Estou há meses sem realmente INTERAGIR em redes sociais.
Facebook e Instagram olho de vez em quando só pra ver como é que tá a movimentação. E tá cada vez pior, então nada de voltar agora.
Daí, estava eu de boa fuçando nas internet e de repente me vem a ideia de olhar o Facebook, pra ver o que tá rolando. Fazia muitos dias que eu nem lembrava disso.
Aí, eu vi essa imagem.
Primeiramente achei que fosse meme da atriz, talvez ela quisesse surfar no sucesso de Capitã Marvel pra fazer algum marketing positivo para a tal comédia que ela iria estrear.
(Apesar de que a montagem ficou, ó, uma bosta)
"De Pernas pro Ar 3", o nome da... obra.
Não sei se obra artística ou obra de cachorro, não fui ver pra saber. Mas dizem as más línguas que foi a segunda opção.
Não duvido, mas também não tenho opinião formada. Há, porém, quem diga que é uma ótima comédia, porém genérica.
Daí eu fui olhar o texto que acompanhava a imagem...
Mas era coisa séria. Ao menos... pretendia.
Dizia: "Super-heroína do cinema nacional. Super-poder: manter filmes nas salas de cinema com filmes falados em nossa língua".
Ainda pareceu meio idiota. Mas depois fui ler as notícias a respeito disso.
"Vingadores: Ultimato ocupa 92% das salas e reacende polêmica sobre o cinema nacional";
"Cinema nacional se vê ameaçado por Vingadores";
"De Pernas pro Ar 3 perde salas para Vingadores";
"Ingrid Guimarães tem prejuízo gigantesco com estreia de Vingadores: Ultimato"
Eu adoro o cinema nacional, deixo isso bem evidente logo no começo.
Não sou um grande entusiasta, mas de vez em quando assisto aos filmes nacionais. as comédias e saio do cinema muito satisfeito, pois são divertidas, apesar de a maioria ser genéricas.
Tivemos um grande respiro na comédia nos últimos anos, com os geniais dois filmes "Cine Holliúdy", do cearense Halder Gomes. Dois ótimos filmes.
Já vi "O Auto da Compadecida", os dois "Tropa de Elite", "Assalto ao Banco Central", "Cidade de Deus"...
E aquele que, a meu ver, é o melhor filme brasileiro que já vi: "Batismo de Sangue".
Vi poucos, é bem verdade. E não vi a maioria daqueles que são de fato tidos como os melhores.
Mas apesar disso, posso dizer que gosto da ideia de o cinema nacional ser incentivado pelo estado.
Não só gosto, mas sob outras circunstâncias, eu até acharia que, até certo ponto, a reivindicação de Ingrid Guimarães a favor do cinema brasileiro estaria 100% correta.
Numa época em que a cultura no Brasil vive um estado de constante ameaça em seus alicerces, com um governo obscurantista que diariamente ataca a educação e a cultura, é necessário manter vozes ativas de oposição e combate a essas forças.
Sou contra acabar com a Lei Rouanet e os sistemáticos ataques aos artistas brasileiros que têm ocorrido nos últimos anos, por parte da extrema-direita que tem tomado conta deste país.
Entre outras coisas nas quais não me alongarei aqui, pois não são o foco do texto.
Contudo... não me parece que o interesse REAL da atriz de "De Pernas pro Ar 3" seja o de defender a cultura e o cinema nacional.
Tanto ela quanto a Globo parecem mais interessadas em defender o sucesso comercial de seu filme, completamente arrasado pelo sucesso dos "Vingadores".
Não a vi se posicionando em apoio a Wagner Moura quando "Marighella", longa do ator-diretor, foi severamente atacado nas redes sociais, por exemplo.
Ao mesmo tempo, a Globo, através de um editorial, lança um texto lamentável falando sobre como o filme da atriz - que por acaso é sua contratada - é um baluarte do cinema brasileiro frente ao filme predador da Marvel, e que o longa dos Vingadores servia unicamente para mostrar como o CGI era foda e tudo o mais.
Pra piorar a situação, o editorial cita a opinião de Ivan Finotti, colunista da Folha de São Paulo, sobre "Vingadores", de que era "o filme mais chato de 2019" (por sinal, uma opinião totalmente isolada entre TODA a crítica especializada).
É... Fica difícil defender quando o texto segue uma linha de pensamento editorial que parece preferir se fechar numa bolha de pensamento, no qual todos estão errados e ele está certo.
E outra coisa... Por mais que eu não seja um cinéfilo, e muito menos um grande entusiasta do cinema nacional, como já disse, há uma coisa que me incomoda bastante nesta seara...
Não há muita variação nos gêneros de filmes produzidos aqui.
Consultando a lista dos 100 melhores filmes nacionais, feita pela Abraccine (Associação brasileira de críticos de cinema)... Vemos um padrão.
Geralmente é drama, comédia e romance.
Dos 100, aproximadamente metade são de drama. 10 são comédias. Apenas 7 são documentários.
De vez em quando filmes de ação e policiais, como os "Tropa de Elite". Suspense, menos ainda.. Teve três filmes de terror, dirigidos pelo Zé do Caixão. Todos dos anos 60.
Recentemente, tivemos uma interessante tentativa de produzir um filme de super-herói brasileiro, com "O Doutrinador".
O filme recebeu diversas críticas mistas, mas o aspecto mais elogiado foi a inovação ao tentar trazer o gênero para terras tupiniquins.
O fato é que talvez precisemos de pessoas dispostas a diversificar o tipo de produções feitas por aqui.
Precisamos de mais filmes como "O Doutrinador" e menos como "De Pernas pro Ar".
Mais filmes autorais e inovadores, que erram tentando acertar em algo genuinamente novo.
Menos comédias genéricas.
Mas tem um aspecto que ainda não abordei nesse texto, e que é essencial para que a minha opinião seja de fato entendida.
Por mais que abracemos com força o idealismo sobre como o cinema nacional pode ser melhor se simplesmente abrirmos "cotas" para filmes nacionais nos cinemas, e eu até concorde com isso em alguns aspectos...
As regras de praticamente todo o mercado capitalista são predatórias. E o cinema não é exceção.
No cinema, contudo, você tem uma maneira de evitar complicações com a arrecadação financeira do seu produto: você pode escolher o timing de lançamento desse produto.
E escolher o melhor momento para lançar um filme pode fazer toda a diferença sobre o sucesso que ele pode vir a ter ou não nas bilheterias.
A própria Disney viveu, 17 anos atrás, situação parecida (em escalas muito diferentes, claro) com a que vive Ingrid Guimarães hoje.
Em novembro de 2002, a empresa do Mickey Mouse decidiu lançar "Planeta do Tesouro", até hoje tido como um dos melhores filmes de animação já feitos. Na mesma época, a Warner Bros lançava "Harry Potter e a Câmara Secreta", segundo capítulo da saga de J.K Rowling.
Arrogante, a companhia do rato achou que seu lançamento, por levar o selo Disney, não teria problemas para bater o filme da rival, que havia sido um fenômeno de público no primeiro filme e prometia ser um novo grande sucesso.
Assim, esta se provou uma péssima decisão estratégica. O longa conquistou as salas de cinema pelo mundo e fez US$ 879 milhões mundialmente, contra apenas US$ 109 milhões de "Planeta do Tesouro".
Hoje a Disney parece ter aprendido sua lição de casa. Timing para lançamento em cinema é TUDO.
Independentemente de qualquer opinião que você, eu ou qualquer outra pessoa possamos ter, o fato é que Vingadores: Ultimato é o maior evento da história do cinema. É o ato final de um universo cinematográfico que demorou 11 anos para chegar em seu ápice.
Que reuniu todo um público cativo e apaixonado ao longo de todos esses anos. Pessoas que brigaram para assistir o filme nos primeiros dias, mesmo após a estreia.
Nas salas lotadas, o público transformava o local em arquibancada de estádio e as emoções tomavam forma nas reações dos espectadores conforme o filme ia se desenrolando.
Sob QUALQUER circunstância, a disputa para outros filmes FATALMENTE se tornaria desleal. Com cotas ou sem cotas para qualquer filme, de qualquer nacionalidade. E isso deveria ser encarado naturalmente.
Até Shazam, filme recente da DC Comics/Warner, sofreu os efeitos da concorrência com "Ultimato". Nenhuma surpresa.
Manter qualquer filme em evidência num cenário como esse, quando você tem que disputar contra todo um evento cinematográfico, seria tarefa ingrata.
E todo mundo sabia disso.
Os estabelecimentos de cinema, que não são bobos, muito menos. Após perceberem o tamanho do impacto financeiro que teria a arrecadação de "Vingadores", salas que seriam de "De Pernas pro Ar 3" e provavelmente até de "Shazam" e de outros filmes, foram realocadas para o filme da Marvel.
E isso aconteceu em TODO O MUNDO. Não apenas no Brasil.
Mas a "super-heroína" (tsc) Ingrid Guimarães discorda.
Porque acha que seu filme, uma comédia nacional genérica, deveria conseguir disputar com o maior evento cinematográfico de todos os tempos.
Em igualdade de condições.
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