Hoje, tive vontade de fazer uma crônica sobre o texto "Senna não é Pelé (ainda bem!)", escrito pelo professor de línguas Marcel Pilatti e publicado no Jornal Opção. Link aqui para quem quiser lê-lo. E como este texto é uma crítica ao artigo de Ademir Luiz, colocarei também link para o texto do historiador, aqui.
Eu concordo com muitas coisas desse texto e posso dizer que ele reiterou algumas coisas que eu já pensava, principalmente a respeito da vida pública de Pelé fora dos campos de futebol. O texto objetiva tecer uma crítica a outro artigo, "Senna não é Pelé", de autoria do historiador Ademir Luiz. Mas pessoalmente, não o vejo como uma crítica, mas como um texto complementar, de certa forma.
De fato, Senna é adorado no mundo todo não apenas como personalidade esportiva, mas também como benfeitor. Porém, é errôneo dizer que Ademir atribuiu à Rede Globo ou a Galvão Bueno - até porque a única menção feita à emissora carioca no texto de AL foi numa figura de linguagem envolvendo o Globo Repórter, programa da emissora - a função de criadores de um "suposto" (para o autor do texto) produto de marketing.
Sabemos que houve e há participação da TV, sobretudo a brasileira, na criação e consolidação da imagem do Mito Senna. E o mito não é só impulsionado pela TV, mas também ajudado a se propagar e consequentemente se perpetuar por gerações - ou não. No caso de Senna, o mito de fato se propagou pelo mundo todo e persiste até os dias de hoje, existindo milhares de homenagens e biografias do brasileiro pelo mundo afora.
Porém, como dito antes, não há a redução da imagem de Senna a um mero produto de marketing por Ademir e ele não desconsidera a extensa legião de fãs do brasileiro no exterior. O problema citado pelo historiador em seu texto é que no Brasil a coisa aconteceu de modo muito avassalador, a ponto de serem constantemente vetadas as críticas ao brasileiro por fãs brasileiros de Senna, em geral extremados.
É compreensível que uma das prováveis consequências seja que o torcedor brasileiro, acostumado às vitórias durante os anos 70, 80 e começo dos 90 e posteriormente órfão de grandes nomes no automobilismo - excetuando-se os brilharecos de Rubens Barrichello e Felipe Massa - tenha ficado impaciente com a participação do país na Fórmula 1.
Mas não é possível eximir a Rede Globo ou Galvão Bueno da responsabilidade sobre a proporção que isso tomou, pois de fato o narrador - assumidamente um vendedor de emoções - e a emissora assumiram papeis importantes nesse processo. Aliás, é comum ver a Globo dando voz a somente uma perspectiva em várias situações. O exemplo mais recente disso foi quando transformou o filme sobre Tim Maia em um docudrama, invertendo a ordem de várias cenas e possibilitando que a história contada no filme fosse mutilada. Quando se fala de Senna em praticamente qualquer produção encomendada/encabeçada pela emissora, só se permite que se fale bem. E qualquer coisa ruim que Ayrton possa ter feito, para a emissora, sempre tem uma explicação plausível.
Sabemos também que Senna tinha exclusividade da TV Globo para entrevistas durante os finais de semana de corridas da F1 - vide contrato de Ayrton na Lotus, publicado na internet pelo site Legacy Tobacco Documents Library em julho de 2013.
E de fato quando aparecia na telinha do plim plim, o brasileiro aparecia exatamente como descreve Pilatti em seu texto: como alguém que se fez mitificar "na conjunção de pelo menos três fatores: 1) o carisma natural, o dom de comunicação e expressão de cada um; 2) a boa imagem pública cultivada [...] obviamente impulsionada pela televisão; 3) os êxitos e as capacidades em suas áreas profissionais."
Mas será que Senna era exatamente como se pinta tanto pelos próprios fãs quanto pela exata conjunção dos tais fatores citados pelo autor? A jornalista Alessandra Alves discorda, em textos publicados aqui e aqui.
"Acompanhei os primeiros anos de Senna como entusiasta de automobilismo. Os últimos, como repórter. Preferia ter ficado só com a primeira parte. Talvez uma das maiores decepções que tive foi conhecer Senna pessoalmente. O herói obstinado e patriota que nos surgia na TV era habitualmente arredio e descortês longe das câmeras. Problema meu, eu diria, pois, apesar de minha mãe certamente achar o contrário, nem todos precisam me tratar bem. Mas comecei a sentir que o problema não era só meu quando passei a ligar alguns pontos.
Senna dava respostas enviesadas e não escondia o mau humor até acender-se a luz da equipe da TV Globo, detentora dos direitos de transmissão da Fórmula 1 desde o paleolítico. Neste instante, como por mágica, sua fisionomia se transformava e então eu reconhecia o herói obstinado e patriota da minha adolescência. Vi a face do mito e logo entendi por que meus colegas mais experientes costumavam ser tão detratores em relação à postura do piloto."
Pilatti finalizou seu artigo reiterando que Ademir teria reduzido Ayrton a um mero produto de marketing e citando a célebre frase, proferida por Abraham Lincoln: “É possível enganar parte do povo, todo tempo; é possível enganar parte do tempo, todo o povo; jamais se enganará todo o povo, todo o tempo.”
Eu concordo, em termos.
Mas já se passaram mais de 20 anos da morte de Senna e o mito prevalece. O mito.
Lembro que quando era pequena e havia retrospectiva sobre o Senna, meus pais ficavam ligeiramente atentos! Quem falasse mal do mesmo ia levar umas certas verdades * moralistas * nacara, na medida em que cresci pude perceber assim como tantos outros que Senna era mais fantoche que qualquer outra coisa. Ele pode ter sido um ótimo piloto (tenho duvidas), mas com certeza, o que sua imagem montou como herói de uma nasceu foi hediondo. A globo faz de quem ela acha que vai ser um sucesso, um verdadeiro sucesso, ainda hoje a emissora tem um monopólio incrível de mentes e manipulações. A grosso modo, Roberto Carlos é um Senna também.
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