terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

ARLEQUINA: AVES DE RAPINA - CRÍTICA

       
Resultado de imagem para arlequina aves de rapina

         Quatro anos atrás, quando do lançamento do péssimo “Esquadrão Suicida”, muitos cantaram a pedra de que a Arlequina de Margot Robbie, entre poucas coisas a serem aproveitadas, era a que mais tinha potencial para futuros projetos. Eu incluso. Chegou 2020 e com ele, “Arlequina: Aves de Rapina”, produzido e estrelado pela atriz, mostrando que essa previsão foi mais do que acertada.

       “Aves de Rapina” tem definido um objetivo muito evidente. Nada de rachar a cuca com um roteiro cabeça e sair pensando sobre um filme super complexo. O negócio sentar a bunda na cadeira, gargalhar, se emocionar e, principalmente, se divertir. E esse objetivo foi mais do que bem-sucedido. O longa é engraçado, ágil e super eficiente em tudo o que entrega, contando com uma direção segura e um roteiro simples, mas bem escrito. A formação do grupo principal não passa por grandes firulas: elas se veem encurraladas, entendem que têm melhores chances se unindo e trabalham juntas, sem aquela costumeira enrolação de filmes de origem.

  No elenco, temos Margot Robbie, ainda mais à vontade no papel da personagem-título, numa atuação que dispensa maiores apresentações. É a Arlequina, mais pirada do que nunca, dando seus pulos pra ganhar a vida e tentar ser uma pessoa melhor. Daqui em diante, é impossível não fazer menções aos materiais-base do filme, que são as histórias em quadrinhos. Como inquestionável e intransigente fã da Harley e de seus quadrinhos, me senti MUITO contemplado pela representação da personagem. Ela é um retrato perfeito de sua contraparte da nona arte, sobretudo da fase dos Novos 52 em diante, onde ela corta relações com o Coringa e muda radicalmente de vida. Temos também altos momentos de quebra da quarta parede, com a personagem não apenas narrando a história para o espectador, mas também se dirigindo para a câmera. É como se a personagem estivesse sentada com uma amiga, desabafando e chorando as mágoas. Com tudo isso, fãs de quadrinhos não têm do que reclamar, tirando uma coisa ou outra, está bem fiel.

        O elenco das heroínas é bem diverso em termos étnicos, o que é um bom aspecto a ser pontuado. E todas estão muito bem em seus papeis, ainda que obviamente o ponto central da trama esteja na personagem de Robbie. Ewan McGregor faz o vilão, Roman Sionis/Máscara Negra e está ótimo no papel, cheio de trejeitos e de um carregado estereótipo psicopático/misógino. Apesar disso, vemos uma complexidade no personagem, e que pode ser chamariz para uma discussão: há fortes indícios de que o personagem seja homossexual – falaremos disso daqui a pouco. Gostei também bastante da apresentação do vilão Victor Zsasz, um dos meus personagens favoritos dos quadrinhos/jogos. 

       É pertinente reservar algumas linhas desse texto para falar sobre uma nuance muito importante deste filme: a forma como ele apresenta, ainda que sob as grossas camadas do humor e da violência, algumas mensagens poderosas sobre emancipação feminina. O filme não é uma lacrosfera, longe disso na verdade. Não temos grandes discursos expositivos sobre machismo e nem uma protagonista gritando o tempo todo que pode ser importante e que não precisa provar nada a homem algum, como Carol Danvers no filme da Capitã Marvel. Por outro lado, temos a Arlequina, destituída de seus “privilégios” por ser mulher do Coringa, sendo considerada um alvo fácil para todos os outros vilões de Gotham. Ela precisa provar para si mesma e para salvar sua própria pele que ela é uma pessoa independente e capaz de se defender sem o Coringa, e assim o filme traz a questão da emancipação de maneira bastante orgânica. Outro ponto a comentar é a suposta homossexualidade do vilão: Sionis, aqui, é retratado como um terrível misógino, o que toca em uma discussão que não é tão frequente nas rodinhas: gays também podem ser (extremamente) machistas.

     Não há como falar deste longa sem mencionar um fato preocupante: a bilheteria O filme infelizmente pecou muito no marketing, ao não deixar exatamente claro, com o título, que história estava vendendo. Não se sabia exatamente se seria uma história da Arlequina ou das Aves de Rapina. E é sentida aqui também a falta de um Batman no Universo Cinematográfico da DC, pois um filme sobre personagens diretamente ligadas ao universo do homem-morcego sem o ter como possível chamariz. Isso provocou uma bilheteria decepcionante na primeira semana. É preocupante, porque infelizmente sabemos como a bilheteria pode influenciar de forma extremamente negativa sobre a (des)continuidade de um filme. E este filme, definitivamente, merecia um desempenho melhor.

Nada disso diminui o brilhantismo de “Arlequina: Aves de Rapina”. É um filme que cumpre o que promete: Uma aventura despretensiosa e bem divertida.

Nota: 8,5