sexta-feira, 29 de julho de 2022

Afinal, qual é a de Lance Stroll?

 Acompanho relativamente de perto a carreira de Lance Stroll na Fórmula 1 desde 2017, e sinceramente, já estava há alguns anos matutando a ideia de escrever um texto a respeito. Não o fiz antes porque hoje em dia a Fórmula 1 não ocupa mais do meu tempo e foco do que deve, ou seja: assisto umas corrida, falo umas groselha no twitter com a galera e é isso. 

O típico mauricinho

A princípio: Stroll é filho de bilionário, é usufrutuário deste fato e bilionário tem mais é que se foder. Ponto. 

Para ser sincero, nunca fui com a cara dele. Parece alguém de fácil convívio, e um cara bacana para se tomar umas breja, se você desligar um pouco o cérebro e pensar mais superficialmente.

O canadense é bem diferente de figuras bufonas como Nikita Mazepin, que parecem não ter real interesse em aprender com quem sabe do riscado e acham que são deuses na terra porque estão pagando pela aventura, ou de Nicholas Latifi, que parece mais um gentleman driver do que qualquer outra coisa. Stroll tem algum nível de sportsmanship, por menor que seja, e parece querer traçar um caminho bem-delineado no esporte rumo aos louros.

Mas a aura dele não bate com a minha de jeito nenhum, tem um aspecto todo "pay-driver" intrínseco à sua trajetória, embora esta não seja muito convencional para pay-drivers. 

E me parece que, para além do desempenho medíocre, Stroll não é o tipo de figura que move paixões, levanta torcidas ou tem muito apelo na mídia. É um daqueles típicos pilotos meia-boca que, se não fosse pelas circunstâncias únicas que permeiam sua carreira, já estaria fora da Fórmula 1 faz tempo.

Aqui uma ressalva: "pay-driver" não é uma definição que se basta em si mesma. Outros pilotos pagantes já fizeram/fazem boas carreiras na F1. É o caso, por exemplo, de Sergio Pérez, que começou bancado pelo bilionário Carlos Slim e hoje é piloto da Red Bull. 

Para começar, quase todo o caminho de Lance nas categorias de base foi marcado por presepadas, seja acidentes de pista ou controvérsias de bastidores, o pai praticamente comprando a estrutura de uma escuderia inteira (no caso, a Prema, que hoje é uma potência no automobilismo de base), ou falcatruas envolvendo companheiros de equipe que facilitavam para ele. Apesar disso (ou talvez por causa disso, você decide) Stroll foi campeão da Fórmula 4 Italiana e da Fórmula 3 Europeia.

O canadense chegou na Fórmula 1 com um aporte financeiro gigantesco do papai.

Lawrence Stroll, pai de Lance, enfiou uma burra de dinheiro na Williams (time de estreia do moleque), botou o garoto pra andar com carros alugados em pistas particulares, ganhar quilometragem a dar com com o pau, enfim, fez a porra toda pra ver se o filho ao menos não passava vergonha.

Todas as informações acima podem ser encontradas com mais detalhes neste texto AQUI, do excelente blog Bandeira Verde.

De lá pra cá, vamos ser honestos, Stroll nunca, NUNCA impressionou ninguém. À parte de uma pole-position improvável no GP da Turquia de 2020 e de três pódios circunstanciais (dependentes de fatores externos extraordinários), nunca fez grandes resultados e ficou atrás de quase todos os companheiros de equipe que teve em suas temporadas disputadas. 

Uma rápida passada de olho numa tabelinha, para propósitos comparativos, a quantidade de pontos de Stroll e a de seus companheiros de equipe nas respectivas temporadas:

2017 & 2018 - Williams:

Lance Stroll 40 x 43 Felipe Massa

Lance Stroll 6 x 1 Sergey Sirotkin

2019 & 2020 - Racing Point

Lance Stroll 21 x 52 Sergio Pérez

Lance Stroll 75 x 125 Sergio Pérez

2021 & 2022 - Aston Martin:

Lance Stroll 34 x 43 Sebastian Vettel

Lance Stroll 4 x 15 Sebastian Vettel

É bem verdade que em quase todos esses anos, o canadense lutou contra pilotos bem mais experientes, mas não me parece ter aprendido muitas coisas ou evoluído de 2017 para cá. Causava acidentes bizarros naquela época, causa hoje. 

A curva de aprendizado de Stroll é uma montanha russa. Quando parece que vai, não vai. Quando parece que não vai... aí é que não vai mesmo. 

Neste ano, ainda se viu sendo superado em ritmo de classificação no Bahrein por Nico Hulkenberg, que nunca tinha sequer sentado no carro e que substituiu Vettel (na ocasião, com Covid-19). Naquela ocasião, Hulkenberg tinha passado algo em torno de um ano e meio sem pilotar um F1.

O episódio constrangedor rendeu críticas de Ralf Schumacher: "quando alguém que não guia há um ano e meio, entra e é três décimos mais rápido do que você imediatamente, deve-se pensar muito bem se está fazendo tudo bem".


Bateu com Latifi em 2022 na Austrália,
de jeito bem parecido

Em 2017, bateu com Vettel na Malásia
 após a bandeirada







Stroll está no curso de sua sexta temporada completa e, sejamos francos, ele ainda parece um novato, continua tendo desempenhos fracos diante de companheiros de equipe e mesmo quando teve um bom carro nas mãos, nunca saiu do mediano.

 Acredito, por exemplo, que já esteja mais do que evidente que Lance não está no páreo dos melhores de sua geração.

Enquanto nomes como Max Verstappen, Charles Leclerc, Lando Norris e George Russell (que são da mesma faixa etária) já são estrelas do esporte e comprovadamente talentosos, a cada ano que passa fica mais claro de qual material o canadense é feito, e certamente não é o de um campeão.

É curioso, também, ver a disparidade entre a trajetória do canadense nas bases e a que constrói no certame máximo: se numa Fórmula 3 da vida parece suave um papai de açúcar comprar um time e forçar companheiros de equipe a serem bonecos de mamulengo para fazer o filho parecer fodão, na Fórmula 1 nada disso parece muito fácil. E acredito que estejamos vendo isso na prática.

(Até porque na Fórmula 1 não dá pra obrigar um Sergio Pérez ou um Sebastian Vettel a fazer as vezes de escudeiro que Nick Cassidy ou Maximilian Gunther faziam na Fórmula 3, risos)

É mais do que óbvio também que, assim como Mazepin, ninguém na Fórmula 1 realmente engole Stroll a não ser pelas quantidades exorbitantes de dinheiro que seu pai investe nos times pelos quais passa. 

O canadense parece ter trânsito melhor no certame e certamente tem um pouco mais de talento do que o russo. Mas sejamos francos... 

Num páreo com Nick de Vries, Oscar Piastri, Felipe Drugovich e outros talentos jovens BABANDO por uma vaga, alguém duvida de quem realmente sairia da Aston Martin, caso Vettel não se aposentasse e, principalmente, Lance Stroll não tivesse cadeira cativa?

De onde você menos espera... é daí mesmo que não vem merda nenhuma.

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