domingo, 15 de setembro de 2013

Minha análise do filme RUSH


Pois bem, como o próprio título já deixa subentendido, fui assistir ao filme "RUSH - no limite da emoção" no cinema. Eu o fiz nesta sexta-feira, como um esforço para ter um assunto abundante para comentar aqui na coluna semanal que escrevo para este site. Como brinde, me dei o luxo de adquirir o livro "Corrida para a glória", do jornalista Tom Rubython. Esse tipo de livro eu tenho uma facilidade bem maior para ler (e entender, porque há pessoas que dizem ler livros rapidamente, mas apenas para dizer que leram; algumas não entendem a história) do que os outros tipos.


Sem mais rodeios, vamos ao filme. Eu gostei. É bom, mas nada mais do que bom. O longa é feito para agradar os fãs de Fórmula 1 e até os que não são fãs de corridas de carro. Os diálogos engraçados e os constantes choques de personalidade entre os personagens principais, James Hunt e Niki Lauda, prendem a atenção do espectador, goste ou não de automobilismo. As cenas de ação nas pistas são bem dinâmicas. Ah, e os atores Daniel Brühl e Chris Hemsworth (em especial, Brühl) foram um assombro na interpretação dos dois campeões mundiais.


Em conversa com uma amiga, refleti sobre um aspecto intrigante de RUSH: Há pitadas de moralismo. O certinho (Lauda) contra o maluco (Hunt). E então, me veio à tona uma aula que tomei na semana passada: uma discussão sobre a utilização dos filmes como documentação histórica. Eu sei, é errôneo, uma vez que, na minha opinião, RUSH não se propôs a reproduzir a história de uma forma fidedigna (a rivalidade - sic - entre Lauda e Hunt deixa isso bem claro). Porém, um dos resultados dessa discussão nos será muito útil na progressão desta coluna. Vejamos:

Para a análise de um filme como este, é interessante que nós observemos com calma o momento histórico em que ele foi produzido e que façamos uma relação entre ele e o momento histórico retratado no longa de Ron Howard. Estamos em 2013, e o filme lançado retrata os anos 1970, em que eram bastante comuns os pilotos que gostavam mais das diversões noturnas, que não davam tanto de si durante as preparações, nos intervalos entre uma corrida e outra, etc. Niki era uma espécie de prenúncio do tipo de piloto que começaria a ser uma constante mais para o final dos anos 80 e início dos 90. Foi um piloto dedicado e que ia muito além de apenas sentar no carro e acelerar. Seu envolvimento com a equipe era visceral nesse aspecto (não que ele fosse único entre seus pares neste; Fittipaldi, se bem me recordo, também tinha uma espécie de "bunda de veludo") Além disso, tinha uma vida toda regrada. Casado, era fiel à esposa e não se permitia o luxo das diversões noturnas, das quais Hunt era frequentador assíduo.

Com o tempo, outros pilotos que seguiram esse viés surgiram até o ponto de se tornarem o modelo a ser seguido pelos outros: Ayrton Senna, Alain Prost, Michael Schumacher e, mais recentemente, Sebastian Vettel). Estes caras tem um Q a mais que os demais em termos de desempenho. Ao meu ver, entre esses, Michael foi o maior exemplo: Preocupado com a saúde física e mental, visceralmente envolvido com a Ferrari no sentido de melhorar o desempenho do carro e de colocar ordem na casa, em apenas quatro anos, o alemão levou a equipe ao topo, e lá ele a manteve durante mais quatro anos, de maneira esmagadora.


Pois bem, voltemos ao filme. A rivalidade entre James Hunt e Niki Lauda é, sem dúvida, o ponto forte do longa. Chamavam um ao outro de "cretino" constantemente, e Hunt constantemente se referia a ele como "o chucrute" entre os seus. Esse talvez tenha sido o maior problema, e o que mais desagradou o público "saudosista", mais conhecedor da história da F1, em especial aqueles que "viram tudo ao vivo". A rivalidade entre os dois, se existiu, não foi tão forte quanto aquela que RUSH mostrou. O campeonato de 1976 era amplamente dominado pelo austríaco da Ferrari antes do acidente sofrido em Nordschleife, na Alemanha. Quem sabe o que teria acontecido se ele não tivesse sofrido o tal acidente? Nem eu, nem ninguém. Mas é possível crer que o inglês da McLaren venceria tantas corridas em conjunto com uma série de abandonos de Lauda desde então? Se não fosse impossível, acho que seria bastante improvável.

Comparativo: Brühl encarnando Lauda pós-acidente. A semelhança é bastante forte

Nas nove primeiras corridas, Lauda somou 61 pontos (cinco vitórias, dois segundos lugares, um terceiro e um abandono), contra 26 de Hunt (duas vitórias, um segundo lugar, um quinto e quatro abandonos e uma desclassificação). Naquele momento, tudo ia a favor do austríaco. Com apenas sete corridas faltando, seria fácil para Lauda apenas adotar a tática de administrar os resultados que precisaria ter para arrebatar o segundo título consecutivo. O acidente, portanto, se não lhe minou as chances de vencer o campeonato, deixou Hunt chegar para a forra. Mas Lauda não voltou o mesmo após o ocorrido. Ficou três corridas fora do jogo e abriu espaço para Hunt finalmente entrar, de fato, na briga pelo título. Doutra forma, alguém acredita que Hunt chegaria, sendo Lauda um piloto tão cerebral e não tendo perdido três corridas em sequência (contando com o acidente na Alemanha)? Não sei vocês, mas eu acho que não.

OK, aqui fecho o parêntese da análise da rivalidade exacerbada no filme para a abertura de um outro. O Brasil é retratado em dois momentos distintos neste filme. Quando Hunt vai para a McLaren, o pessoal da McLaren fala que precisava compensar a saída de Emerson Fittipaldi, que havia ido para a Copersucar, referindo-se ao piloto e à equipe brasileiros como, respectivamente, "Fuckingpaldi" e "Coperfuckingsucar". Se aquilo já me fez pensar sobre a referência à imagem errônea que se tem do país como "inferior" (não sei se é complexo de vira-lata meu, mas senti-me um pouquinho mal), imaginem quando chegamos ao GP do Brasil de 1976, que abriu aquela temporada. Moças seminuas dançando samba no "país tropical e abençoado por deus"... Sei não. Não se pode dar o veredito acerca da intenção dos cartolas responsáveis pelo filme assim de bate-pronto, de modo que chamo-os aqui para uma reflexão sobre qual poderia ter sido a tal intenção de mostrar o Brasil dos anos 70 assim.


Digo-lhes o seguinte, porém: Vão assistir RUSH. Quem não ligar para isso (eu não liguei enquanto estava assistindo, pois já tinha uma ideia do que esperar do longa), que vá e se deleite. É um filme divertido e raro. Raro, sim, afinal, películas sobre automobilismo são um espécime absolutamente incomum. Sua produção certamente foi bastante cara (e causticante. Imagina o que devem ter gasto com cenas produzidas em computador, pagamentos de royalties por direitos autorais e de imagem, liberação dos carros pelas respectivas marcas e etc e tal). Estou feliz por terem produzido um bom longa e feliz pelas atuações de Hemsworth e Brühl. Acho que vocês irão gostar, como eu gostei.

Abraços a todos!

Nenhum comentário:

Postar um comentário