sábado, 22 de junho de 2019

Sobre o possível canto do cisne de Vettel

Não acho que Sebastian Vettel vá durar muito mais na Fórmula 1. Ou no automobilismo.

Não me parece absurdo pensar isso.

Não se enganem. Sou fã de carteirinha do tedesco. Torci por ele na Red Bull e hoje continuo torcendo para ele na Ferrari. 

Voltei até a gostar da equipe italiana, pois não me descia Alonso ali dentro.

Vettel é um grande piloto. Fez uma carreira vitoriosa na Fórmula 1. 

Resultado de imagem para Sebastian Vettel 2013Conhecido no começo da carreira como um sujeito muito propenso a erros, ele se tornou um piloto relativamente regular durante seus "anos de ouro".

Nunca foi afeito a esses hábitos contemporâneos de internet. Não usa redes sociais.

Não tem Facebook ou Twitter. Dizem as más línguas que criou um Instagram, mas desconfio da autenticidade.

Seus quatro títulos mundiais, 52 vitórias e 56 poles são um currículo mais do que espetacular. 

Mas os anos seguintes às conquistas do alemão não foram muito gentis.

Em 2014 foi sistematicamente batido por Daniel Ricciardo. O australiano era quase um novato, fazendo naquele ano sua estreia em uma equipe grande. O pior ano do alemão na Fórmula 1.

No ano seguinte, 2015, Vettel foi para a Ferrari. 

Fez um ano excelente, amealhou três vitórias no ano e abriu as especulações para um duelo direto com Lewis Hamilton, seu velho rival de Fórmula 3.

2016, novo apagão. A Ferrari fez um carro ruim. Vettel e seu companheiro, Kimi Raikkonen, sofreram. Nenhuma vitória.

Ao mesmo tempo, Nico Rosberg batia Lewis Hamilton pelo título daquele ano. O canto do cisne de Nico na Fórmula 1.

2017. O caminho para Hamilton se tornar o maior de todos os tempos dentro da melhor equipe da Fórmula 1 estava totalmente aberto. 

Ainda mais com o inexpressivo Bottas como companheiro.

Seu único adversário seria Sebastian Vettel, se - e somente se - a Ferrari acertasse a mão no carro.

E ela acertou.

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Vettel conseguiu resultados muito bons no começo de 2017. Vitórias maiúsculas. 

Parecia que ele tinha de fato um calibre muito semelhante ao de Hamilton.

Mas chegou o GP de Cingapura. E aquela batida bisonha entre Vettel, Raikkonen e Max Verstappen. Naquela noite, Hamilton aproveitou e venceu.

Como também venceu o campeonato. Igualou os títulos do alemão.

2018.

Ferrari e Vettel mordidos pela perda dos campeonatos.

Ferrari novamente acertou a mão. Houve quem especulasse inclusive que a escuderia italiana tinha um carro melhor.

Vettel novamente começou muito bem o campeonato.

Chegou o GP da Alemanha. Sebastian havia partido da pole.

Resultado de imagem para Sebastian Vettel HockenheimringEstava tudo indo bem e a corrida parecia se encaminhar para uma vitória do piloto da Ferrari em casa, diante de sua torcida.

Mas aí choveu.

Embaralhou tudo. Sebastian Vettel, que reconhecidamente um dos melhores pilotos do grid sob pista molhada, simplesmente errou e bateu. Abandonou.


Começou uma rebimboca da parafuseta. Vettel começou a protagonizar pelo menos um erro em cada uma das corridas que disputou até então.

Exceção feita, talvez, ao GP da Bélgica, onde venceu incontestavelmente.

Mas uma sucessão de erros bisonhos do alemão fez com que ele novamente perdesse o título.

Ali não tive mais dúvidas. Não queria reconhecer, mas hoje consigo admitir... 

Lewis Hamilton é um piloto melhor do que Sebastian Vettel.

Objetivamente. E até em números. 

É mais veloz em qualificações, mais consistente em corridas e atualmente erra pouquíssimo. 

E se tornou psicologicamente muito forte após o tombo de 2016.

Devo lembrá-los de que quem ora vos escreve é um de Vettel. E alguém que não vai muito com a cara de Hamilton.

E não tenho problemas para admitir isso.

E chegamos até 2019.

Raikkonen deixou a Ferrari e foi brincar de correr no pelotão intermediário com a Alfa Romeo.

Em seu lugar entrou o monegasco Charles Leclerc. Excelente piloto, que já vinha mostrando a que veio no ano anterior.

Vettel já começou o ano "bem". Bateu nos testes em Barcelona.

O ano começou mal para a Ferrari, ao passo que a Mercedes engoliu praticamente todas as corridas até o momento - todas com dobradinha exceto Mônaco e Canadá.

Leclerc, por sua vez, tem pavimentado de forma quase incontestável seu caminho na Ferrari.

Na primeira corrida já deu canseira no companheiro. Não fosse uma ordem de equipe, provavelmente o teria superado.

No Bahrein já fez uma pole impressionante. Teria ganho a corrida não fosse um problema em seu motor. 

Na mesma corrida Vettel pipocou em uma disputa de posição contra Hamilton e rodou.

Dali em diante estava claro que o tedesco passaria sufoco dentro da equipe. 

Charlinho era bom demais.

Nas corridas seguintes, a Ferrari começou a prejudicar Leclerc nas estratégias. 

Reflexo da péssima e atrapalhada direção da equipe. 

Simultaneamente, Sebastian simplesmente não entregava o que dele se esperava. 

Seu primeiro "grande" resultado do ano acabou sendo o segundo lugar em Mônaco, graças a uma contestada punição aplicada a Verstappen.

E aí veio o GP do Canadá.

Seb brilhou. E brilhou com luz similar à sua época gloriosa. Como há muito não fazia.

Uma pole espetacular.

E iria vencer a prova, não fosse aquele erro. 

Um erro humano e compreensível. 
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Mas um erro. 

Foi punido. Perdeu a vitória. Ficou puto. Com razão.

Ainda assim, cometeu um erro. 

Erros tomam parte muito significante no currículo recente do alemão.

Ao mesmo tempo, Vettel tem se mostrado muito desanimado com a Fórmula 1.

Ferrenho crítico aos regulamentos atuais e aos motores pouco barulhentos desde 2014, ele parece estar começando a ficar realmente de saco cheio.

Já se especulava que ele poderia deixar a categoria ao final do ano.

Se for verdade, a punição em Montreal pode ter ajudado ainda mais nessa vontade.

A qualificação para o GP da França, hoje, pode ter sido mais um sinal dessa indisposição.

Sétimo lugar com uma Ferrari e atrás das duas McLaren é muito pouco.

Não seria realmente um espanto se ele anunciasse a aposentadoria. 

Resultado de imagem para vettel hanna prater weddingVettel já não é mais o mais jovem a fazer tudo na Fórmula 1. 

Tem quase 32 anos. Acabou de se casar. Casou-se, aliás, com Hanna Prater, mulher com quem começou relacionamento desde a escola. Tem duas filhas lindas.

"Amante à moda antiga", dizem.

Enfim. 

Não é mais um garotão de tudo. É um homem feito, com uma família para amar e cuidar.

Tem muitas responsabilidades que vão além da diversão de correr a mais de 300 km/h arriscando o cu em um carro de corrida que quase bate no chão.

Ele se aposentar agora não seria nada absurdo.

E tampouco apagaria seus méritos como piloto.

Não se tornou o melhor piloto de todos os tempos. Nem mesmo de seu próprio tempo.

E nem repetiu os feitos de Schumacher.

Mas escreveu sua própria história no automobilismo. Uma linda história.

Depois de Schumacher, Vettel é e sempre será o meu piloto número 1.

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sexta-feira, 21 de junho de 2019

Sobre gente desmemoriada

"Eu não tenho o menor interesse na opinião do povo. Quase sempre ele está errado. Aliás, a opinião de muito pouca gente me interessa. A democracia sempre foi salva pelas elites e posta em risco justamente pelo “povo”, essa entidade. Vai acontecer de novo."

Reinaldo Azevedo escreveu a frase acima, em seu blog da VEJA em texto entitulado "É Lula de novo com a culpa do povo", 13 anos atrás, quando da reeleição do ex-presidente Lula em 2006. 

Azevedo não é um contumaz defensor da ordem legal e institucional por acaso. Como todo liberal que se preze, é defensor da manutenção do status quo, qualquer que seja. A frase acima é muito sintomática deste fato. Fazendo aqui uma mera suposição hipotética: Apenas imaginem Azevedo sendo um jornalista ancorando um jornal impresso em 1888. Escravidão sendo "abolida" (entendedores entenderão as aspas) e um ano antes da proclamação da república. Será que ele defenderia a escravidão? Será que defenderia a monarquia 1 ano depois? Não seria uma suposição absurda, sendo ele legalista como é.

Esta frase acima, por exemplo, considero de uma maldade explícita. Ora, por uma perspectiva positivista, Reinaldo até estaria certo: sempre foram as elites a protagonizar os grandes acontecimentos políticos do país. Mas pela perspectiva marxista da luta de classes, fica bem mais compreensível o tamanho da crueldade: o povo sempre foi excluído das grandes narrativas positivistas. O povo quase nunca teve vez ou voz nas "revoluções" e quando teve, sofreu violentas repressões por parte do estado.

Que ninguém se engane: considero Reinaldo Azevedo um dos principais jornalistas do país. Apesar das frequentes discordâncias, acho que a coesão de ideias que geralmente pauta seu trabalho só é igualada pela sua extensa leitura e o arcabouço político, jurídico e literário que compõe seus conhecimentos.

Mas muito me preocupa a aparente admiração que certos setores da esquerda parecem estar desenvolvendo pela pessoa do âncora da BandNews FM. Alguns parecem até ter esquecido o tanto que Reinaldo bateu no PT e nas esquerdas (sendo o criador do famigerado termo "petralha").

O trabalho jornalístico de Reinaldo pode estar sendo útil agora contra o lavajatismo e as sucessivas tentativas de ruptura institucional pelo governo Bolsonaro e os desmandos cometidos pela Lava-Jato e seu líder, Sérgio Moro.

Porém, com a devida vênia, é importante lembrar-vos a todos uma coisa IMPORTANTÍSSIMA:

Reinaldo não está fazendo isso apenas porque é "defensor de ideias liberais" e tudo o mais que frequentemente bate no peito com orgulho para dizer. Está fazendo isso porque é um defensor contumaz do status quo, das leis e da ordem institucional, sejam estas quais forem. Fosse essa ordem um instrumento de opressão das classes trabalhadoras (e na verdade, em análise mais profunda, é construída para ser assim) não é muito difícil imaginar que ele a defenderia com unhas e dentes.

Na verdade, até defende. Chamou a polícia para prender a jornalista Anita Krepp em 2014 quando esta cobria manifestações anti-Dilma. O motivo? Nas palavras da própria, ela "estava tirando fotos de um vagão movimentado no qual, por acaso, estava ele". Informação verificável neste link.

E é bem fácil entender porque ele o faria. Afinal, ele disse as palavras com as quais comecei esse texto. Ele não se interessa pela opinião do "povo". Ele não é parte desse povo. É apenas um excelente jornalista do ponto de vista do trabalho que faz (e está fazendo) e que no momento atual, cumpre um papel de suma importância para a democracia, a defesa da liberdade de expressão e da liberdade de imprensa. 

Mas este mesmo Reinaldo "batia" no PT (como ele mesmo diz) tacando um belo de um foda-se para a opinião de gente como você ou eu. O povo.

Essa "falta de memória" da esquerda não é de forma alguma endossada ou patrocinada pelo jornalista: ele sempre faz questão de deixar claro que não virou a casaca. Que continua sendo um autêntico liberal - isto é, com predileções pelo estado de direito burguês - e de convicções bastante conservadoras sobre certas pautas morais, como aborto e drogas por exemplo.

Não percam vossas preciosas memórias em prol de "alianças" frágeis.

Depois que acabar a guerra contra o lavajatismo, Reinaldo vai continuar fazendo o que todo bom liberal faz: defender o lobby da iniciativa privada, privatizações, manutenção da criminalização do aborto, das drogas psicoativas e a famigerada reforma da previdência (que ele já defende com unhas e dentes).

Em última instância, Reinaldo é um dos grandes responsáveis pelo anti-petismo doentio que elegeu Jair Bolsonaro e alçou ao poder a quadrilha que hoje nos governa.

Cooperação consciente, sim. Admiração desmemoriada, jamais.

A frase acima é importantíssima para que a esquerda enxergue Reinaldo como aquilo que ele de fato é, não como gostariam que fosse. E que receba seu apoio contra o lavajatismo, sem esperar nada além disso. Se tem uma esperança que podemos de fato ter a partir da "aliança" com Azevedo, essa sim é a de que pessoas fora da nossa bolha de esquerda venham a enxergar o quanto a Lava-Jato destruiu o país.

¡NO PASARÁN!