Saudações, senhoras e senhores que acompanham este blog a cada post (ou seja, ninguém, o que me torna potencialmente o único leitor de mim mesmo).
Sou um grande fã da franquia Harry Potter.
Fã de colecionar umas bugigangas, ter todos os livros, todos os filmes em dvd e me divertir à beça com as aventuras de Harry & sua Turma contra o vilão, Lorde Valdemar.
Mas confesso que não sou um fã acrítico. Há muita coisa na franquia que me desanima profundamente hoje em dia. É bem verdade que Harry Potter se tornou uma das máquinas de fazer dinheiro mais lucrativas deste século, ao passo que toneladas de produtos relacionados com o bruxo teen são lançadas ano após ano. É verdade também que a autora, J.K. Rowling, já teve dias melhores e hoje sofre um merecido backlash após suas controversas falas e condutas sobre a população LGBT, em especial as pessoas trans, alegando militar pelo feminismo ou qualquer merda dessas.
Mas aqui não nos alongaremos sobre isto. Este texto se propõe a ser aquilo que seu título sugere. Passaremos pelos oito filmes da franquia Harry Potter (ou seja, a saga de Voldemort) com seus pontos positivos e negativos. Tenho assistido aos filmes ultimamente, um por um, e tomado nota de algumas características dos mesmos, do ponto de vista do cinema. Não serão feitas comparações com os livros, por óbvio, mas faremos alguns apontamentos no que diz respeito às pretensões adaptativas destes filmes em relação ao seu material-fonte.
Harry Potter e a Pedra Filosofal (2001)
Dirigido por Chris Colombus, de "Esqueceram de Mim" e "O Homem Bicentenário", Pedra Filosofal inaugura a franquia com os dois pés na porta, inaugurando o mundo mágico Harry Potter com estilo.
Pontos positivos: O elenco é espetacular, trazendo o trio mirim mais reconhecível da década passada. Daniel Radcliffe, Emma Watson e Rupert Grint compõem excelentes protagonistas, cada um com suas qualidades e defeitos bem estabelecidos. Tom Felton também é um baita ator mirim, fazendo o rival de Harry, Malfoy, e você o odeia logo de cara pela sua atitude. O elenco adulto também é recheado de clássicos, com Richard Harris fazendo a versão mais aclamada de Dumbledore e as participações marcantes de Alan Rickman, Maggie Smith, Robbie Coltrane, Warwick Davis e outros. O roteiro é muito bem estabelecido em torno de um excelente sistema de pista e recompensa que permeia o mistério, algo que vai se repetir nos próximos dois filmes com excelência. A direção é competente e estabelece o ritmo perfeito para um filme introdutório, e se permite tomar o tempo necessário para introduzir cada elemento que julga importante para compor a atmosfera do mundo mágico, ao passo em que o protagonista principal é a figura com que o espectador mais se identifica, por estar vendo tudo aquilo pela primeira vez, e a direção faz questão de mostrar o deslumbramento de Harry, que acaba sendo por tabela o nosso. A trilha sonora é excepcional, com John Williams estabelecendo um dos trabalhos mais marcantes de sua longa carreira e que deu o tom musical da franquia: os acordes escutados aqui se repetirão ao menos uma vez em cada um dos filmes seguintes. A fotografia é outro ponto alto, com muitos planos sequência engrandecedores e que dão a sensação de maravilha inerente àquele mundo, sendo provavelmente o mais reconhecível aquele em que os alunos novos chegam de barco até Hogwarts, que começa como um plano zenital em cima dos personagens e lentamente se abre para um plano aberto mostrando a grandiosidade do castelo.
Pontos negativos: Difícil falar mal desse filme. Não há muito o que destacar, é um filme que erra pouquíssimo. Talvez a falta de um aprofundamento maior no mundo mágico e personagens secundários um pouco menos unidimensionais, mas como se trata de um filme introdutório, é tranquilo, ainda mais sabendo que isso melhora razoavelmente nos filmes seguintes (ao menos nos próximos dois).
Não há muito mais o que falar sobre Pedra Filosofal, é um marco na história recente do cinema e sem dúvida um clássico moderno.
Harry Potter e a Câmara Secreta (2002)
Chris Colombus é mantido na direção aqui, e isso ajuda o filme a manter muito daquilo que tornou o primeiro tão bom e adiciona algumas camadas de suspense e até mesmo elementos de terror que tornam este filme quase único na saga.
Pontos positivos: O filme se aproveita do fato de que tudo o que havia de interessante saber como introdução já fora explicado no filme anterior e aqui ele não perde tempo para introduzir novos e interessantes elementos. Aqui, porém, o filme se destaca pelo suspense: não leva dez minutos da projeção para sermos introduzidos ao conflito de maneira misteriosa através do elfo doméstico que aparece no quarto de Harry, e a escala de tensão só vai aumentando até o primeiro choque, com as vozes ouvidas pelo protagonista e mensagem escrita com sangue nas paredes da escola, que marca o fim do primeiro ato. A direção de Colombus é extremamente eficaz em dosar a tensão para atiçar o espectador a descobrir o que está acontecendo, fazer o sistema de pista e recompensa e ao mesmo tempo não deixar o filme se perder em uma atmosfera completamente sombria, fazendo-o ainda palatável para o público infanto-juvenil, o que é um grande feito, já que este filme possui elementos de terror muito fortes: personagens escutando vozes, monstros gigantes, animais causadores de fobias e, como a cereja da cobertura, a noção de que qualquer um pode ser atacado a qualquer momento, o que torna a tensão ainda mais forte quando você se importa com os protagonistas. As atuações continuam muito boas, com as adições de Keneth Branagh (Gilderoy Lockhart) e Jason Isaacs (Lucio Malfoy) ao elenco, que conseguem fazer de seus personagens elementos bem detestáveis. Uma pena que aqui marca a última aparição de Richard Harris no papel de Dumbledore, pois ele morreu poucas semanas antes do lançamento do filme. John Williams dispensa apresentações na trilha sonora, mantendo alguns temas marcantes e adicionando alguns novos. Os efeitos especiais estão bons para a época, a maioria envelheceu bem.
Pontos negativos: Devido a manutenção da direção, o filme não traz tantas coisas novas no design de produção (exceto pelo visual da casa dos Weasley, a Toca, que é belíssimo, divertido e instigante) e nem na fotografia, que é muito parecida com a do filme anterior. Alguns efeitos especiais do filme estão datados hoje em dia.
Assim como o primeiro filme, é difícil falar mal deste, pois o padrão de qualidade é mantido e ele traz algumas coisas novas, resultando em uma experiência que consegue mesclar diversão e suspense de forma quase perfeita.
Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban (2004)
Chris Colombus saiu da direção aqui e permaneceu apenas como produtor, mas deixou um substituto ainda melhor: Alfonso Cuarón. O diretor mexicano registrou aqui qualidades que depois foram ratificadas em filmes como "Gravidade" e "Roma", pelos quais recebeu o Oscar (ou prêmio do careca desinibido, para os íntimos), deixando como legado para os fãs o último filme considerado como uma unanimidade na franquia.
Pontos positivos: Como já se pode imaginar, a direção aqui é o ponto forte. Alfonso Cuarón entrega cenas espetaculares com a melhor fotografia de todos os filmes até aqui. Cuarón também entrega um excelente suspense, do mesmo nível do filme anterior (se não for melhor) e que gira em torno de uma ameaça que se faz constante, próxima, perigosa e extremamente furtiva, o que ajuda a construir uma permanente tensão sobre quando Sirius Black, o vilão principal, vai aparecer, e um mistério que desencadeia o mesmo sistema de pista e recompensa do filme anterior, tão bom quanto. A trilha sonora também ajuda a compor com o suspense, e aqui temos mais uma vez John Williams fazendo um grande trabalho, com músicas emocionantes, épicas ou assustadoras, a depender do que o momento do filme pede. Temos novidades no design de produção, com a ambientação do castelo sendo bastante melhorada e se tornando mais coerente com o aspecto montanhoso da região onde está situado e não apenas cenários planos como nos filmes anteriores, bem como alguns elementos visuais definitivos da franquia. Nada a comentar sobre as atuações, que mantêm o nível, exceto por Michael Gambon, que substitui o falecido Richard Harris com classe, e a adição de Gary Oldman, que só aparece de fato no terceiro ato, mas rouba a cena e eleva o nível com gosto, com seu misterioso personagem Sirius Black. A resolução do mistério em volta do personagem é satisfatória e o filme não se apressa, entregando migalhas aos poucos sobre o que de fato vai acontecer. Os efeitos especiais estão melhores do que nunca, o que rendeu uma indicação ao Oscar daquele ano, mas perdeu para Homem-Aranha 2. Roubam a cena o hipogrifo Bicuço e a aparência assustadora dos dementadores, que torna este filme em alguns momentos em pé de igualdade com "Câmara Secreta" no quesito suspense/terror.
Pontos negativos: Não é exatamente um ponto negativo, por ser uma reclamação pessoal minha e que não tem a ver com a análise dos elementos do filme em si, mas quando você lê o livro, é difícil não sentir falta de coisas que ficaram de fora, como o foco na Copa de Quadribol, que constitui alguns dos momentos mais divertidos do material-fonte. De resto, este filme funciona bem como adaptação, piscando para alguns dos momentos dos livros de uma forma que quem leu vai pescar. E são rápidos: viu, viu. Não viu, bola pra frente.
No fim, Prisioneiro de Azkaban é realmente o último dos filmes realmente bons da franquia, cuja qualidade e elementos conceituais deixam saudades.
Harry Potter e o Cálice de Fogo (2005)
A direção aqui ficou a cargo de Mike Newell, que nunca fez nada muito expressivo no cinema e é mais conhecido por seus trabalhos na televisão.
Pontos positivos: A direção se vira como pode para deixar as coisas interessantes, e até possui alguns momentos de brilho, como as cenas de suspense envolvendo os comensais da morte e os preparativos para o ressurgimento de Voldemort, e as cenas de ação do torneio tribruxo. As atuações estão ok, com destaque para o carismático Robert Pattinson em começo de carreira como Cedrico Diggory e a chegada de Ralph Fiennes no papel de Lord Voldemort. Alguns efeitos visuais em computação gráfica de fato impressionam, como os dragões, mas o mais impressionante foi a maquiagem do ator Ralph Fiennes para viver Valdemar, numa mistura de efeitos práticos com um leve CGI no nariz para parecer ofídico. John Williams deu lugar a Patrick Doyle na trilha sonora e isso custou seu preço, mas até que o trabalho de Doyle combinou um pouco com a atmosfera deste filme.
Pontos negativos: Aqui as coisas começam a ficar esquisitas. "Cálice de Fogo" é um dos livros mais longos da saga, e por isso a produção chegou a cogitar dividir o filme em dois. Passei anos criticando o diretor pelo declínio de qualidade deste filme em relação aos anteriores, mas com uma rápida pesquisa sobre bastidores, fica claro que a maior culpada foi a Warner Bros, que liberou pouco dinheiro para o orçamento do filme e não permitiu que fosse dividido. Atitude inexplicável, a meu ver, já que mais filmes manteriam os fãs interessados por mais tempo e teria sido uma decisão bem mais coerente com o aspecto adaptativo do projeto. O sistema de pista e recompensa não funciona tão bem aqui, já que é possível antever quem de fato é que está arquitetando as coisas sem muita dificuldade, já que o roteiro não é muito apegado a sutileza, que era um dos pontos fortes dos projetos anteriores. A fotografia faz o que pode, mas não é tão inspirada. Algo que me incomoda um pouco neste filme é que ele parece até uma versão bizarra dele mesmo dirigida pelo Rob Zombie, onde todos são cabeludos. O elenco principal está ok, mas não tem tanta chance para brilhar, dado que o roteiro se apressa em acochar o máximo possível a história para caber em 157 minutos de projeção (pouco mais de 2 horas e meia). A direção também peca um pouco ao orientar Michael Gambon a atuar de forma agressiva demais, dando a Dumbledore uma caracterização inexplicavelmente impaciente.
Este filme começou a dar o tom do que viria a seguir em termos de qualidade na saga, mas apesar dos vários defeitos, conseguiu se manter divertido o suficiente para ser minimamente notável, e seus defeitos provém da irredutibilidade do estúdio no interesse em manter um orçamento enxuto.
Harry Potter e a Ordem da Fênix (2007)
E finalmente temos o começo da era David Yates. O britânico foi alçado ao posto de diretor neste filme após se dar muito bem em trabalhos na televisão, e analisando seu trabalho a partir desta informação, há elementos encontrados aqui que fazem sentido.
Pontos positivos: A direção de Yates neste filme é ágil e eficiente em mostrar as consequências do filme anterior e como elas afetaram a vida dos protagonistas e a atmosfera do mundo bruxo. A fotografia é melhor que a vista em "Cálice", reforçando o tom sombrio de forma bem mais apropriada. Gosto de pensar que o design de produção estabeleceu os elementos visuais definitivos da franquia a partir daqui. Temos excelentes estreias nas atuações, como a de Evanna Lynch no papel de Luna Lovegood e Helena Bonham Carter como a surtada psicopata Bellatrix Lestrange, e os retornos de David Thewlis (Lupin) e Gary Oldman (Sirius Black), mas quem rouba realmente a cena é Imelda Stauton. A atriz dá vida a uma das personagens mais odiadas de toda a franquia, Dolores Umbridge, e dá show. Sua Umbridge é sádica, cruel e imponente, criando alguns dos bordões mais reconhecíveis da saga. O roteiro sabe da importância de Umbridge na história e o coloca no centro das atenções durante os dois primeiros atos. Aqui o sistema de pista e recompensa acabou e dá lugar aos conflitos abertos entre os personagens e a preparação do núcleo de Harry & sua turma para combater as forças de Voldemort. Algo interessante a se notar é que o filme envelheceu bem no que diz respeito a crítica social, já que explora muito bem a ideia do negacionismo, atualmente tão discutido, na figura do personagem Cornélio Fudge, ministro da magia, que se recusa a aceitar as consequências do retorno de Voldemort e promove uma literal caça às bruxas a todas e todos aqueles que insistam em avisar sobre o retorno do Lorde das Trevas. Outro ponto positivo é que o filme começa a amadurecer os personagens para além dos estereótipos comuns: Harry, Rony e Hermione começam a ter mais comportamentos condizentes com adolescentes naquela fase de espichar rápido, o que obviamente inclui todas as complexidades inerentes: dúvida, sensação de isolamento, angústia, raiva e outras sensações muito experimentadas por pessoas nessas faixas etárias. É bom também vermos os primeiros passos de Harry no amor, em seu romance com Cho Chang (Katie Leung). Havia química ali e era bacana vê-los juntos.
Pontos negativos: Este é um filme que surpreendentemente erra pouco, mas se for para colocarmos algum ponto que tenha deixado a desejar, este seria o ritmo: é muito lento em alguns momentos e pouco inspirado. E a trilha sonora de Nicholas Hooper também tem algumas faixas interessantes, mas no geral não é nada demais.
"Ordem da Fênix" é o melhor dos filmes "meia-boca" da franquia e parecia dar a entender que teríamos um final de saga digno da grandiosidade que a saga merecia, embora isso não fosse garantido.
Harry Potter e o Enigma do Príncipe (2009)
David Yates é mantido na direção pelo restante dos filmes e acaba sendo forçado a fazer uma série de cortes em relação ao material fonte.
Pontos positivos: A cena inicial é muito boa, com movimentos de câmera ousados atravessando a Londres para mostrar a atividade dos comensais da morte e as consequências da ascensão de Voldemort sendo sentidas tanto no mundo bruxo quanto no dos trouxas. As atuações, na maior parte, são um ponto muito forte aqui, com os atores principais super à vontade e desenvolvendo seus personagens muito bem na questão da adolescência em ebulição, com os hormônios aflorando em profusão. Nisso se destacam Rupert Grint e Emma Watson, que dão os primeiros passos mais evidentes do romance de seus dois personagens e o fazem muito bem. Mas o filme é dele: Tom Felton está melhor do que nunca na pele de Draco Malfoy. O personagem tem muito destaque neste filme e Felton não faz feio, desenvolvendo as complexidades do jovem garoto em sua jornada para se tornar um comensal da morte. Destaques também para Helena Bonham Carter, que tem mais tempo de tela para desenvolver Bellatrix Lestrange, e a presença do oscarizado Jim Broadbent no papel do complexo professor Slughorn, cuja entrada na história dá o pontapé inicial para o conflito principal do longa. Alan Rickman também está muito bem como Snape, mostrando a evolução de seu personagem e o conflito que ele enfrenta como agente duplo de Dumbledore e Voldemort. Os efeitos visuais seguem o padrão de qualidade da saga, sendo um destaque as cenas de Harry e Dumbledore na caverna, onde o diretor de Hogwarts faz um feitiço flamejante para afastar as criaturas mortas-vivas (inferi). Aliás, é bom ver o desenvolvimento da amizade entre Harry e Dumbledore, o que é uma evolução narrativa em relação ao filme anterior.
Pontos negativos: Este filme é tão recheado de problemas que é difícil saber por onde começar. Mas vamos fazer um esforço. Bom, comecemos pela fotografia, que tem um filtro sépia e embaçado durante quase toda a projeção por... algum motivo que eu não entendi até hoje. Se o ar sombrio do filme anterior era denunciado pelas cores quase sempre muito frias, aqui a fotografia se perdeu completamente. O resultado disso é que fica parecendo que alguns atores fizeram botox ou algo assim. As atuações de Daniel Radcliffe e Bonnie Wright são boas, mas que me perdoem os fãs, Harry e Gina não têm química alguma juntos, ao menos aqui neste filme. A problemática já começa por uma cena de flerte esquisita de Harry a uma garçonete no começo do filme, que não leva a lugar algum e é jogada para debaixo do tapete bem rápido. E aí o garoto chega à casa dos Weasley já muito interessado romanticamente em Gina sem qualquer contexto anterior, e tudo piora quando literalmente algumas cenas antes ele estava dando em cima de outra pessoa. Isso pode até fazer algum sentido com a idade de Harry, mas é meio constrangedor vê-lo querendo virar uma espécie de garanhão casual. E aí tem as cenas deles flertando... e tudo só piora. As cenas são constrangedoras e os atores parecem estar com vergonha. E nem vou falar sobre o momento do beijo entre os dois porque senão começo a xingar. Agora falemos sobre o fator "adaptação". Eu entendo que o livro é o livro e o filme é o filme, mas aqui o roteiro abusa da boa vontade do espectador em tentar separar livro de filme e simplesmente jogam informações sem contextualização alguma (a exemplo do romance entre Harry e Gina) e que exigem do espectador algum conhecimento prévio do material-fonte e o resultado é um filme muito confuso em alguns momentos, principalmente para quem não leu o livro, que é considerado um dos mais densos e sombrios das saga. E bem... todas e todos concordamos que o maior defeito deste filme é, em muitos momentos, a falta de amplitude dramática nos momentos de tristeza e melancolia. A morte de Dumbledore é uma cena quase que totalmente blasé e sem emoção, feita para cumprir tabela. O tempo que poderia ser dado para desenvolver o drama desta cena é preenchido por coisas bizarras como Bellatrix Lestrange destruindo coisas e colocando fogo na cabana de Hagrid, o tipo de coisa que choca, não é? Não. Isso é só pessoas malvadas fazendo maldades, isso não choca nem o ovo da galinha.
Não tem o que falar, "Enigma" é sem dúvida o pior filme da saga e erra em quase tudo que pode errar, desde o fator adaptativo até a completa falta de sensibilidade para tratar de temas que deveriam ter maior desenvolvimento dramático. Embora não seja completamente uma bomba, é um filme muito dispensável em suas próprias qualidades e seria completamente passável, não fosse o fato de apresentar uma ou outra coisa necessária para a conclusão da saga.
Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 1 (2010)
Pontos positivos: Finalmente um filme em duas partes, algo que já era necessário para quase todos os filmes desde "Cálice de Fogo". A direção de Yates usa e abusa desse fator para desenvolver tudo o que precisa desenvolver para a épica conclusão neste filme aqui e não se atropela, fazendo com que o ritmo do filme seja muito bom. As cenas iniciais são muito boas e possuem mais amplitude dramática do que quase todo o filme anterior. Chega de dramas adolescentes, aqui a coisa é séria desde o início e os personagens são forçados a tomar decisões importantes e fazer sacrifícios doloridos desde o início para não comprometer a vida daqueles que amam. O elenco principal está melhor do que nunca, com o trio Radcliffe-Grint-Watson arrebentando com gosto a boca do balão. Atuações precisas, seguras e afiadas em seus personagens, reforçando sempre aquilo que há de melhor em cada um: a coragem de Harry, a lealdade de Rony e a inteligência de Hermione. O roteiro consegue explorar a sensação de perigo constante em que o trio está se envolvendo na busca pelas horcruxes com perfeição, bem como o senso de urgência ao passo que o poder de Voldemort só aumenta enquanto eles não completam sua missão. A ambientação do longa é espetacular, sendo este o primeiro a se passar majoritariamente fora de Hogwarts, e explora todo um ambiente bucólico britânico e ao mesmo tempo a hostilidade e a opressão de um mundo que vai se tornando cada vez mais desolado e perigoso para os protagonistas, o que também é muito bem retratado pela fotografia do filme. Os efeitos especiais estão incríveis, mas a essa altura, isso vai sem mencionar. Gosto muito de algumas cenas dramáticas, tais como as desavenças entre os protagonistas, que ocorrem devido a influência de uma horcrux, até os ciúmes de Rony por Hermione, mas nenhuma cena me deixa tão feliz neste filme quanto a da dança improvisada de Harry e Hermione, que acontece após Rony abandonar o grupo. Alguns poderiam dizer que isso seria uma tentativa forçada de romance entre os dois, mas isso seria menosprezar demais o drama envolvido. É uma cena fofa, mas também muito tocante, que mostra os personagens buscando alguma forma de catarse e perseverança em meio ao caos. A dança é meio constrangedora, afinal, Harry não sabe dançar, mas isso não é sobre performance, afinal, eles não estão treinando para a dança dos famosos. E para melhorar tudo, a música: é diegética e relativamente melancólica e contém referências ao holocausto, ampliando todo o significado desse momento. A trilha sonora de Alexandre Desplat acompanha muito bem o drama e não se contém apenas homenageando John Williams: aqui escutamos trilhas bem amadurecidas. Também é muito bom rever Dobby (Toby Jones), mas é no mínimo esquisito que ele só tenha voltado a aparecer agora, cinco filmes depois.
Pontos negativos: Como este é o meio de uma "trilogia" de encerramento, que começou lá em "Enigma do Príncipe", fica difícil indicar este filme a quem não esteja maratonando a série ou algo assim. É um longa que vai exigir do espectador bastante conhecimento prévio da obra. Embora o filme seja muito bom dramaticamente, há algumas cenas de humor completamente inexplicáveis, tais como a "morte" de Pedro Petigrew/Rabicho, que é completamente boba e desperdiçada aqui.
"Relíquias Parte 1" pode não ser o melhor dos 8 filmes, mas sem dúvida alguma é um dos mais dramáticos e emocionantes.
Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2 (2011)
Pontos positivos: Dá para dizer que o filme encerra satisfatoriamente a saga. São 130 minutos bem ágeis e que passam voando, ao passo em que você sente que está tudo preparado e no seu devido lugar para o conflito final acontecer, e ele é de fato grandioso. Se o filme anterior foca na luta do trio de protagonistas para achar e destruir as horcruxes, neste aqui o protagonista é a própria Escola de Hogwarts em sua derradeira resistência às forças de Voldemort, e nesse sentido específico, o projeto não decepciona, entregando exatamente isso: toda a escola, entre professores e alunos, se unindo para a batalha final. Neste particular, ver personagens como a Professora Minerva (Maggie Smith), Flitwick (Warwick Davies), Slughorn (Jim Broadbent) e outros tantos finalmente em ação é muito satisfatório. As atuações são muito interessantes e todos os atores estão muito bem, com direito a várias participações especiais (até Sean Biggerstaff, o Olívio Wood, volta aqui), com destaque para Alan Rickman, que fecha com brilhantismo o arco de personagem de Snape. Mas o mais incrível foi a performance de Helena Bonham Carter, que encarna não apenas Bellatrix Lestrange mas também Hermione Granger transformada em Bellatrix. É sensacional ver a veterana atriz interpretando uma adolescente, mesmo disfarçada, e ela não se contém em fazer os trejeitos de uma garota inocente tentando fingir desprezo e psicopatia. Altas gargalhadas. O trio de ouro está melhor do que nunca, com destaque para Rupert Grint, que traz consigo um ótimo alívio cômico quando necessário. Temos ainda uma ótima atuação de Mathew Lewis, concretizando o ato final de amadurecimento de Neville Longbottom, um dos personagens mais carismáticos da franquia, sendo relevante para a queda de Voldemort. A trilha sonora de Alexandre Desplat continua excepcional, com direito a alguns dos melhores temas da franquia inteira e a fotografia mantém o nível do anterior, com bastante equilíbrio entre a opressão sombria pertinente ao mundo bruxo envolto em trevas e o otimismo aventureiro do conflito final. A cena final do filme tem alguns elementos meio constrangedores, mas acaba sendo positivo ver que todos estavam bem após todo esse tempo.
Pontos negativos: É inexplicável que esse seja o filme mais curto de todos. Duas horas e vinte minutos talvez não fossem suficientes para contar esse final. Para uma franquia que já se deu o luxo de ter filmes de quase três horas, dar um gás a mais no capítulo final não seria nenhum grande esforço. Isso dito, o filme comete aquele mesmo erro de se comprimir demais para caber na duração e isso implica em mais cenas com pouca amplitude dramática. Depois de "Enigma", esse talvez seja o filme mais decepcionante em termos de adaptação, já que temos cenas com baixíssimo impacto dramático em relação às suas versões literárias, como o beijo de Rony e Hermione, a morte de Bellatrix e a luta final entre Harry e Voldemort. Como disse no começo desse texto, não precisa fazer igual ao livro, mas já que vai fazer diferente, que faça ao menos mantendo algum nível do drama que tornou tais momentos tão marcantes nos livros. E a resolução final do conflito também acaba sendo prejudicada por este mesmo problema, já que não temos a satisfação de ver Voldemort esticado no chão depois de tanto evitar a morte. Em vez disso, temos apenas uma cena genérica do vilão virando pó em CGI.
No fim, o saldo de "Relíquias Parte 2" é relativamente satisfatório e fecha a saga com dignidade, apesar dos tropeços, e põe fim a uma era com chave de ouro.
Essa foi a retrospectiva dos oito filmes de Harry Potter, pessoal. Espero que tenham gostado dessa longa viagem fílmica.
Depois de todo esse tempo?
Sempre.
Tudo muito bom! Por incrível que pareça (talvez não seja) eu concordo com tudo. Não consigo acrescentar nada! Excelente crítica e análise.
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