quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Sobre amor saudável (?)


Estive pensando sobre algumas coisas tocantes à questão dos relacionamentos amorosos.

Especificamente, pensei sobre términos de relacionamento.

Alguns casais se separam e cada um segue sua vida em frente.

Outros voltam depois de um tempo.

E ainda em alguns outros, acontece de uma das partes não conseguir esquecer a outra.

E aí começa o calvário.

Dor. O dia todo, todos os dias.

E você não consegue esquecer a essência de seu cheiro, o sabor dos seus beijos, o delicioso aconchego dos seus abraços.

É compreensível, amigo. Imagino como deve ser este sentimento.

Mas e se em decorrência disso você começar a agir de forma inoportuna e inconveniente em relação a esta pessoa?

E se importuná-la com seus pedidos de volta, suas juras de amor eterno, sua paixão indômita?

Porque sim, isso satura.

Às vezes o afastamento é a melhor coisa que essa pessoa pode fazer em relação a você.

Antes de pensar que ela quer machucá-lo ao se afastar, primeiro pare para pensar.

Pense se o que está fazendo em prol desse objetivo é saudável para você.

O contato dói. Ver e não poder é difícil, duro, brabo, doloroso. 

Tão perto, mas tão longe.

Pense que ela pode estar simplesmente tentando poupar você de mais sofrimento.

Pense se suas investidas sobre ela dão frutos. O que você fez até aqui não deu certo?

Se não deu, pense sobre se ela quer ser conquistada, pense sobre se a felicidade dela tem a ver com a sua.

Pense se ela precisa estar com você para estar feliz tanto quanto você precisa dela.

Mas acima de tudo: Pense se é saudável você precisar de alguém para ser feliz.

domingo, 27 de setembro de 2015

Sobre destemperos


O destempero de Fernando Alonso no Grande Prêmio do Japão foi visível (e principalmente audível) para todos que viram a prova.

O espanhol estava possesso. Endiabrado. Angustiado. Puto da cara, mesmo.

Alonso havia até largado bem. Era o nono após a partida e se aproveitou dos vacilos costumeiros a uma largada.

Mas seu carro simplesmente não rendia no velocíssimo circuito de Suzuka. Alonso era uma chicane ambulante, tamanha sua lentidão.

Pelo rádio, as pérolas foram incontáveis. "É embaraçoso", disse o espanhol pelo rádio. Também reclamou da aderência, dizendo que parecia estar "guiando no gelo".

Patético.

Além de lento, o carro ainda é difícil de guiar.

O problema da McLaren não se limitava ao motor, afinal de contas.

A medida em que o espanhol sofria com o desempenho pífio de sua McLaren-Honda e era ultrapassado, eu previa sua fúria caso fosse ultrapassado, por exemplo, por um pivete sem cabelos no saco Max Verstappen.

E assim foi. Na volta 26, o asturiano tomou um passão de Verstappinho.

Por fora.

Era demais para o pretenso espanhol. Rei dos céus e do inferno, tamanha humilhação era inaceitável.

Enfurecido, Alonso disse pelo rádio: "GP2 engine. GP2. Aaaargh!"

A fúria do espanhol provocou estupor em alguns. Choque em outros. Fúria na cúpula da Honda? Com certeza. Pensei até que Alonso queria mesmo era ser demitido.

A mim? Divertidíssimo.

As inúmeras pérolas provocaram-me risadas fartas.

Não é segredo para ninguém que não gosto de Alonso.

Ri mesmo. Digo sem a menor reserva ou ressalva.

A paciência do asturiano esgotou. O clima na McLaren-Honda é cada vez mais detonador, destrutivo. E os japoneses não vão tolerar a humilhação que sofreram em seu próprio circuito, em sua casa.

Alguns dizem que um piloto como Alonso não merece passar por situação tão constrangedora.

Eu digo que ele merece, sim. E exatamente por ser este tipo de piloto.

Um mau jogador de equipe, arrogante, prepotente, irredutível, tremendamente cheio de si.

E, acima de tudo, um cara com péssima perspectiva profissional.

Não me entendam mal. Acho Alonso um dos mais habilidosos da atualidade na arte de conduzir um carro de corrida. Preciso. Cirúrgico.

Mas o espanhol é o único e total culpado de todas as desgraças que lhe acometeram neste ano de 2015.

Eu disse no começo do ano que o espanhol não iria aguentar essa situação por muito tempo.

Queimei a língua, ele aguentou até mais do que eu esperava. Mas ainda assim pouco, em vista da extensão do contrato que hoje o prende à McLaren.

De qualquer forma, tenho certeza que hoje, o que mais Alonso quer é se livrar da McLaren e ir ser feliz no WEC ou onde quer que seja.

Não estranharia se ele pagasse uma multa astronômica só para desistir do contrato.

Idade para chorar pitangas no pelotão da merda da Fórmula 1, Alonso não tem mais.

Aos 34 anos e completados 10 anos de seu empoeirado primeiro título mundial, é até justo que a paciência acabe.

É velho para os padrões da Fórmula 1, mas uma criança com um mundo a ganhar, se desenvolver fora dela a paciência e astúcia que lhe faltam.

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Sobre crueldade

Primeiro: Isso não terá nada a ver com automobilismo.

Segundo: Isso aqui vai ser textão.

E um bem chato.

Portanto, quem não quiser ler textão, melhor fechar a aba ou ir ver outra coisa mais interessante.

Isto posto, vamos às divagações.


Vivemos numa sociedade cruel.

Um sistema no qual não nos é permitido parar e pensar: Por que não paramos?

Porque a nossa função, ou ao menos a função que é esperada de nós, é que não paremos.

Numa sociedade cujos dois grandes preceitos capitalistas são o trabalho e o consumo - sendo um o produto/objetivo do outro,

E tem dado certo para o tal sistema.

Embora em alguns lugares, como no Brasil, se pregue o contrário, a verdade é que trabalhamos mais nos dias de hoje do que em toda a história da humanidade. E, de forma curiosa mas não surpreendente, geralmente o que nos sobra em tempo livre é depositado na capacidade de consumir.

Essa é a dialética que tem pautado a sociedade capitalista, a meu ver: um ciclo vicioso entre trabalho e consumo.

Mas não vou entrar no mérito de fazer uma crítica ao capitalismo aqui, pois é um assunto que levaria esse blog inteiro à falência, aliado ao fato de que não disponho de bagagem intelectual para tanto.

Ao mesmo tempo, a mesma sociedade carrega outro estigma: O foco maior no indivíduo. E isso é sustentado por teóricos da pedagogia, como Carl Rogers.

Ora veja, um dos assuntos mais comentados no momento vigente é a depressão enquanto o mal do século XXI e a preocupação sobre esta enquanto se torna cada vez mais um problema de saúde pública.

E a depressão é, essencialmente, um problema que mexe com a subjetividade de cada indivíduo, cada caso devendo, portanto, ser tratado de acordo com a gravidade do nível da depressão, aliada à subjetividade do paciente. Não é um trabalho fácil, creio eu.

Assumindo essas ideias como sendo válidas, a questão que se propõe, afinal é a seguinte...

A intersecção destes fatos é apenas uma ironia?

Ou uma judiação inescrupulosa?

Ou ainda uma indecisão natural, tendo em vista que esta é uma sociedade marcada por múltiplas defesas de valores, até certo ponto individuais entre si, que parece viver grandes conflitos de identidade e que por isso não sabe o que quer?

Paremos para pensar sobre isto um pouco.

domingo, 20 de setembro de 2015

Sobre gente que faz história



A Fórmula 1 teve seu melhor final de semana em muitos anos.

Nem parecia a Fórmula 1 2015.

Mais parecia a época em que a Ferrari dominava a Fórmula 1, os tempos de Michael Schumacher.

A surpresa já começava, em termos, nos treinos de sexta. A Mercedes só liderou o primeiro treino.

Depois, só deu Red Bull e Ferrari.

Tudo bem, até aí. "A Mercedes está escondendo o jogo", pensamos todos em uníssono.

Sim, estava escondendo. Escondeu tão bem que não achou mais.

Na classificação, as forças se polarizaram entre Ferrari e Red Bull. A Mercedes ocupou o pelotão intermediário do top-10.

Na briga pela pole, Sebastian Vettel e Daniel Ricciardo, velhos conhecidos dos tempos de Red Bull, se digladiaram. O tetracampeão levou a melhor sobre o jovem australiano, por mais de meio segundo. Foi a primeira pole de uma Ferrari desde o GP da Alemanha 2012, com Fernando Alonso.

Sua penúltima volta lhe garantia a pole por mais de um décimo. O alemão, perfeccionista, baixou mais quatro e depois saiu reclamando que não havia feito o melhor que podia.

Quebrou o recorde da pole. Tinha talvez esquecido a essência da quebra de um recorde.

Na corrida, foi perfeito. Largou bem, andou como precisou nas horas certas e não deu chances a Ricciardo, que eventualmente apresentou ritmo superior. Nem as entradas de Safety Car foram um empecilho.

E venceu sua terceira no ano, a 42ª na carreira. Superou Ayrton Senna e se tornou o terceiro maior vencedor da categoria. Uma marca histórica, é verdade. Mas sem dramas. Sem chororôs. Apenas mais uma vitória colecionada.

Uma vitória maiúscula.

Daniel Ricciardo foi o segundo, depois de uma corrida em que foi perfeito, mas seu rival também. Kimi Raikkonen, hoje sem problemas, finalmente conseguiu chegar ao pódio junto a Vettel e coroar o final de semana perfeito da Ferrari.



As Mercedes não ganharam nada, mesmo. Nico Rosberg foi o quarto depois de muito garimpar. Lewis Hamilton abandonou com problemas de potência na sua unidade motriz. Que dia...

Com isso, Vettel vai a 203 pontos. Rosberg, o vice, apenas 8 pontos à frente. Hamilton, que abandonou, tem 252. Ainda é franco favorito ao tricampeonato. 

Menção honrosa para Max Verstappen, que cada vez mais ganha meu respeito. O jovem holandês ficou parado na largada e chegou a tomar volta dos adversários. Mas com uma mãozinha das entradas do safety car, conseguiu escalar o pelotão e chegar a uma merecida oitava colocação.

No final, a equipe lhe pediu para deixar Sainz passar e tentar passar Pérez. Ao que o pivete respondeu "No!" veementemente. Não consigo expressar direito a admiração por esse momento.

Rápido e louco. É disso que o povo gosta, Verstappinho. Hoje NÃO!

E na boa? A Fórmula 1 estava precisando de um final de semana como este. Por mais que a corrida tenha sido chata, foi maravilhoso ver a Mercedes no nível dos mortais, tomando tempo.

E vamos para Suzuka, onde tudo deverá voltar ao normal, com a Mercedes franca favorita a tudo.


sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Quando uma mulher finalmente triunfou

Sete anos atrás, o mundo vivia uma de suas maiores crises econômicas jamais vistas. 

Sete anos atrás, víamos diversas histórias sendo escritas, compondo uma parte memorável de nossa linha cronológica.

Uma dessas foi, sem dúvida, foi escrita no dia 20 de abril de 2008.

A Fórmula Indy é tida como uma das grandes categorias internacionais de monopostos no mundo, perdendo em prestígio apenas para a poderosa Fórmula 1.

Nossa história se passou na Indy Japan 300, corrida realizada no Twin Ring Motegi. A corrida foi adiada em relação à data programada originalmente, 19 de abril devido ao fato de o circuito estar muito encharcado pela água. 

Assim, não houve tempo hábil para classificação e os pilotos foram obrigados a largar de acordo com a classificação do campeonato de pilotos. Portanto, a pole ficou com o brasileiro Hélio Castroneves, da Penske, seguido por Scott Dixon, da Ganassi e Tony Kanaan, da equipe Andretti. Marco Andretti, Dan Wheldon, Danica Patrick, Ed Carpenter, A.J Foyt IV, Hideki Mutoh e Ryan-Hunter-Reay completaram o top-10.


Na largada, Marco Andretti bateu no muro logo na primeira volta, causando uma amarela. As 95 voltas seguintes viram a liderança de Helio Castroneves, beneficiando-se da pole-position. Um erro de sua equipe no pit-stop prejudicou a troca de seu pneu dianteiro direito e ele perdeu a posição para Scott Dixon.

O que pautou a luta pela vitória, porém, não foi outra coisa senão a estratégia de combustível. Ao final da prova, ao passo que Helio Castroneves tinha dificuldades para controlar o consumo de seu carro, Danica Patrick, que até então não havia mostrado grande performance na prova, surgiu na primeira colocação graças à ousada estratégia da Andretti, e assumiu a liderança para não mais perder. 

Assim, ao fim das 200 voltas, Danica Patrick, à época conhecida como "Mulher-maravilha", triunfou pela primeira vez no automobilismo. 


Não apenas isto: Trouxe a presença feminina ao panteão dos nomes a vencerem uma corrida em um campeonato de prestígio internacional. Um grande feito.

Ao seu lado, no pódio, grandes ícones carimbaram sua faixa de campeã: Helio Castroneves, hoje tricampeão das 500 milhas de Indianápolis, e Scott Dixon, tetracampeão da Indy.

Que o feito de Patrick não tenha sido único.

Que o futuro traga uma participação maior das mulheres nas corridas de automóveis.

Todos e TODAS queremos, certamente.


GP de Motegi de 2008: Resultados

1. Danica Patrick (EUA/Andretti-Green)
2. Helio Castroneves (BRA/Penske)
3. Scott Dixon (NZL/Ganassi)
4. Dan Wheldon (ING/Ganassi)
5. Tony Kanaan (BRA/Andretti-Green)
6. Ed Carpenter (EUA/Vision-Racing)
7. Ryan-Hunter-Reay (EUA/Rahal-Letterman Racing)
8. Darren Manning (ING/A.J. Foyt Racing)
9. Ryan Briscoe (AUS/Penske)
10. Townsend Bell (EUA/Dreyer & Reinbold)
11. Hideki Mutoh (JAP/Andretti-Green)
12. Buddy Rice (EUA/Dreyer & Reinbold
13. Jay Howard (ING/Roth Racing)
14. Roger Yasukawa (Greg Beck Motorsports)
15. A.J. Foyt IV (EUA/Vision Racing)
16. Vitor Meira (BRA/Panther Racing)
17. Marty Roth (CAN/Roth Racing)
18. Marco Andretti (EUA/Andretti-Green)