Não acho que Sebastian Vettel vá durar muito mais na Fórmula 1. Ou no automobilismo.
Não me parece absurdo pensar isso.
Não se enganem. Sou fã de carteirinha do tedesco. Torci por ele na Red Bull e hoje continuo torcendo para ele na Ferrari.
Voltei até a gostar da equipe italiana, pois não me descia Alonso ali dentro.
Vettel é um grande piloto. Fez uma carreira vitoriosa na Fórmula 1.
Conhecido no começo da carreira como um sujeito muito propenso a erros, ele se tornou um piloto relativamente regular durante seus "anos de ouro".
Nunca foi afeito a esses hábitos contemporâneos de internet. Não usa redes sociais.
Não tem Facebook ou Twitter. Dizem as más línguas que criou um Instagram, mas desconfio da autenticidade.
Seus quatro títulos mundiais, 52 vitórias e 56 poles são um currículo mais do que espetacular.
Mas os anos seguintes às conquistas do alemão não foram muito gentis.
Em 2014 foi sistematicamente batido por Daniel Ricciardo. O australiano era quase um novato, fazendo naquele ano sua estreia em uma equipe grande. O pior ano do alemão na Fórmula 1.
No ano seguinte, 2015, Vettel foi para a Ferrari.
Fez um ano excelente, amealhou três vitórias no ano e abriu as especulações para um duelo direto com Lewis Hamilton, seu velho rival de Fórmula 3.
2016, novo apagão. A Ferrari fez um carro ruim. Vettel e seu companheiro, Kimi Raikkonen, sofreram. Nenhuma vitória.
Ao mesmo tempo, Nico Rosberg batia Lewis Hamilton pelo título daquele ano. O canto do cisne de Nico na Fórmula 1.
2017. O caminho para Hamilton se tornar o maior de todos os tempos dentro da melhor equipe da Fórmula 1 estava totalmente aberto.
Ainda mais com o inexpressivo Bottas como companheiro.
Seu único adversário seria Sebastian Vettel, se - e somente se - a Ferrari acertasse a mão no carro.
E ela acertou.
Parecia que ele tinha de fato um calibre muito semelhante ao de Hamilton.
Mas chegou o GP de Cingapura. E aquela batida bisonha entre Vettel, Raikkonen e Max Verstappen. Naquela noite, Hamilton aproveitou e venceu.
Como também venceu o campeonato. Igualou os títulos do alemão.
2018.
Ferrari e Vettel mordidos pela perda dos campeonatos.
Ferrari novamente acertou a mão. Houve quem especulasse inclusive que a escuderia italiana tinha um carro melhor.
Vettel novamente começou muito bem o campeonato.
Chegou o GP da Alemanha. Sebastian havia partido da pole.
Estava tudo indo bem e a corrida parecia se encaminhar para uma vitória do piloto da Ferrari em casa, diante de sua torcida.
Mas aí choveu.
Embaralhou tudo. Sebastian Vettel, que reconhecidamente um dos melhores pilotos do grid sob pista molhada, simplesmente errou e bateu. Abandonou.
Começou uma rebimboca da parafuseta. Vettel começou a protagonizar pelo menos um erro em cada uma das corridas que disputou até então.
Exceção feita, talvez, ao GP da Bélgica, onde venceu incontestavelmente.
Mas uma sucessão de erros bisonhos do alemão fez com que ele novamente perdesse o título.
Ali não tive mais dúvidas. Não queria reconhecer, mas hoje consigo admitir...
Lewis Hamilton é um piloto melhor do que Sebastian Vettel.
Objetivamente. E até em números.
É mais veloz em qualificações, mais consistente em corridas e atualmente erra pouquíssimo.
E se tornou psicologicamente muito forte após o tombo de 2016.
Devo lembrá-los de que quem ora vos escreve é um FÃ de Vettel. E alguém que não vai muito com a cara de Hamilton.
E não tenho problemas para admitir isso.
E não tenho problemas para admitir isso.
E chegamos até 2019.
Raikkonen deixou a Ferrari e foi brincar de correr no pelotão intermediário com a Alfa Romeo.
Em seu lugar entrou o monegasco Charles Leclerc. Excelente piloto, que já vinha mostrando a que veio no ano anterior.
Vettel já começou o ano "bem". Bateu nos testes em Barcelona.
O ano começou mal para a Ferrari, ao passo que a Mercedes engoliu praticamente todas as corridas até o momento - todas com dobradinha exceto Mônaco e Canadá.
Leclerc, por sua vez, tem pavimentado de forma quase incontestável seu caminho na Ferrari.
Na primeira corrida já deu canseira no companheiro. Não fosse uma ordem de equipe, provavelmente o teria superado.
No Bahrein já fez uma pole impressionante. Teria ganho a corrida não fosse um problema em seu motor.
Na mesma corrida Vettel pipocou em uma disputa de posição contra Hamilton e rodou.
Dali em diante estava claro que o tedesco passaria sufoco dentro da equipe.
Charlinho era bom demais.
Nas corridas seguintes, a Ferrari começou a prejudicar Leclerc nas estratégias.
Reflexo da péssima e atrapalhada direção da equipe.
Simultaneamente, Sebastian simplesmente não entregava o que dele se esperava.
Seu primeiro "grande" resultado do ano acabou sendo o segundo lugar em Mônaco, graças a uma contestada punição aplicada a Verstappen.
E aí veio o GP do Canadá.
Seb brilhou. E brilhou com luz similar à sua época gloriosa. Como há muito não fazia.
Uma pole espetacular.
E iria vencer a prova, não fosse aquele erro.
Um erro humano e compreensível.
Mas um erro.
Foi punido. Perdeu a vitória. Ficou puto. Com razão.
Ainda assim, cometeu um erro.
Erros tomam parte muito significante no currículo recente do alemão.
Ao mesmo tempo, Vettel tem se mostrado muito desanimado com a Fórmula 1.
Ferrenho crítico aos regulamentos atuais e aos motores pouco barulhentos desde 2014, ele parece estar começando a ficar realmente de saco cheio.
Já se especulava que ele poderia deixar a categoria ao final do ano.
Se for verdade, a punição em Montreal pode ter ajudado ainda mais nessa vontade.
A qualificação para o GP da França, hoje, pode ter sido mais um sinal dessa indisposição.
Sétimo lugar com uma Ferrari e atrás das duas McLaren é muito pouco.
Não seria realmente um espanto se ele anunciasse a aposentadoria.
Tem quase 32 anos. Acabou de se casar. Casou-se, aliás, com Hanna Prater, mulher com quem começou relacionamento desde a escola. Tem duas filhas lindas.
"Amante à moda antiga", dizem.
Enfim.
Não é mais um garotão de tudo. É um homem feito, com uma família para amar e cuidar.
Tem muitas responsabilidades que vão além da diversão de correr a mais de 300 km/h arriscando o cu em um carro de corrida que quase bate no chão.
Ele se aposentar agora não seria nada absurdo.
E tampouco apagaria seus méritos como piloto.
Não se tornou o melhor piloto de todos os tempos. Nem mesmo de seu próprio tempo.
E nem repetiu os feitos de Schumacher.
Mas escreveu sua própria história no automobilismo. Uma linda história.
Depois de Schumacher, Vettel é e sempre será o meu piloto número 1.
Nenhum comentário:
Postar um comentário