Muito pelo contrário, para falar a verdade.
Quem me conhece há mais tempo ou leu este blog nos primeiros anos dessa década, sabe de meu desgosto com a figura do espanhol.
Seja por seu senso de si mesmo, exageradamente elevado, seja pela necessidade de auto-afirmação.
Essas duas coisas são até compreensíveis e explicáveis. Alonso passou mais de uma década remoendo promessas que nunca chegaram a se concretizar.
Dono de dois títulos mundiais de Fórmula 1 já distantes, em 2005 e 2006, há quem diga que Alonso merecia muito mais.
E eu concordo.
Que ninguém se engane. Considero Fernando Alonso um dos melhores pilotos da história do automobilismo e isso transcende sua própria história na Fórmula 1.
Os já mencionados dois mundiais conquistados pelo espanhol na categoria máxima, junto com suas 32 vitórias, 22 poles e 97 pódios são números expressivos.
Longe de contemporâneos como Lewis Hamilton e Sebastian Vettel, mas sem dúvida ótimos números.
O próprio Fernando acredita que merecia mais. E, como disse, eu concordo.
Embora haja... hummmm... Como se diz mesmo? Hummm... controvérsias.
Alonso quase sempre teve um péssimo senso de oportunidade ou mesmo de gerenciamento do futuro de sua carreira.
E digo "quase" porque soube muito bem aproveitar a drástica mudança de regulamento em 2005, que desbancou a então poderosíssima Ferrari e empoderou Renault e McLaren, que disputaram o título daquele ano.
Depois disso, só derrocada. Tanto em resultados quanto em controvérsias.
Em 2007, tomou um pito enorme do então estreante Hamilton numa McLaren que deveria ser dominada por ele.
E foi pivô do absurdo escândalo de espionagem que desclassificou sua equipe, em trocas de e-mail com Ron Dennis, fazendo chantagem com o chefe.
2008-2009, esteve envolvido no Singapura-Gate, no qual Nelsinho Piquet bateu propositalmente para influenciar o resultado do GP de Singapura, vencido por ele.
2010. o famoso "Fernando is faster than you", que depôs Felipe Massa da liderança do GP da Alemanha, após o espanhol gritar pelo rádio "This is riddiculous" enquanto o brasileiro o mantinha atrás.
Lembro-me como se fosse hoje do constrangedor pódio. Fernando de sorriso a sorriso. Ignorando completamente o ocorrido em pista.
No final daquele ano, Alonso era franco favorito ao campeonato. perdeu o título para Vettel após uma disputa com o russo Vitaly Petrov durante quase toda a corrida. Inconformado, quase jogou a Ferrari contra a Renault de Petrov após a bandeirada.
Nos anos seguintes, amargou uma série de temporadas muito aquém do esperado com a Ferrari. E sabem do pior? Fernando nunca perdia a chance de cutucar publicamente sua equipe, sobretudo em entrevistas. O clima só piorava a cada uma delas.
Em 2012, quando era de novo favorito, fez uma série de corridas fracas ao final do ano e viu Vettel, seu algoz dois anos antes, novamente tomar-lhe a conquista.
Nos anos seguintes, perdeu força política interna, o que se agravou com a saída de Domenicalli. A Ferrari começou a ficar de saco cheio. Acabou demitido do time italiano por Marco Mattiacci, após todas as farpas trocadas com o time.
Para 2015, um retorno à McLaren estava no caminho do espanhol, com direito a abraço em Ron Dennis e tudo.
Para 2015, um retorno à McLaren estava no caminho do espanhol, com direito a abraço em Ron Dennis e tudo.
A Honda voltava à Fórmula 1 e, ora vejam, equipando os bólidos do time inglês, reeditando a vitoriosa parceria ocorrida entre 1988 e 1993! O que poderia dar errado?
...
Acabou dando tudo errado.
Foi uma merda. O motor era fraco e dava problema o tempo todo.
O chassi, que diziam ser um dos melhores do grid, também não era essa coca-cola toda.
Para completar, eles tinham atrás de um dos volantes ninguém menos do que Fernando Alonso.
E sabem do que mais? Foi ótimo.
Diverti-me à beça vendo Fernandinho comer o pão que o diabo amassou.
Credo, que delícia. Digo, que absurdo. Não senti pena alguma.
Digam o que quiserem. O fato é que Alonso cavou a própria cova ao longo desses anos todos.
Tornou o ambiente de trabalho insustentável em praticamente todas as equipes pelas quais passou. A demissão da Ferrari não foi por acaso.
Em 2015, no Japão, em plena Suzuka, circuito de propriedade da Honda, berrou pelo rádio "GP2 Engine! GP2!".
Os pouco memoriados não hão de lembrar mas eu tenho bastante memória. Alonso desenvolveu um enorme ressentimento em relação a Vettel.
E não fez muita questão de esconder este fato. Seja em entrevistas, seja em disputas de pista.
Quando entrevistado, frequentemente fazia questão de não mencionar o alemão na lista dos melhores da Fórmula 1. Ou de cutucá-lo de alguma forma.
Durante os anos de McLaren, não raro o vi dificultar a vida de Sebastian quando claramente não tinha ritmo para segurá-lo. Isso sem contar a controversa ultrapassagem no GP da China de 2018.
Lá no começo do texto, disse que concordava que Alonso de fato merecia mais.
Mas... lanço-vos duas questões.
A primeira... será que ele realmente fez valer a ideia de que merecia mais?
Por todo o seu retrospecto turbulento e controverso e pelas tentativas mal-sucedidas de ascender a equipes melhores com o fracasso na McLaren, a resposta óbvia é "não".
O que nos leva à segunda pergunta...
Será que a Fórmula 1 realmente sente falta de Fernando Alonso?
Claro que há todo o apelo midiático, carisma público e o aspecto de "lenda" do piloto, que movimentam legiões de fãs do mundo inteiro.
Entre os pares (exceção talvez a Magnussen, mas quem é Magnussen?) Alonso era bem popular também.
Mas ali no núcleo duro da categoria, entre dirigentes de equipes, não me parece que o espanhol arrasa corações.
Especulou-se uma volta de Fernandinho ao certame. Recentemente o asturiano disse que só voltaria à F1 em carro para ser campeão. Alegou ter negociado com a Mercedes.
Mas nem o time alemão, nem Ferrari e Red Bull o querem. Sabem dos potenciais problemas. E já têm seus pilotos-estrela.
E convenhamos, ele não voltaria para andar em pelotão intermediário numa Fórmula 1 na qual os times grandes se distanciam cada vez mais dos médios.
E sabem do que mais?
Tanto McLaren quanto Honda melhoraram quando Alonso saiu fora da brincadeira.
2019 está sendo um ano de evidente melhoria nas últimas corridas para o time inglês.
A Honda, quatro anos depois do "GP2 Engine", voltou a vencer.
Tudo isso nos leva a uma conclusão um tanto quanto inevitável, embora um tanto triste...
Dono de inquestionável talento, números respeitáveis e fome de resultados, mas uma personalidade tóxica e capaz de destruir tudo ao redor de si quando as coisas não saem do jeito que quer...
Alonso é provavelmente o pior melhor piloto que a Fórmula 1 já produziu.
Não acredito muito no "pior piloto que a Formula 1 já produziu", porque isso implicaria que foi a competição que o moldou. Na realidade, já vinha dele, a personalidade. Sempre foi egoísta - todos são, é verdade - mas queria ser um "rei sol", onde tudo giraria à volta dele, e o segundo piloto ficaria com os restos. Ele teve isso com o Flávio Briatore, só que ele foi afastado depois do "Chrashgate".
ResponderExcluirE nunca foi fã do Vettel, e é por causa disso que se vê todo este ódio ao alemão. Lembro-me de 2012, na Índia, onde disse que conseguia isso porque tinha o carro desenhado pelo Adrian Newey. Isso quer dizer que Mika Hakkinen, por exemplo, foi o que foi por causa do Newey? No final, os factos foram estes: teve duas chances da bater o alemão e não conseguiu. E isso lhe dói até hoje. Nele e nos fãs.
A única coisa do qual tiro o chapéu foi de ter ido tentar a sua sorte noutros lados, e conseguiu vitórias e títulos - e o embaraço de não se qualificar para as 500 Milhas de Indianápolis este ano. De resto, foi um piloto marcante.