quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Sobre a relutância em ser razoável



Antes de qualquer coisa: Eu não queria falar sobre esse tema no Facebook, aqui no blog ou onde quer que fosse.

É um tema desgastante, em todos os sentidos. Pessoas se estressam, desfazem amizades, agridem verbal e moralmente os outros e por aí vai.

Inclusive, pensem na estrutura desse texto como um prolongamento da ideia proposta no título. Ao longo de todas estas linhas, tentei ser o mais razoável possível, dentro das circunstâncias.

Não é outro daqueles textos que começam com "precisamos conversar sobre" e não querem conversar sobre porra nenhuma, só impõem conceitos. 

E não se propõe a apresentar a verdade sobre os temas discorridos, mas sim tão somente a perspectiva do autor. No caso, eu.

Isso posto, vamos ao batente.

Andei observando atentamente o circuito de debates e discussões nas redes sociais sobre feminismo e os sexismos, inflamado pelo tema da redação do ENEM e também pela questão que tratava sobre a ideologia de Simone de Beauvoir, retratada no trecho de "O Segundo Sexo", da autora francesa.

Acredito ser relevante falar de violência contra a mulher, uma vez que esse tipo de violência é recorrente Brasil afora. Mulheres continuam sofrendo bastante com violência de vários tipos, sendo a doméstica a mais recorrente.

Embora fosse muito interessante se surgisse alguém com a ideia de redigir uma redação contendo críticas contundentes à discriminação sofrida por mulheres transsexuais dentro do movimento feminista, por exemplo. Ou à violência doméstica entre casais lésbicos.

Já a questão sobre Beauvoir, para mim, nada mais foi do que uma questão de história. Quem não soubesse, se ferrava. Simples assim. Sem falar que as ideias de Beauvoir pouco tem a ver com o feminismo na forma atual em que este se apresenta.

Posso supor, e algumas amigas feministas até concordariam comigo, que a maioria das moças ditas feministas hoje sequer tocaram um livro de Beauvoir. Para ser prático, fiquemos no exemplo d'O Segundo Sexo.

Pergunte para qualquer feminista hoje sobre qualquer obra de alguma teórica social/feminista que ela tenha lido.

Poucas irão responder "Segundo Sexo, de Simone de Beauvoir". Pouquíssimas, arrisco dizer.

E isso que existem DEZENAS de autoras feministas, com trabalhos datados de quando o movimento explodiu no século XX e que constituem o arcabouço teórico do feminismo em sua base intelectual. Assumo que só conheço em algum nível a autora francesa já citada, mas sei um pouco sobre a classificação das fases do movimento feminista.

Eu arriscaria dizer, sob risco de errar, que o que se tem por feminismo hoje é um arremedo da Terceira Onda Feminista.

Aliás, o que se tem por intelectualidade feminista hoje? Anita Sarkeesian? Lola Aronovich?

Entre outras coisas, vejo muitos extremismos nos discursos ditos feministas hoje. Por exemplo...

Homem: quero ser feminista!
Mulher: só mulheres, querido. Homem não pode dar pitaco em feminismo.

Mulher branca: quero lutar pelos direitos das mulheres negras no feminismo!
Mulher negra: Só mulheres negras, querida.

Emma Watson: Por um feminismo que una todas as mulheres e que não lute contra os homens, mas que lute pela igualdade de direitos entre homens e mulheres!
Femistas: Para de dar biscoito pra macho (sic), querida.

E, entre outras coisas, leio "No utherus, no opinion".

Mas essa restrição não é feita para homens que concordam com as ideias, só para os que discutem ou rechaçam de alguma forma.

Não tá fácil lidar com essa segregação dos vieses e nuances do movimento feminista, que parece estar se implodindo aos poucos por isso.

Não há igualdade de direitos sem diálogo.

Não há.

Os argumentos estão fraco, fundamentados de forma intelectualmente pobre. Isso quando não são falaciosos. 

Aliás, as falácias são o mais podre do que se tem por argumentação hoje, sendo o famoso "Argumentum Ad hominem" o mais frequente.

De um lado, temos "para de mimimi", "femimimista", "isso é falta de rola", "isso aí é besteira, tem coisa mais importante pra se preocupar".

Do outro, temos "cala a boca macho", "macho não tem que dar pitaco", "male tears", "iuzomismo", "amigxs unidxs" etc.

Isso quando não há a tentativa de encerrar o debate no grito, com frases como "não dá pitaco em opressão que você não sofre", ou - para não ficar batendo só em um lado - "vai caçar uma rola para chupar".

Debate se faz com ideias, não necessariamente apenas com vivências ou, como é de costume, com censura das opiniões inconvenientes.

As ideias feministas tem que se transpor por meio do debate intelectual sério e de alto nível, não pela gritaria e o destilamento de falácias.

O mesmo vale para o contraponto às formas atuais de se fazer feminismo. Chamem do que quiser, "humanismo", "masculinismo", "machismo".

Deixo claro que não sou feminista, mas também não sou contra a ideia-raiz do feminismo. 

Se eu tivesse 22 anos em meio aos movimentos feministas do século XX, provavelmente estaria lá junto às moças, apoiando o movimento em sua primeira ou segunda onda.

É preciso razoabilidade em tudo que fazemos na vida. 

Ainda mais quando a tendência vigente é emburrecer o discurso. 

Isso acontece em várias dicotomias, na verdade. 

Na do feminismo/femismo vs machismo/masculinismo, isso é ainda mais gritante.

Sejamos razoáveis, meu povo. 

Cheirunda.


Quem for discutir sobre o texto nos comentários, pode opinar se eu estou errado e explicar os motivos, mas não aceitarei argumentos falaciosos como "você é homem e não deveria estar falando sobre feminismo" ou "cala a boca macho", etc. Não quero sabotagem emburrecedora de discussões aqui. Apago mesmo. O blog é meu, escrevo o que quiser e não sou obrigado a ler coisas idiotas.

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