consegue se sobressair sendo exatamente a pessoa que era antes de entrar na faculdade, o que funciona também como certo aspecto do humor presente na obra. 

Acho que se tem algo mais a se destacar sobre o projeto, é a forma como ele envelheceu: há pessoas hoje em dia que veem certo panfleto feminista na forma como "Legalmente Loira" conta a história de sua protagonista, pondo como justificativa exatamente a ideia da quebra de estereótipo que discutimos aqui. Você pode, ainda, falar sobre o machismo presente no ambiente de trabalho, que se traduz na forma de assédio sexual contra a protagonista por Callahan (Victor Garber), seu professor, bem como a relação de Elle Woods com Vivian, a personagem de Selma Blair, que começa como uma disputa das duas pelo babaca ex-namorado de Elle (que virou noivo de Vivian) mas gradativamente se transforma numa genuína amizade entre elas duas, o que parece ser um bom comentário sobre como mulheres não deveriam ser inimigas entre si. 

Só que, a meu ver, isso não vai tão além, por decisões do próprio filme, que, lembrando, é uma comédia romântica. A personagem de Witherspoon não é uma mulher pobre ou necessitada que come o pão que o diabo amassou em um ambiente de convivência opressor e completamente resistente a ela. Ela é branca, loira, rica (falem sério, ela dirige um Porsche Boxster boladão, não é como se ela tivesse realmente alguma dificuldade na vida) e decide cursar Harvard por puro capricho (por causa de macho, lembrando). E que, a qualquer momento, poderia simplesmente sair dali e voltar a fazer o que fazia antes. Poderia ter algum tipo de crítica social foda aqui? Talvez, e tem elementos que deixam o filme bem suscetível a essas interpretações, mas é o tipo da coisa que foi feito melhor em outros filmes, alguns até do mesmo gênero. Acho que o meu recado está dado: se há feminismo neste filme, ele é muito superficial e não serve muito mais do que ao desenvolvimento da própria protagonista. 

E assim, "Legalmente Loira" não é muito mais do que um entretenimento OK, com atuações funcionais, humor bem resolvido e que sabe que não reinventa a roda. Ainda assim, encontra força em sua protagonista, cujas atuação e desenvolvimento de arco dramático carregam o filme nas costas.

Nota: 6,5


sexta-feira, 6 de maio de 2022

DOUTOR ESTRANHO NO MULTIVERSO DA LOUCURA (2022) - RESENHA CRÍTICA

Tenho perdido o tesão por conteúdos da Marvel Studios nos últimos tempos. Sou meio marvete, gosto do conteúdo da "Casa das Ideias" em alguns departamentos, mas não é nenhuma besteira afirmar que o material lançado pelo conglomerado de mídia nos últimos anos tem sido cada vez mais formulaico e pragmático, sem muita margem para discrepâncias, para o bem ou para o mal. A fórmula de sucesso do estúdio tem forçado os filmes a serem gigantescos comerciais de preparação para os futuros conteúdos e pouca roupagem cinematográfica de fato integra esses materiais. Entendo que o entretenimento em várias instâncias funciona assim, mas estas contradições têm se mostrado cada vez mais evidentes e, em alguns casos, incômodas. Não vi "Eternos", nem "Shang-Chi" e nem a maior parte dos seriados do estúdio no Disney Plus e, sinceramente, eles pouco atiçam meu faro atualmente.

Mas chega de conversa fiada. Vocês estão aqui para saber o que eu achei do filme do Dotô Istranho, então... vamos lá. O filme é dirigido por Sam Raimi (responsável pela lendária série de filmes do Evil Dead e da primeira trilogia de filmes do Homem-Aranha, da Sony) e é o filme número quatrocentos e cinquenta e dez do Universo Cinematográfico da Marvel (o número provavelmente não é esse, mas quem se importa a essa altura, não é mesmo?) e estrela Benedict Cumberbatch, Elizabeth Olsen, Rachel McAdams e Xochitl Gomez. 

Este filme é, até o momento, uma joia rara no Universo Cinematográfico Marvel. Não pela sua qualidade de um modo geral (que é discutível, mais à frente explico os motivos) mas pelo potencial que ele tem de ser algo realmente único na linha do tempo das produções do estúdio. É um filme muito corajoso em vários níveis, e que traz um conflito de visões muito forte entre a produção e a parte criativa, conflito este notável ao se avaliar a estética, a trilha sonora e a direção do projeto. 

A direção de Sam Raimi mostra todos os seus traços de originalidade e autoria muito marcantes. Raimi imprime toda a sua criativa visão voltada para o horror e o grotesco, no que é muito bem-sucedido. Temos aqui, como poucas vezes no cinema de super-heróis, um cinema autoral de verdade (chupa, Snyder), o que é muito bem traduzido na fotografia do filme. Temos alguns planos realmente criativos que intercalam entre os visuais psicodélicos das múltiplas cores meio epilépticas que perpassam a estética exótica do universo do Doutor Estranho, visuais sombrios e meio góticos que me remeteram fortemente aos cenários da série de jogos Castlevania e alguns elementos de horror que passam pelas criaturas lovecraftianas e por um leve teor de nojeira sanguinolenta, algo outrora inimaginável para um filme do Universo Marvel. E nesse sentido, o diretor tem uma liberdade criativa até bem surpreendente para os padrões desses filmes: temos movimentos de câmera meio frenéticos, uns planos holandeses meio conceitão, lentes distorcidas e... jumpscares! Sim, sustos de terror, num filme da Marvel. É, temos uma justificativa relativamente plausível para a classificação indicativa ser PG-13.

Se a direção brilha com tudo isso, o mesmo não pode ser dito do roteiro, que é bem fraco e aposta muito em facilitações narrativas para funcionar. Não é muito orgânica a forma como os personagens vão de um ponto a outro para fazer a história andar e é ainda menos orgânico, beirando o preguiçoso, o jeito que o projeto lida com as complexidades envolvidas no conceito de multiverso. Desde o começo, desde "Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa", que nos apresentou a esse conceito, ele nos foi vendido como algo complexo e cheio de minúcias. Mas desde então ele só é utilizado para ir de um ponto a outro numa trama com facilitações narrativas e vender nostalgia a preço de ouro, e é exatamente isso que acontece aqui: há milhões de universos disponíveis, mas eles rapidamente vão parar exatamente no universo que precisam para fazer a trama andar, com personagens que nos são mostrados para fazer valer o mais puro suco da nostalgia. 

Ok, é divertido e reconfortante rever personagens queridos, aparições de atores classudos ao som de trilhas sonoras clássicas, e nisso este filme funciona muito bem para provocar aqueles gritos empolgados na sala de cinema do fã eufórico. O fan-service nunca foi mais real. O problema... é que isso não apenas não é orgânico e tira a imersão do filme com imensa facilidade, mas também só falta eles colocarem uma placa de aplausos nessas cenas. OK, isso aconteceu muito no filme do Homem-Aranha, mas ali a coisa se deu de uma forma um pouco mais orgânica (sendo "um pouco" a expressão-chave, porque até ali algumas cenas soaram forçadas e testaram minha suspensão de descrença). Aqui o ritmo do filme é meio quebrado para dar lugar a uma contemplação de nostalgia. 

Além disso, temos aqui a mão pesada do estúdio ao inserir elementos costumeiros em filmes Marvel Studios: algumas piadas com péssimo timing cômico e elementos que o universo cinematográfico precisa para preparar o público para as continuações, que é outra coisa que me tirou do filme em alguns momentos. É meio chato perceber que parte do filme não se dedica a si mesmo, mas sim a ser um longo comercial para as sequências. Isso acontece com frequência nos blockbusters atuais e é o tipo da coisa bem desagradável aos sentidos. Sem falar na necessidade que tem sido criada e cada vez mais estimulada pelo estúdio, do consumo cada vez maior de obras interconectadas para a compreensão completa do conteúdo em voga. Ou seja: tem que fazer um curso para entender o filme, assistir trocentas séries e outros filmes para entender o que acontece neste. Isso é especialmente gritante quando você analisa o arco dramático da Feiticeira Escarlate. Não me entendam mal, ainda é relativamente possível entender as nuances deste filme como uma experiência isolada das outras, mas se perde muito do impacto emocional possível a ser extraído da experiência. E esse tipo de coisa não é culpa do expectador, e sim do filme e do estúdio, que falham em fazer com que os conteúdos se bastem em si mesmos.

As atuações, por sua vez, são boas. Benedict Cumberbatch não é particularmente brilhante, mas é um ator competente o suficiente para fazer o personagem funcionar, e está muito mais à vontade no papel de Stephen Strange do que em seu primeiro filme-solo, lá em 2016. Elizabeth Olsen, por sua vez, é muito potente: sua Feiticeira Escarlate está mais perigosa e poderosa do que nunca. A atriz consegue tanto expressar o grande drama emocional pelo qual passa a sua personagem quanto transparecer um grande vetor de perigo quando em cena, o que produz alguns dos momentos mais assustadores da trama, quando a personagem está no encalço dos protagonistas. Os absurdos poderes de Wanda deixam os mocinhos em extremo perigo e adicionam uma tremenda urgência à sua missão. Xochitl Gomez está bem e a relação com o personagem de Cumberbatch funciona parcialmente, mas no final do filme ela ganha um Deus Ex Machina muito conveniente. O restante do elenco está funcional, eles conseguem cumprir o que o roteiro pede de maneira satisfatória.

Ao fim do dia, "Doutor Estranho no Multiverso da Loucura" pode não ser um excelente filme e certamente sofre com as idiossincrasias comuns dos filmes do UCM, mas é um projeto divertido, criativo, poderoso e, conceitualmente falando, é bem diferente do que se vê habitualmente nos filmes Marvel, tudo isso pelo lado da competente direção de Sam Raimi, o que justifica o adjetivo "joia rara" atribuído no começo da resenha. Se continuará a ser uma joia rara ou não, não saberemos até ver as próximas criações do estúdio. Mas Raimi pode ter criado um novo momento para as produções da Marvel Studios. É ver para crer.

Nota: 7,5

terça-feira, 3 de maio de 2022

RUPTURA/SEVERANCE (2022) - RESENHA CRÍTICA


Admito que não sou o maior fã de séries do mundo, sem o menor pudor. Tenho uma preguiça enorme para vê-los, acho que eles demandam um tempo enorme. Apesar disso, acredito que a dinâmica de lançamentos melhorou bastante nos últimos anos e a logística da quantidade de episódios mudou muito. Antigamente era muito mais comum você ver seriados com trocentas temporadas, vinte e tantos episódios por cada uma, e isso é algo que não se vê mais hoje em dia. Parece que o consumo de seriados ficou mais ágil. Sinceramente, acho que isso foi uma melhora. Ninguém merece ficar esperando 20 episódios de encheção de linguiça para se chegar ao mesmo resultado que se chegaria com nove ou dez episódios.

E é neste formato que foi feita a série sobre a qual falaremos no texto atual: "Ruptura" (Severance, no original), indicada para mim pela querida Daniela Sales, autora do canal Vida de Autista. Criada por Dan Erickson e lançada em fevereiro de 2022, pelo canal de streaming Apple TV Plus, "Ruptura" é sobre um homem chamado Mark, que começou a trabalhar para uma empresa chamada Lumon e se submeteu voluntariamente a um processo chamado "Ruptura", no qual dividiu sua mente em duas consciências diferentes: a consciência do trabalho e a consciência da vida pessoal, na esperança de ter paz por 8 horas ao dia enquanto desliga sua mente pessoal e deixa apenas a consciência do trabalho ativa durante o expediente. O melhor dos mundos, não? Poder trabalhar sem o menor resquício de problemas da vida pessoal? Pois é... durante a série, você vai descobrindo que as coisas não são bem assim. Junto com seus colegas de trabalho, Dylan, Irving e Helly, Mark descobrirá que nada é o que parece, e que aquele lugar é o verdadeiro inferno.

A direção da série fica por conta do comediante Ben Stiller e da cinematógrafa Aoife McArdle, e é impressionante o trabalho que fazem aqui. É uma direção primorosa, como poucas vezes vi em seriados de televisão, digna das maiores obras-primas do cinema. Há muito critério no que mostrar ao espectador. A fotografia aposta bastante em planos estáticos bem abertos para diversos fins: estabelecer a ambientação opressora do escritório, cheia de corredores brancos, sinuosos e imensos, apresentar o ambiente geral onde as narrativas se passam, passar a sensação de que os personagens são ínfimos em relação ao ambiente como um todo, que é bem opressor, o que também é corroborado pelos tons quase sempre muito frios e a cor predominante, que é o azul. É sempre bom ver um conteúdo com boa fotografia, é aquele tipo de coisa que você assiste querendo pausar de vez em quando pra tirar um print screen e acaba quase sempre tendo uma boa foto pra botar de papel de parede no celular. Temos poucos movimentos de câmera, durante toda a série, mas quando são usados, a tensão é potencializada com gosto e quase sempre tememos pelos personagens quando isso acontece. 

Há também uma boa utilização, em algumas cenas, do famoso "Efeito Vertigo", popularizado por Alfred Hitchcock no filme "Vertigo" e mais recentemente por "Tubarão" de Steven Spielberg (temos texto sobre esse filme no blog, aqui). É um efeito que distorce a percepção ótica do ambiente através da mudança da distância focal da câmera. Esse efeito é usado principalmente nas cenas onde os protagonistas mudam de consciência do interno para o externo e vice-versa, e isso cria alguns dos pontos mais fortes de atuação do seriado; vemos em alguns momentos os protagonistas passando por experiências traumáticas no ambiente de trabalho e logo em seguida trocando de consciência ao saírem dali como se nada tivesse acontecido, e a atuação nestes casos é realmente brilhante. 

O design de produção é inspirado, ora vejam, em um filme de terror: o responsável técnico Jeremy Hindle declarou em entrevista à revista "The Verge" que os longos corredores citados foram inspirados no design da nave Nostromo, mostrada em "Alien, o Oitavo Passageiro", de Ridley Scott, lançado em 1979. E de fato, toda a ambientação do escritório da Lumon remete ao clássico setentista, desde os corredores até a tecnologia meio retrô. Embora a estética de "Ruptura" não tenha nada de futuro usado em sua narrativa, é bem evidente a inspiração. Há também muita simbologia envolvida na série, tanto em torno dos signos da empresa, das frases atribuídas aos fundadores e das estátuas deles, quanto referências bíblicas em torno das ações dos personagens.

O roteiro não tem pressa alguma e toma o tempo que precisa para desenvolver sua narrativa, com a cadência necessária, mas não desperdiça absolutamente nada e nenhum tempo utilizado parece desprendido de maneira banal: tudo que acontece parece ter uma função na trama e isso é ótimo, ainda mais quando se está assistindo a um seriado. Ninguém quer passar horas e horas assistindo a encheção de linguiça e os roteiristas parecem realmente ter entendido isso. Inicialmente o roteiro faz com que a relação entre os personagens se estabeleça um pouco como uma comédia de escritório no estilo "The Office" ou "Brooklyn 99", servindo como uma ponte emocional entre estes personagens e o público. Mas desde o começo há uma construção de tensão consistente.

A construção dos personagens é muito boa, todos os protagonistas são bons o suficiente para você se importar com eles e temer por eles quando as coisas ficam tensas. A série despende bastante tempo em criar e desenvolver esses personagens e não tem medo de demorar o tempo que for necessário para isso, ao mesmo tempo em que associa cada um deles a um momento-chave específico para cada, e todos acabam sendo importantes para os momentos finais da temporada, que deixam vários ganchos interessantes a serem desenvolvidos em temporadas futuras. As atuações são espetaculares. Os quatro principais dão show. Temos Adam Scott, Britt Lower, Zach Cherry e John Turturro (sim, o Carmine Falcone, do Batman de 2022) e participações especiais de Patricia Arquette e do lendário Christopher Walken (o Morty de "Click", entre outros papéis). Cada personagem tem uma personalidade muito bem definida e identificável.

Muitas pessoas estão tendo diversas leituras acerca do subtexto da série, algumas sobre existencialismo, outras sobre sobrecarga emocional e saúde mental e outras ainda sobre como o trabalho precarizado é cada dia mais uma norma na sociedade atual. Eu vou nessa onda também, para ser sincero, apesar de achar que a série é bem mais esperta do que parece.

Temos em "Ruptura" referências diretas e indiretas à forma como o neoliberalismo individualiza cada vez mais as relações de trabalho, as atomizando a ponto de tornar os trabalhadores em entes cada vez mais individualistas e procurando fazer com que eles vejam uns aos outros como inimigos em potencial, como, por exemplo, as constantes desmobilizações que a chefia da empresa tenta impor ao departamento de Mark. A força da classe trabalhadora para vencer o sistema está na organização de classe e perseguição em unidade por melhores condições de trabalho e, em uma organização eventualmente mais politizada, para destruir o sistema. A Lumon tanto sabe disso que busca sempre tolher esta organização, procurando a todo momento individualizar os funcionários de cada setor. Preste atenção a quantidade de cenas nessa série onde é referenciada a primazia do "sucesso individual" ou da "supressão do indivíduo em favor do sistema". Não falha.

Mas afinal, o que levaria uma pessoa a tomar a decisão que os personagens tomaram no seriado? Para falar a verdade, acho que as pessoas estão sendo anestesiadas e cada vez mais condicionadas à ideia de que esse é o único jogo a ser jogado, o único sistema a ser aceito e a única forma capaz de organizar a vida em sociedade de maneira satisfatória. A ponto de que, mesmo com as discussões sobre saúde mental e temas como depressão, suicídio e síndrome de Burnout em pauta, os cuidados em torno do subconsciente humano são, ainda assim, extremamente individualizados. Ou seja: dispomos de saúde mental pública muito sucateada e o acesso à saúde mental de qualidade é altamente restritivo. O que quero dizer com isto é: as pessoas se indignam ao se sentirem manipuladas, mas não o suficiente para se revoltarem, e acabam se deixando levar porque querem fugir da dor do dia a dia, da opressão que é viver num sistema que é pensado e estruturado para esgotar até sua última força de trabalho e ainda assim te manter inerte. Assim funciona o capitalismo, especialmente numa época onde suas complexidades estão cada vez mais evidentes: um sistema que não se interessa em parecer bom, e sim em parecer inevitável. 

É por isso que séries como esta são permitidas a existir: a crítica ao sistema dentro do sistema acaba sendo, assim, muito eficaz para suprir a necessidade do público, mas não o suficiente para radicalizá-lo.

Ainda assim, "Ruptura" é de fato uma série fora da caixinha, com uma proposta impactante, ótimas atuações, fotografia maravilhosa e um comentário social ácido.

Uma obra-prima, não há dúvidas.

Nota: 10,0